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Povo na rua. O castigo veio de ônibus

Ruy Sant’Anna | 26/06/2013 10:08

O discurso da presidente Dilma foi cheio de vazios e entre linhas. Qualquer análise que fizesse sobre todo ele, tomaria muito espaço, o que impossibilitou qualquer tentativa de fazê-lo aqui.

A lição que se tira dessa fala da presidente, é que ela não está preparada para dialogar com o povo, mas ditar regras num falso diálogo. O que se entende é que as medidas, pelos menos em grande parte, são provisórias como as da saúde com vindas de médicos “importados”, como disse ela: provisoriamente.

As medidas anunciadas pela presidente são pra valer mesmo ou somente provisórias como se referiu sobre os médicos “importados”? Ou disse “provisoriamente” só para acalmar a revolta da população e dos médicos brasileiros?

A vitória popular no transporte urbano não pode ficar em pedaços. São inadiáveis outras soluções, além da redução da tarifa.

Quanto às tarifas dos ônibus são pra valer, ou é um recado para os “prefeitos amigos, da base aliada” de que passado o movimento, tudo volta como antes.

Quer dizer que enquanto o povo estiver nas ruas, as tarifas serão mantidas?

Acontece que o povo está acordado. Ele sabe que a questão não é apenas o aumento ou a redução da tarifa, mas o enfrentamento do problema como um todo.

É preciso que melhorias físicas sejam feitas e que na aquisição de novos carros estes sejam colocados à disposição dos passageiros que perdem muito tempo na espera dos ônibus. O que o povo não aceita é ver o pátio das empresas com alguns carros novos, e velhos ônibus circulando em pouca quantidade e muito atraso.

É preciso que sejam erguidas pequenas plataformas de acesso aos veículos, em todos os pontos de ônibus e também as coberturas de proteção do sol e chuva.

Pessoas idosas ou que tenham problemas de coluna têm necessidade da acessibilidade com urgência.

A acessibilidade a idosos, crianças e portadores de deficiência, mesmo que não sejam cadeirantes, mas que tenham dificuldades e correm risco de acidentes, precisa ter a atenção do prefeito municipal, seja de Campo Grande ou outro município do estado.

Os idosos têm de ser respeitados em seu direito de transporte gratuito, como manda a lei, isto é, com todos os motoristas parando para recebê-los e deixando-os nos pontos que solicitem.

Falta fiscalização por parte da Agetran com a velocidade e a quantidade de pessoas que são colocadas dentro dos ônibus. Também tem de ser fiscalizada a colocação dos cintos de segurança em todos os carros e que estes tenham cartazes que expliquem a indispensável importância do cinto de segurança para todos os passageiros.

Entre as reivindicações que a Agência de Transporte e Trânsito de Campo Grande e outras cidades sul-mato-grossenses poderiam adotar está a reformulação ou criação do Conselho de Transporte, para fixar proporcionalidade das representações que ali têm assento. Para tornar a representatividade mais democrática e participativa, essa é a hora.

É preciso garantir direitos como a meia passagem, o passe livre para prounistas e cotistas. E que seja constituído um controle de Qualidade dos Ônibus, estabelecendo obrigações mínimas; como: ar condicionado nos carros; intervalos máximos de 10 minutos entre ônibus; ampliação programada das frotas, e também a atenção especial para a ampliação das ciclovias; também com a atenção aos motociclistas que devem ter suas faixas preferenciais horizontais pintadas antes dos semáforos (como adotado na capital de São Paulo).

Que seja garantida a reunião dos prefeitos de cidades que tenham transporte urbano de usuários como algo assemelhado a um Conselho de Transporte de Passageiros, junto dos estudantes. E que essa reunião ocorra pelo menos três vezes ainda neste ano, para que se avalie se as reivindicações do Movimento Popular estão sendo atendidas.

Que sejam tratadas com prioridade e urgência a pauta de reivindicações que já foram ou que ainda serão apresentadas. Sobretudo, que se garanta a participação ativa, sem perder o caminho da democracia direta, onde cada um tenha o poder de voz, voto e veto. Com todos esses direitos e mais a civilidade de cada pessoa, falaremos praticamente a mesma língua, da gentileza e da cidadania.

Finalizando volto ao título deste artigo. A presidente Dilma não dá entrevistas costumeiras nem de vez em quando. Ela só se une ao povo pela televisão ou rádio; não cumpre com suas promessas eleitorais e ainda acumula com outras, como agora. Por causa dessas atitudes, o seu castigo não veio a cavalo. O castigo de Dilma veio de ônibus. Esse veículo arrombou as comportas que retinham as reclamações populares. Hoje fico por aqui, com meu bom dia, o meu bom dia pra vocês.

Ruy Sant’Anna é jornalista e advogado. 

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