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Por que Curso de Jornalismo?

Por Gerson Luiz Martins (*) | 18/06/2012 09:33

E não curso de comunicação! O ensino superior brasileiro sempre foi, desde sua criação, responsável pela formação dos profissionais que necessitava a sociedade. A sociedade necessita de médicos, criam-se cursos de medicina; necessitava de advogados, criam-se cursos de direito; necessitava de engenheiros, abriam-se cursos de engenharia. A universidade é, tradicionalmente, o local de formação de profissionais de nível superior, profissionais que não somente exercem, reproduzem suas atividades, mas também promovem o seu desenvolvimento. Não são apenas profissionais, são cientistas de suas profissões. A rotina das atividades profissionais exigem e ao mesmo tempo criam demandas para equacionar novos desafios, novas perspectivas para a qualificação da atividade. É diferente de uma atividade técnica, a qual se limita a reproduzir uma atividade, uma ação, como por exemplo, em sua maioria, o trabalho do marceneiro, do ferreiro.

O ensino universitário de uma profissão não trata apenas de aprender técnicas, mas apreender conhecimentos suficientes para que a pessoa possa qualificar, a cada dia, sua profissão. Não contribui para o desenvolvimento de sua profissão aquele que se limita a aprender técnicas e que as utiliza de forma perene. O que seria de um profissional de odontologia, o dentista se durante os anos de sua carreira não aprimorasse suas técnicas de trabalho?

A mesma situação ocorre com o jornalismo. A formação universitária dos profissionais de jornalismo nasceu, no Brasil, Curso de Jornalismo. Comunicação, assim como a saúde, é uma área de conhecimento, também uma ciência. Com base em inúmeros argumentos, principalmente de estudantes de jornalismo, que tentam reforçar uma perspectiva de formação em comunicação, se pode perguntar, o que é mais político, um "comunicólogo" ou um jornalista?

A denominação "curso de comunicação social" surgiu no governo militar, na década de 60 com objetivo de controlar, censurar e doutrinar os estudantes nas mais diversas escolas de jornalismo que haviam no país. Com o apoio de órgãos de propaganda e assistência político-econômica dos Estados Unidos, como por exemplo o acordo MEC/USAID, o governo brasileiro, numa das dezenas de reformas do ensino superior, transformou os antigos Cursos de Jornalismo em cursos de comunicação social, até chegar no absurdo, no final dos anos 60, de criar cursos de comunicação em que o estudante recebia o diploma de publicitário, jornalista, relações publicas ou radialista (profissionais de rádio e televisão) ao mesmo tempo! E se sabe que se trata de atividades incompatíveis quando se relaciona publicidade e jornalismo, por exemplo. Na pratica, o que ocorria é que os estudantes, recém-formados, sempre escolhiam uma ou outra profissão conforme suas potencialidades e seus interesses. Não há duvidas de que uma empresa de comunicação que tenha, em seu quadro, profissionais de jornalismo, publicidade, áudio e vídeo, e hoje internet estará melhor qualificada para oferecer serviços de comunicação. Uma equipe de trabalho que reúna esses profissionais estará qualificada. Isso não quer dizer que um mesmo profissional possa exercer as atividades de jornalista e publicitário ao mesmo tempo. Se se pensa assim, então, por certo, não se compreendeu o que é a profissão do jornalista! E que foi motivo de reflexão anterior neste espaço.

Entender que a nomenclatura "comunicação social", em si equivocada, permeia um pensamento político democrático é de fato não compreender o que é o jornalismo, tampouco entender o processo histórico que determinou a criação dos chamados "cursos de comunicação social". O termo está equivocado porque não há comunicação que não seja social! Há, sim, comunicação. Pesquisas, estudos e, portanto, ciência da comunicação. E também há, na sociedade de consumo, os famosos comunicadores, muito conhecidos pelos seus apelidos como "ratinho", "gugu", "faustão", "Silvio Santos", "chacrinha", entre tantos outros!

As novas Diretrizes Curriculares de Jornalismo resgatam o principio e a essência do ensino e da formação em jornalismo. A partir desse marco, as Escolas de Jornalismo poderão contribuir ainda mais para a consolidação democrática das sociedades, do país. Um curso universitário centrado na qualificação da profissão do jornalista e ainda a exigência desta formação superior para o exercício da profissão coloca as condições para que se tenha um jornalismo, uma mídia mais responsável, mais ética, que não esqueça os princípios democráticos, de justiça social imprescindíveis na sociedade.

(*)Gerson Luiz Martins é jornalista e pesquisador do CIBERJOR e PPGCOM/UFMS

www.gersonmartins.jor.br

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