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Resposta pública ao artigo “Fundamentalismo Evangélico”

Por Josep M. Rosselo (*) | 11/09/2013 13:59

Caro Rev. Carlos Eduardo Calvani,

A Democracia está baseada no respeito às outras opiniões, inclusive quando tais opiniões discordem com as nossas. O respeito e defesa da livre opinião são pilares de todo sistema democrático e parlamentarista. Por isso, Rev. Calvani, você tem direito a expressar-se livremente sua opinião. Infelizmente, tal direito tem sido usado para promover o medo e o alarmismo, espalhando falsidades.

1. Permita-me que comece afirmando claramente que discordo absolutamente das posições teológicas e doutrinais dos pastores, como Malafaia, Feliciano, Rodovalho, Macedo, R.R. Soares e tantos outros. Infelizmente, veio no seu texto, atitudes que me lembram ao Malafaia, Feliciano, Macedo, entre outros. Isso me entristece, porque vejo a mesma intolerância nas suas palavras que tenho visto às vezes neles.

2. Fico surpreso que sendo um clérigo da Igreja Episcopal Anglicana do Brasil (IEAB), a qual proclama a tolerância e a liberdade, que tais valores não tenham espaço no seu artigo. Dando a impressão que somente existe tolerância para aqueles que concordem contigo. Se isto é verdade, tal posição é mais própria de sistemas opressores que dos valores democráticos do Brasil.

3. A democracia atual e o parlamentarismo são heranças dos países evangélicos, tanto na Europa como na América do Norte. Portanto, o movimento evangélico não é uma ameaça à democracia. Pelo contrario, ele representa a voz de uma parte da sociedade brasileira. Se discordar de tal movimento, faça através de debater os argumentos apresentados por eles, e não simplesmente através de ataques gratuitos e temores infundados.

4. Os cristãos brasileiros (católicos, evangélicos, protestantes e ortodoxos) tem a mesma posição sobre a família e o que é um matrimonio. Interessante que o senhor não menciona este fato no seu artigo. Inclusive, outras religiões (Judaísmo, Islãmismo, entre outras) compartilham esta visão com o Cristianismo. A Bíblia, a tradição da Igreja e o Livro de Oração Comum afirmam que o matrimonio é entre um homem e uma mulher. Ainda que você discorde de 2.000 anos de fé e prática Cristã.

5. Acusa aos evangélicos de serem “intolerantes” e “fundamentalistas,” e chega até a comparar os evangélicos aos mulçumanos. O qual achei de uma gravidade inacreditável. Você parou a pensar que existem milhares de evangélicos, crianças e adultos, mulheres e idosos, sendo mortos cada ano pelos muçulmanos e outras religiões? Você não tem a mais mínima decência? Nem tudo é válido para conseguir o que desejamos, infelizmente o seu artigo mostra que qualquer coisa é válida para conseguir o que quer.

6. Discordo com o senhor de que a Constituição Brasileira defenda um Estado laico, entendendo o estado laico no sentido clássico do mesmo. Com certeza, tampouco defende um estado confessional. A Constituição Brasileira nos apresenta o Brasil, como um estado não-confessional, o qual difere significativamente do estado laico. No Estado Laico, as religiões não tem nenhum papel nele. Nem afirma a existência de Deus.

A Constituição Brasileira afirma a existência de Deus no Prefácio da mesma. Protege as religiões da interferência do Estado na vida delas, mas não protege o Estado da interferência das igrejas. E, finalmente, reconhece o papel das religiões na vida do Estado através das capelanias. Tal texto não pode ser considerado, como próprio de um estado laico, como seria na França. Entendo que o movimento “gayzista” desejam promover uma idéia errônea da Constituição Brasileira.

7. Finalmente, desejo fazer público que o Rev. Calvani e a Igreja Episcopal Anglicana do Brasil (IEAB), não é de jeito nenhum a única igreja anglicana. Ainda que sejam os únicos que façam parte da Comunhão Anglicana. De fato, a IEAB nem representa a metade dos anglicanos do Brasil na atualidade. Portanto, façam o favor de falar somente em nome dos “episcopais-anglicanos” e não em nome dos anglicanos do Brasil.

Estão enganando o povo brasileiros, dando entender que são os únicos anglicanos, quando a verdade nem representa a maioria de Anglicanos no Brasil. Se ainda não tem percebido, o movimento evangélico está formado por mais quarenta milhões de brasileiros. Isto representa quase um quarto da sociedade brasileira. Entendo que discorde com alguns líderes, contudo convido você a refletir sobre a promoção gratuita do medo e o alarmismo entre as pessoas de bem.

Sinceramente, desejo que seja mais cuidadoso quando comunicar suas opiniões no futuro. Nem sempre nossas posições são aquelas que tem o apoio da sociedade brasileira, e resulta preocupante quando pensamos que falamos em nome da sociedade brasileira. Somente podemos falar no nosso nome e respeitar as opiniões dos outros, inclusive quando discordemos com as mesmas.

Que Deus Todo-Poderoso nos ajude a ser fiéis servos de Cristo através do fruto do Espírito. Amém.

(*) Josep M. Rosselo é bispo diocesano da Igreja Angelicana Reformada do Brasil.

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