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Santa Ca(u)sa IV, por Heitor Freire

Por Heitor Freire (*) | 04/06/2011 07:00

Continuamos com o tema: Santa Casa. Como já ficou claro nos artigos anteriores, a Santa Casa é um ato de amor. De amor e dedicação de muita gente, desde a sua fundação até o momento em que sofreu uma intervenção que subverteu a forma com que vinha sendo tratada até então.

Embora ao longo de sua existência tenham ocorrido disputas eleitorais entre seus associados, o tema que sempre motivou todas as diretorias do hospital, foi o do amor à nossa população, traduzido na dedicação com que sempre se houve todas as suas administrações.

Isso até o momento da “invasão”. Porque a partir daí o amor foi substituído pela técnica, fria, indiferente, totalmente estranha à energia que sempre vigeu na Santa Casa. A maior prova disso foi o cancelamento da continuidade das atividades da Equipe Esperança que, com muita solidariedade, supria as necessidades dos pacientes, chegando a atender às vezes até as carências de alimentação de suas famílias, com o fornecimento de cestas básicas.

A Santa Casa é uma instituição de alta complexidade. É preciso que a população saiba disso, para poder avaliar melhor o trabalho que foi desenvolvido pela Associação Beneficente ao longo de mais de 80 anos. Isso não pode ser relegado, não pode deixar de ser levado em consideração. Ninguém tem a experiência que a nossa Associação tem, acumulada ao longo do tempo, na administração da Santa Casa.

Incluo nesse grupo o conjunto de funcionários que faz seu trabalho sob o manto do anonimato, recebendo como único pagamento a satisfação do dever bem cumprido.

Fica muito claro o propósito de bem atender a população, quando se analisa o projeto da construção da Santa Casa: o aspecto humano ao se projetar as enfermarias com apenas três leitos, cada conjunto com o seu banheiro próprio, individual, proporcionando a todos um atendimento digno.

Não posso, neste momento, deixar de mencionar o autor do projeto de construção da Santa Casa, o arquiteto Celso Costa, que juntamente com seu irmão Eudes, prematuramente falecido, e a equipe do seu escritório, soube traduzir com muita humanidade o ideal que impulsionou a sua realização da obra, na época sob a presidência do dr. Arthur D’Àvila Filho.

O que se observa atualmente é que o tipo de gestão implantado pela junta interventora, a qual pode ter as melhores intenções, não deu certo, pois a avaliação se faz pelo resultado.

Constatamos pelo noticiário que permanece na Santa Casa um atendimento precário e deficiente: pacientes pedindo socorro, gritando por assistência e o diretor clínico declara publicamente que espera que diminuam os acidentes, sem apresentar qualquer alternativa que objetive melhorar a qualidade do serviço do hospital.

A presidente do sindicato dos trabalhadores na área de enfermagem, Helena Delgado é muito clara em sua argumentação: “Do jeito que está não dá para continuar; constantemente entramos com representações junto ao Ministério Público para eximir a responsabilidade dos nossos colegas. Falta também um treinamento permanente para qualificar melhor os nossos colegas”.

“O número de internações caiu, o volume de recursos ao hospital aumentou, mas mesmo assim foram suspensas as cirurgias eletivas, exames deixaram de ser realizados e agora está acontecendo o que mais temíamos que é a morte de pacientes em função da falta de capacidade da junta interventora de administrar o hospital e de mantê-lo em pleno funcionamento”, lamentou o presidente da ABCG, Wilson Teslenco, em recente comunicado da Associação.

Ele reafirmou que essa situação é resultado do fato de o Ministério Público, o governo do estado e a União terem optado por deixar unicamente para a prefeitura a responsabilidade de gerenciar o hospital: “Todos abandonaram o barco. E de quem é a responsabilidade? Ninguém quer assumir”, ressaltou Wilson Teslenco.

Para Teslenco, a única alternativa para que o hospital volte a funcionar é colocar em prática a proposta apresentada pela ABCG: retomar a administração da Santa Casa por meio de uma administração social com um conselho gestor, presidido pela Associação e composto, por representantes da comunidade: dos usuários, das entidades representativas da produção, patrocinadoras da gestão social (indústria, comércio e pecuária), além dos funcionários e dos médicos da Santa Casa.

Este modelo de gestão inclusive é preconizado pelo Ministério da Saúde, no que se refere aos hospitais públicos, que podemos adotar embora o nosso hospital seja uma instituição de direito privado. É também o modelo de gestão adotado, por exemplo, pelo Grupo Hospitalar Conceição de Porto Alegre que administra cinco hospitais naquela capital.

Neste caso, estaremos adaptando um modelo que está dando certo. “É uma medida que deve ser tomada com urgência, antes que a Santa Casa feche as portas”, finalizou Wilson Teslenco.

A nossa população está angustiada, senhor prefeito como angustiados estão os associados da Santa Casa, como, acreditamos, também Vossa Excelência esteja. Este é um momento de união total com todas as forças vivas da nossa sociedade.

Todos nós torcemos para que a nossa Santa Casa supere esta situação de caos. Conclamamos o seu espírito público, senhor prefeito, a sua sensibilidade política, a sua sensibilidade profissional e a sua sensibilidade humana, para que possamos todos juntos superar a gravidade do momento.

(*) Heitor Freire é advogado e membro da Associação Beneficente de Campo Grande – Santa Casa.

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