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Os corruptos, os mentirosos e os submissos

Por Valfrido M.Chaves (*) | 24/04/2014 09:14

Sabe a Psicologia que todo ladrão mente e que quase todo mentiroso rouba. A mentira, para o ladrão, sobretudo sob os holofotes do tribunal ou da mídia é como a borda recheada de uma prazerosa pizza e através dos quais, o roubo e a mentira, ele saboreia seus devaneios narcísicos.

Graças a estes devaneios, supera os sentimentos de insignificância e temores infantis que atormentam sua alma. Ao negar seus crimes, mais uma vez enganando a plebe, o “vagabundo”, como sempre diz nosso Dr.Odilon, se sente tão superior quanto nos momentos em que roubou, corrompeu ou matou. Esse funcionamento, leitor, é denominado pela Psicologia de "Perversão".

Isso posto, diria que, no âmbito da criminalidade, nada produz tanta auto glorificação como meter a mão nos recursos públicos para uso particular, manutenção ou apropriação do poder, o inebriante poder. Inebriante, leitor, porque o poder, em si, com suas pompas, ritos e puxa-saquismos, já satisfazem o narcisismo, a vaidade e as necessidades mais moderadas de compensação àquelas já citadas dores da alma.

Mas, com a apropriação de recursos públicos, geralmente fortunas, “o buraco é mais embaixo” , pois, através da corrupção, alimenta-se o sentimento de que “eu tudo posso”, sobretudo, quando esfrego na cara da sociedade, a minha impunidade! E roubar, apropriar-se, não é nada diante do sentimento de poder e onipotência que provem, justamente, da impunidade, a borda prateada da alucinógena pizza da corrupção.

Neste ponto, leitor, ouso trazer outro lado da questão, levantado pela Psicanalista Marion Minerbo, em seu artigo “Corrupção, poder e loucura: um campo transferencial”. Após apontar a corrupção como um tipo de loucura do sujeito que nada teme e relacionar tal “loucura” com a presença da “criança-no –adulto” do corrupto, ou seja, de seus aspectos infantis, aquela estudiosa nos apresenta a idéia de “poderoso”/”intimidado”, sentimentos que podemos trazer na alma.

Entende-se aqui que, antes de atuar como “ todo poderoso”, o infeliz sentiu-se como “intimidado” e “insignificante”. Do ponto de vista coletivo, entretanto, para que um possa atuar como o “ a tudo posso”, é necessário que outro, na sociedade, atue como vitima, “intimidado, subserviente e siderado, que não se autoriza a sinalizar ao primeiro os limites de sua onipotência”(Minerbo).

Essa lógica perversa de submissão foi contrariada pelo STF no caso do “Mensalão”, cujos fatos se descortinaram desde a boca dos caixas até a “CPI dos Correios”, graças aos testemunhos, investigação, relatórios e, sobretudo, ao eloqüente e delubiano silêncio de alguns inquiridos naquela CPI. Parece saber-se claramente, hoje, onde estão os poderosos, os onipotentes que deliram estar acima do bem, do mal e da verdade.

Dão-lhes cobertura aqueles que nos olham como se fossemos imbecis, quando nos dizem angelicalmente: “mas nada foi comprovado!”, como se bandidos deixassem, sempre, recibo e impressão digital. Resta-nos, entretanto, uma incômoda indagação: onde estão os intimidados que não sinalizam aos corruptos de dólares na cueca ou punho erguido, os lialistamites para sua onipotência? Veríamos algum, no espelho, quando escovamos os dentes?

(*) Valfrido M.Chaves é psicanalista.

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