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Quando fé é demais, por Valfrido Chaves

Por Valfrido Chaves (*) | 23/09/2011 06:04

Sem dúvida a futurologia é uma ciência desmoralizada, até porque os maiores fenômenos históricos da segunda última metade do século passado, ou seja, a ruína do comunismo no Leste Europeu e a adoção da Economia de Mercado na China foram imprevistos, não obstante as competentes equipes voltadas para o estudo dos referidos universos.

Mas há quem ainda se arrisque, como o velho ditador Fidel Castro, “futurologando” que “recuperaremos na América Latina o que perdemos no Leste Europeu”, portanto, expressando sua esperança profética no estabelecimento do sistema comunista entre nós. Com o perdão pelo cacófago, isso é fé demais, pois nega o fracasso e o repúdio generalizado ao sistema em questão, entre os povos que o experimentaram na alma, sangue e estômago.

Creio não haver pessoa inteligente e de livre pensar que não se interrogue: mas como é possível negar os fatos, a obviedade de um fracasso generalizado de uma experiência que durou 90 anos, à custa de assassinatos em massa, torturas e total supressão das liberdades? Como se nega tais fatos, leitor?

Muito simples, com uma simples penada teórica, segundo a qual o comunismo teria fracassado devido a um erro da prática que, até por isso, comprovaria o acerto da teoria marxista-leninista. Sim, pois esta previa e preconizava seu estabelecimento nos países que atingissem a última etapa do regime capitalista.

Ou seja, nas economias desenvolvidas, como França, Inglaterra, Estados Unidos, Alemanha. Como o comunismo se instalou em economias pré-capitalistas, o fracasso da experiência estaria, portanto, comprovando o acerto da teoria. Veja o leitor que tais escapismos ilusionistas são dos crentes da causa inabalável, não são deste escriba.

Como disse, é fé demais e quanto mais fé é demais, há que se buscar o apoio da Psicopatologia para compreende-la. Nesse sentido, temos que partir do princípio onde Marx e Lênin fundaram o “historicismo”, isto é, uma concepção segundo a qual a História seria dotada de sentido. Tal como os seres vivos nascem, crescem, envelhecem e morrem, a História e a humanidade passariam pelo tribalismo, feudalismo, o capitalismo e o socialismo.

Esta se tornou uma concepção absoluta, uma crença que coloca seu militante numa posição profética, instrumento da verdade absoluta e do futuro da humanidade. As outras concepções seriam à-históricas, contrárias à humanidade e, portanto, criminosas.

Assim foi por 90 anos. Ao imbuir-se de tais crenças, o indivíduo sai de sua insignificância pessoal, tornando-se um onipotente “agente da História”, para o qual é verdade e moral tudo aquilo que promova a sua “prática” no sentido da “marcha da humanidade”. Pensar o contrário é, pelos “cumpanhero”, denominado “moralismo”. É algo equivalente à “dependência psicológica” das drogas, que só faz sentido para as personalidades pré-mórbidas, ou seja, que saem de estados de impotência e insignificância através da magia química.

Aqui falamos, entretanto, de uma “magia ideológica”, de uma droga metafísica e onipotente diante da qual, tal como a droga comum, a experiência real não tem nem um significado. Vale o principio do prazer proveniente do sentimento de poder, do “eu tudo posso”, que vai das mentiras aos mensalões, ao narco-terrorismo e às mais criativas formas de apoio à impactação da “democracia burguesa” e do grande pecado da humanidade, que seria a propriedade privada.

Aqui em MS, através da Funai e outros aparelhos estatais, tal práxis busca criminalizar a história de nossas fronteiras, nos reduzindo a invasores de terras indígenas, para cristalizar rancores entre nossas comunidades, levando ao isolamento de nossos povos indígenas. Por isso não se pode comprar terras para a expansão das aldeias, pois tal solução não planta conflitos e rancores.

O MPF, aparentemente impregnado de ideologia, não pergunta quem sumiu com o projeto de plantar 1.200.000 mudas de erva-mate, manga e caju para os guaranis e terenas, projeto sob coordenação do Eng. Aroldo Figueiró. Parece que índio plantando, prosperando e integrado com a sociedade em geral não interessa a planos “histórico-leninistas” em curso.

Interessa “identificações de terras indígenas” inquestionáveis, que inviabilizam indenização a proprietários legítimos e plantam impasses, conflitos, sofrimento. Também se ignora o financiamento e manipulação externa na violação do direito de propriedade. Aliás, esse é o objetivo final do “indigenismo dialético”, tanto explicitado por Marx quanto os pensadores atuais da crença “zumbi”.

É o que se passa, são os fatos, mas que importam os fatos, diante do grandioso projeto das “Nações indígenas” em nossas fronteiras? Afinal, “aguçar as contradições e os conflitos” não é a mais nobres das ações políticas de quem comanda e dá cobertura à nossa política indigenista? Quem desmente a miséria do indigenismo historicista em MS?

(*) Valfrido Chaves é psicanalista.

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