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Pela música ao vivo nos bares de Campo Grande

Por Galvão (*) | 07/08/2013 09:32

”Poetas, seresteiros, namorados, correi
É chegada a hora de escrever e cantar
Talvez as derradeiras noites de luar...“ (Lunik 9 - Gilberto Gil)

Um tribunal de inquisição moderno e ao mesmo tempo retrógrado está instalado em Campo Grande pra impedir que bares disponibilizem música ao vivo aos seus clientes: o Ministério Público Ambiental e seu braço armado, a Semadur.

Sua bandeira é a lei do silêncio. Uma única denúncia formal de um vizinho incomodado com um som vai gerar um inferno astral no dono do bar, e consequentemente o fechamento do seu estabelecimento se ele não tiver condições de investir em média uns 70 mil reais com tratamentos acústicos, engenheiros ambientais, projetos etc pra poder assim adquirir sua licença ambiental.

Isso por si só já gera algumas conseqüências, a primeira é a segregação econômica desse seguimento comercial, ou seja, só grandes empresários poderão disponibilizar música ao vivo em seus botecos. Por exemplo, conversando com o dono do Tábua Bar e ele me falou que gastou 130 mil reais pra fazer as adequações exigidas pela Semadur pra continuar tendo música ao vivo no seu bar.

A outra é a mudança arquitetônica dos bares que estão virando boates, locais fechadas, como é o caso do Bodega na Afonso Pena e também do Miça. Esses espaços estão descaracterizados como bar, são agora boates ou algo próximo disso. Isso implica dizer que a paisagem urbana com bares na varanda, nas calçadas, com música, shows ao vivo dessa natureza, mais próximo das serenatas, desaparecerá por completo da cidade morena.

Digo isso com toda propriedade, pois além de músico, toco num bar aqui da cidade que vive um verdadeiro terrorismo por parte da Semadur e que até esse momento em que escrevo, só está funcionado por força de uma liminar.

Quando me perguntam a quem estamos incomodando com a música que fazemos na Madah, num sábado à tarde, numa região comercial, quase sem vizinhos, eu respondo: o ar! Nunca as maquininhas de medir decibéis foram tão usadas, todos os sábados vão lá pra Madah medir, mas mais do que isso, vão nos aterrorizar, nos inquietar, nos humilhar, medir forças, mostrar que trabalham, praticando multas abusivas e impagáveis. Eu até perguntei uma vez ao fiscal o porquê de tanta dedicação.

“O promotor nos cobra todo dia!”. Enquanto isso nossos córregos estão morrendo, mas é a nossa música que está prejudicando o ar! Essa ecologia praticada por eles é de gaveta, burocrática e a lei que os amparam não é recepcionada à luz da hermenêutica hoje! No conforto dos seus gabinetes eles nem imaginam o prejuízo que causam quando fecha um bar.

Demonstra-se claramente que essa política urbana feita, em MS, é feito por pessoas de visão limitada. São músicos, garçons, cozinheiros, dentre outros profissionais indiretamente que são ceifados do seu ganha-pão! Campo Grande é uma cidade moderna e como não tem mar, um dos maiores lazeres da população são os bares com música ao vivo. E a todo o momento se tem notícias de bares que estão impedidos de ter música.

Só aqui perto da minha casa, na Avenida Marques de Lavradio, no Tiradentes, três bares de uma só tacada foram proibidos te ter música. Enquanto cidades como Corumbá, estão em plena efervescência cultural, incentivando de todas as formas as manifestações artísticas e aqui em Campo Grande pra trabalhar, precisamos entrar na justiça, é um absurdo.

Depois o campo-grandense reclama que em feriadão prolongado a cidade fica vazia. Nossa música vive hoje à contramão do que acontece no mundo onde a música nos bares e nas ruas é incentivada. E se queremos ter turistas, precisamos de artistas!

Os mais famosos filhos de Mato Grosso do Sul são músicos que nasceram nos bares! Atenção cantores, músicos, artistas, ouvintes, garçons, cozinheiros e pessoas que velam pela alegria do mundo, é chegada a hora de botar a boca no trombone! Este manifesto é um pedido de socorro à nossa música!

(*) Raimundo Edmário Guimarães Galvão é músico e jornalista.

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