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Pneus sobre Pneus

Borracha de pneu é utilizada na pavimentação de ciclofaixas

Por Sandra Regina Bertocini (*) | 07/07/2014 11:31
Aurélio Vinicius
Aurélio Vinicius

A primeira ciclovia em Mato Grosso do Sul construída por pavimentação de concreto com pneus inservíveis está instalada na Avenida Afonso Pena, tal obra tem extensão de mais de 1 Km dos 7,5 Km totais da ciclovia. Essa é uma alternativa aos métodos tradicionais de construção que proporciona ganhos econômicos e ambientais, mitigando os impactos provocados pela construção civil.

A ciclofaixa foi construída no canteiro central da avenida. Apresentava-se o desafio de uma obra que atendesse às demandas da população, pautasse a sustentabilidade e garantisse a estabilidade e sobrevida de árvores que datam aproximadamente um século, e que estão em processo de tombamento pelo patrimônio histórico municipal. O sistema de peças intertravadas de concreto mostrou-se ser o mais viável.

Há inúmeras alternativas de projetos apresentadas como solução à mobilidade urbana, como exemplo, as novas vias, faixas especiais para ônibus, motocicletas e bicicletas. Entretanto, hoje no Brasil, não podemos pensar em uma superação das deficiências dessa mobilidade, sem pensar nos impactos provocados por todos os processos que envolvem o transporte diário de milhões de pessoas.

A pesquisadora Sabrina Leal Rau (2013) afirma que as cidades têm demonstrado grande preocupação com os impactos ambientais, econômicos e sociais originados pelo atual modelo de transporte. Diante disso, a mobilidade urbana, baseada principalmente no transporte individual, forçou as cidades a reverem suas prioridades, de modo que várias delas passaram a adotar medidas que visam a tornar as vias urbanas compatíveis com diferentes modos de transporte, dentre os quais se destacam o transporte coletivo e o transporte através das bicicletas.

Segundo Renato Boareto que foi Diretor de Mobilidade Urbana do Ministério das Cidades, a inclusão da bicicleta nos deslocamentos urbanos deve ser considerada elemento fundamental para a implantação do conceito de Mobilidade Urbana para construção de cidades sustentáveis, como forma de redução do custo da mobilidade das pessoas e da degradação do meio ambiente.

Nesse panorama, Campo Grande passa a ser pioneira no Brasil com a Lei Municipal nº 4818, que dispõe sobre a incorporação de borracha de pneu em obras públicas, a qual já vigora desde 2010, tendo como meta chegar em 2014 a utilizar esse material em 10% do asfalto de pavimento e concreto não estrutural.

É importante destacar que em 2013, o Brasil produziu 62,6 milhões de pneus, segundo a Associação Nacional da Indústria de Pneumáticos (ANIP), a qual afirma que não há prazo para a decomposição dos mesmos. O que se torna uma grande justificativa e incentivo à Lei Municipal.

Para a ciclofaixa da Avenida Afonso Pena foi adicionada na produção do concreto fibra de borracha triturada de pneus inservíveis para a fabricação de peças do pavimento e das guias de contenção. Os ensaios necessários para verificação ao atendimento das exigências de projeto foram realizados no Laboratório de Materiais de Construção Civil Prof. Hélio Baís Martins (LMCC), da FAENG/UFMS. Onde constatou-se que mesmo com as interferências da borracha nas propriedades físicas das peças e guias de concreto a sua utilização é viável, por atender a legislação ambiental, as normas técnicas e por dar destinação aos pneus inservíveis.

Esses ensaios fazem parte de uma coletânea de estudos e trabalhos realizados desde 2006 pela Profa. Ma. Sandra Regina Bertocini junto a acadêmicos de Engenharia Civil da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul - UFMS. Especificamente, nesse projeto da ciclovia, os alunos Juliana Carrasco Alcazas e Higor Cirilo da Costa estiveram junto à mestra.

A pesquisa nasce da necessidade da comunidade de uma alternativa à destinação de pneus inservíveis e os seus resultados foram eficazes por atenderem ao objetivo e por servirem como meio de conhecimento para novas pesquisas relacionadas as mesmas preocupações, como por exemplo, o estudo de adição de pneus inservíveis no concreto de reforço de raízes de árvores centenárias e de lixeiras, bancos, guias, blocos com e sem função estrutural.

Este projeto só foi executado devido a somatória de forças entre a Prefeitura Municipal de Campo Grande, que apoiou a realização do projeto através da Lei Municipal. As empresas, Dama Blocos, a qual produziu as peças de concreto e ECOPNEUS, que forneceu os pneus triturados. A Associação Brasileira de Cimento Portland - ABCP, a qual realizou treinamentos para os envolvidos no projeto, bem como a UFMS, com o projeto de pesquisa, que desenvolveu os traços de concreto e acompanhamento da execução da obra.

(*) Sandra Regina Bertocini é coordenadora do Laboratório de Materiais da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul e diretora r regional do Ibracon – Institulo Brasileiro do Concreto.

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