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Quem sobreviverá a essa violência no trânsito?

Por Felipe Zampieri Teruia (*) | 26/02/2015 17:00

Ontem fui visitar um grande amigo meu, e sentado no sofá enquanto conversávamos, e vendo seus filhos brincando fiquei prestando atenção enquanto eles se divertiam assistindo uma coletânea de desenhos do famoso personagem “pica-pau”. Acredito que a maioria deve lembrar de um desenho o qual a referida ave usava da posse de seu veículo para tirar rachas, até então não havia assistido nenhum desenho dele que havia tamanha agressividade, a imagem que eu tinha do desenho era de uma ave que não comete algo de ilícito, e sempre que o imaginário mundo dos desenhos o colocava na direção de um veículo, sempre se mantinha pacato, sereno, jamais transgredindo as leis de trânsito.

Imagine amigos fazer caminhão se assustar, os patos ficarem sem penas, a batida frontal com um camponês que transitava com sua carroça, deixando clara a altíssima velocidade, e mais gritante ainda foi à forma que desrespeitosa que o personagem abordado ao agente de trânsito no referido “desenho infantil”. Pois bem, quando assisti o desenho percebi que o personagem, ao sentar-se ao volante do automóvel, transformava-se num autêntico “irresponsável”: agressivo e explosivo, capaz de atitudes tão imprevisíveis quanto causar medo. É uma das melhores e mais realista obras de comportamento humano que eu tenha visto, apesar do tom de gozação da narrativa e das próprias características do personagem.

Penso que somos um complicado conjunto de instintos e sentimentos, que tentam conviver com um mínimo de equilíbrio entre a emoção e a razão, se não fosse isso talvez ainda estivéssemos na idade da pedra, mas o mecanismo do relacionamento: ser humano x automóveis ainda é uma grande interrogação que desafia os grandes estudiosos sobre o assunto.

Na maioria dos casos, é fácil identificar o motivo de tamanha irresponsabilidade, o alto consumo de bebidas alcoólicas, o fato de alguns quererem demonstrar total comando sobre a máquina, de talvez seja uma reação orgânica ligada a um sensível aumento de adrenalina na corrente sanguínea. Eles pensam que são excelentes motoristas, com suas ultrapassagens arriscadas, assim imprudentes, fechadas gratuitas, costuradas, proximidades em abuso e desafiadora, arrancadas, gritos que saem dos escapamentos de alguns carros e motocicletas, mas, só não provocam mais acidentes graças a DEUS, e porque não dizer que antecipam suas barbaridades.

Alguns meses atrás, viajei com um conhecido, que estava dirigindo um carro muito potente e pomposo, estilo esportivo. Ao perceber que ele conduzia o veículo com velocidade bem acima da permitida para a rodovia, perguntei-lhe se ele não temia algum problema: como multas e a seguranças dos que eram conduzidos por ele, por exemplo. Para minha surpresa, ele respondeu que aquele carro era um sonho que ele imaginava ser quase impossível de se concretizar e que não tinha preço o que estava fazendo.

O curioso é que esse tipo de conduta é típico de uma adolescência ou instinto humano mal-resolvido, é nessa fase que os menos estruturados emocionalmente recebem a grande parte dos vícios e consumam seu mau caráter. Para os homens, principalmente, a posse de um carro é quase um símbolo de potencia sexual. O que mais chama atenção é que em alguns casos chegam a medir sua "capacidade intelectual", "coragem" e sexualidade pela quantidade de cavalos do motor do carro que conduzem.

Grande parte da culpa cabe aos pais, que permitem que seus filhos guiem sem CNH, que não sabem educar, transformando-os em assassinos em potencial: inconseqüentes e sem nenhum respeito ao próximo, que acreditam, com sua condução "violenta" e "rachas" irresponsáveis, querendo ser como os famosos da F1, só que protegidos das conseqüências de seus atos por "recheadas" contas bancárias, que financiam a impunidade e corrupção. Os pilotos da F1, pelo menos, correm no lugar certo, as pistas e quando ultrapassam os seus limites infelizmente param nos muros de proteção, porém sem causar a morte ou invalidez de inocentes.

Felizmente, para alguns, essa fase passa ao chegar à fase adulta, mas para outros, fica a cicatriz irreversível pela vida inteira e se estende pela ALMA, com sequelas irremediáveis para inocentes. Portanto, imaginem quando essa vida em comunidade: ser HUMANO X CARRO complexa e "química", por princípio é "aditivada" com drogas e álcool, qualquer que seja a idade? Os cavalos do motor, o "irresponsável" ao volante e combustível de alta octanagem abastecendo ambos, É TNT pura!

Só que as alarmantes e assustadoras estatísticas mostram que as vítimas dos que se excedem na forma de dirigir associada ou não ao consumo de álcool e substâncias entorpecentes, sejam eles "mauricinhos" mal-educados, "brucutus" socialmente deslocados ou pacatos cidadãos temporariamente "entorpecidos" sobrevivem, de forma dramática e traumática, aos acidentes por eles provocados.

Vidas ceifadas, vidas truncadas, imitações de vida e limitações de vida! Tudo por conta de um "estilo de vida".

Portanto, afirmo que nosso trânsito, que já era caótico e estressante, agora é, também, "um pica-pau aloprado", com duplo sentido. Não sou, em princípio, não sou torcedor de "terapias de choque", mas creio que seja fundamental para o resultado e renovação das licenças de motoristas deveriam ser precedidas de uma seção de fotos, documentários e estatísticas sobre acidentes de trânsito e suas tristes vítimas. Talvez assim, antecipando os efeitos, refrearemos as causas que tanto nos assustam.

(*) Felipe Zampieri Teruia é bacharel em Direito.

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