ACOMPANHE-NOS     Campo Grande News no Facebook Campo Grande News no Twitter Campo Grande News no Instagram
ABRIL, TERÇA  23    CAMPO GRANDE 21º

Artigos

Opinião médica na rede social, por Américo Tângari Junior

Por Américo Tângari Junior (*) | 03/06/2011 10:40

Definitivamente vivemos a era da informação. Trata-se de uma realidade que se manifesta em todos os campos da atividade humana e, cada vez mais, nos surpreendemos com a capacidade da internet e das redes sociais de potencializar a influência dos cidadãos em estados democráticos ou, em casos emblemáticos, mobilizar politicamente povos que vivem sob ditaduras longevas.

Claro que nem tudo o que cai na rede é informação confiável. Há muita tolice e opinião desprovida de credibilidade navegando neste mar digital. Cabe ao usuário distinguir o que há de veracidade da mera especulação descartável. De qualquer forma, é indiscutível que, hoje, as informações circulam com uma velocidade inimaginável, em comparação com dez anos atrás.

Também na medicina o fenômeno começa a produzir impactos. Positivos, na maioria das vezes. Antes da popularização da internet, o paciente ia ao consultório e, após os necessários exames, tinha um diagnóstico e o procedimento indicado para sanar seu problema. Em alguns casos, buscava uma segunda opinião de outro profissional.

Atualmente, não é raro recebermos pacientes que, pesquisando na internet, já chegam com uma terceira opinião, que eu chamaria de opinião digital. Trata-se, na verdade, de um novo desafio para o médico que tem de se atualizar com uma rapidez impensável há alguns anos.

Na Europa e nos Estados Unidos, onde o uso da internet está largamente disseminado, e as inovações tecnológicas e a pesquisa médica avançam rapidamente, não é difícil o médico receber em consultório pacientes mais informados do que ele próprio. Evidentemente, essa terceira opinião é confrontada com critérios rigorosos que, independentemente da rede digital, não só ainda são válidos como indispensáveis para separar o que já possui validação consensual nas sociedades médicas de evidências científicas comprovadas.

Este filtro é mais do que necessário. Por exemplo, recentemente uma prestigiosa publicação médica americana revelou um estudo, que logo foi parar na rede, no qual pesquisadores concluíram que a restrição do sal na alimentação – até então, um consenso na comunidade médica, sobretudo para indivíduos considerados de risco – aumentava as chances de infarto e derrames cerebrais.

Assim, de uma hora para outra o sal deixou seu papel de vilão para se transformar em substância de prevenção a moléstia graves. O que fazer com evidências científicas, acumuladas em décadas, comprovando que há um alto percentual de indivíduos, cuja capacidade de eliminação do sal pelos rins é precária, o que lhes ocasiona a importante doença conhecida como pressão alta?

A resposta engloba dois ângulos simultâneos: o aprofundamento da pesquisa e o princípio de que cada indivíduo é único, cabendo ao seu médico conhecer suas características peculiares. Isto significa que o médico, além de ter o desafio de se atualizar a cada dia, deve se aprofundar no conhecimento de seu paciente para indicar-lhe o melhor tratamento.

Significa também maior democratização da medicina. O diálogo entre o médico e o paciente que já formulou uma opinião digital pesquisando na internet ficará mais facilitado e fluído. Como resultado, todos ganham.

Apesar da possibilidade de se vislumbrarem avanços e conquistas, é preciso reconhecer que estamos longe disso no Brasil. Aqui, a maioria da população não tem acesso às informações sejam as que circulam nas redes sociais ou as mais elementares. Esta parcela é a que também dispõe das maiores limitações financeiras. Com isso, este segmento populacional fica restrito aos tratamentos oferecidos pelos órgãos de saúde pública.

Na cardiologia, por exemplo, a diferença entre os procedimentos para uma angioplastia, que é uma cirurgia para desobstruir artérias, é significativa. Na rede pública de saúde, os pacientes recebem stents (tubo que permite desobstruir a artéria) simples. Já para o paciente cuja condição permite-lhe arcar com um plano de saúde, o procedimento inclui stents mais avançados sob o ponto de vista tecnológico e que, portanto, asseguram maior eficácia.

Como se vê, a democratização da saúde no Brasil ainda esbarra em obstáculos consideráveis. No entanto, a disseminação das informações médicas via o sistema eletrônico constitui processo irreversível e mais um passo para que cada vez mais os cidadãos possam reivindicar o melhor tratamento às suas moléstias.

(*) Américo Tângari Junior é médico, especialista em cardiologia pela Sociedade Brasileira de Cardiologia e Associação Médica Brasileira e integra a equipe de cardiologia cirúrgica do Hospital Beneficência Portuguesa de São Paulo.

Nos siga no Google Notícias