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Onda de fusões e aquisições pode criar canibalismo na área educacional

Por Reginaldo Gonçalves (*) | 06/10/2013 13:36

A recente aquisição das Faculdades Metropolitanas Unidas - FMU - não é novidade. Há algum tempo, a entidade vem sendo pressionada pelo próprio mercado a mudar seu perfil que antes era preocupação com o público A e B, principalmente daqueles que não conseguiam ter sucesso nos vestibulares da USP, PUCSP e Mackenzie, sendo as duas últimas, como instituições privadas, as principais concorrentes diretas.

Forte pressão de mercado, redução significativa de alunos (principalmente a partir de 2006 quando a concorrência acabou sendo mais forte) e o agravamento da economia internacional levaram a FMU a buscar novas estratégias, inclusive para manutenção do fluxo de caixa.

Assim, a instituição voltou-se para os públicos C e D, tornando as mensalidades mais coerentes e acessíveis aos alunos pertencentes a estas classes econômicas. Houve uma redução de, aproximadamente, 25%.

Essa estratégia só viabilizou-se graças à contratação de executivos da Uninove. Estes profissionais não só conseguiram tirar a instituição da estagnação, como aumentaram, significativamente, o número de alunos nos diversos campi espalhados pela cidade de São Paulo. O faturamento médio projetado anual é de R$ 450 milhões com um número aproximado de alunos de 90 mil.

A estratégia de aumento de alunos, segundo ex-funcionários, nunca foi de interesse do fundador Edevaldo Alves da Silva. Por outro lado, os sinais da efetiva venda da instituição sempre estiveram claros: toda a estratégia efetuada no aproveitamento máximo do campus, aliada à contratação dos executivos, já apontavam para isso. Até porque, as compras recentes têm como base o contingente de alunos a um valor que varia entre 7,5 a 10 mil, além de considerar a marca, potencial de faturamento futuro e as contingências fiscais e trabalhistas.

A compra pela Laureate, atualmente com cerca de 750 mil alunos em 29 países, vem buscando alternativas de investimento, mas, de maneira diferente de outras instituições privadas como a Kroton (que recentemente incorporou a Anhanguera) e a própria Estácio e a Abril Educação (que buscaram através da BOVESPA capital mais barato para fazer as aquisições de diversas instituições).

O problema é que as aquisições na área educacional, principalmente direcionadas aos públicos C e D como alternativa de massificação de estudantes em sala de aula, aproveitando ao máximo a exploração do custo fixo, começa a deixar uma dúvida que já está evidente. A competição precisa buscar a maior sinergia possível e aproveitamento em sala de aula, com os salários dos professores cada vez mais achatados. Assim, professores especialistas, mestres e doutores que, por sua capacidade profissional, têm, necessariamente, maiores salários, deixam de ser contratados em número suficiente.

Os investimentos são mantidos no mínimo possível, apenas para atender às exigências de manutenção do funcionamento dos cursos em geral.

A preocupação da aquisição dos grandes grupos é a canibalização de ensino, com aulas customizadas e com prejuízos à aprendizagem, em virtude da busca, cada vez mais acirrada, de resultados para remunerar os investidores.

A questão custo x investimento acaba sendo um dos focos utilizados nas estratégias de grandes grupos para maximização do lucro. Deste modo, os investidores estrangeiros estão sempre de olho nas novas perspectivas de investimento na área educacional no Brasil.

Novos grupos deverão investir no país. Um deles, que está em busca das grandes instituições, é o Apollo que já havia demonstrado efetivo interesse pelo grupo FMU, entretanto, sem sucesso.

Vários grupos de ensino, inclusive que vem enfrentando sérias dificuldades financeiras, podem ser as futuras possibilidades de compra, já que o investimento será menor em virtude dos problemas potenciais que trazem na estrutura financeira do negócio.

Sabe-se, no entanto, que são poucas as oportunidades de grandes aquisições, não incluindo as instituições confessionais de ensino. As próximas que podem estar na mira são: Universidade São Judas, Uninove e UNIP - Universidade Paulista. Outras instituições, que estão sob administrações contratadas, também podem estar neste rol: UniSantana, Universidade Camilo Castelo Branco, UMC - Universidade de Mogi das Cruzes, UNG - Universidade de Guarulhos, entre outras.

O valor de mercado das maiores empresas de educação no mundo são, em dólar:
1º) Kroton/Anhanguera (Brasil) - US$ 5,856 bi;
2º) New Oriental (China) US$ 2,889 bi;
3º) Estácio (Brasil) US$ 2,125 bi;
4º) DeVry (EUA) US$ 2,073 bi
5º) Apollo Group (EUA) US$ 1,956.

Vale ressaltar que, se a Apollo Group pretende entrar com peso no Brasil, talvez só será possível se ela unir esforços por meio de uma incorporação, ou fusão, com a Estácio, o que não estaria descartado.

A área educacional poderá mudar novamente seus rumos!

Tudo sinaliza para a evidência clara de que as operações de fusões e incorporações poderão acabar com a concorrência e investimentos para melhoria da educação.

Percebe-se que o governo está, francamente, preocupado em investir, pesadamente, na educação, mas, que precisa de muita mudança e responsabilidade para melhoria da capacitação dos futuros profissionais, pois deles depende a melhoria da qualidade de vida dos brasileiros.

(*) Reginaldo Gonçalves é coordenador de Ciências Contábeis da Faculdade Santa Marcelina - FASM

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