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Trânsito, guerra ou epidemia? Conscientização, educação ou punição?

Fernando Zaupa (*) | 24/07/2012 16:04

Infelizmente, com frequência, um novo cenário tem sido notado em Campo Grande-MS: são cacos de vidro, pedaços de plásticos, peças retorcidas, marcas de frenagem, postes, árvores e muros destruídos.

Somam-se aos fragmentos, motos partidas, carros amassados, ônibus travados, caminhões atravessados... hematomas, sangue, lesões e mortes.

Somente neste último final de semana, foram cerca de 3 (três) acidentes...por hora!!!

O sistema de saúde registrou, neste período, cerca de 46 (quarenta e seis) atendimentos, ou seja, quarenta e seis pessoas feridas.

Houve três mortes.

Segundo pesquisa da AGETRAN, boa parte não possuía Carteira Nacional de Habilitação (CNH).

Desse modo, essa capital com ares de interior, vive dias semelhantes a localidades em guerra, não apenas pelos altos índices de mortes e lesões, como também pelos gastos com o sistema de saúde (ocupação excessiva de leitos de hospitais e atendimentos, ambulâncias, médicos e servidores, remédios, etc) e, principalmente, a tensão, estresse e medo!

O que ocorre?

Muito se discute e, estando a observar vários procedimentos, posso apresentar algumas considerações:

1. Há um aumento significativo de jovens (que formam o maior número de vítimas e autores) na direção de veículos automotores, desprovidos não apenas de experiência na direção, como também carentes de rigor educativo em seus lares (fenômeno constatado em seus depoimentos e valores exteriorizados);

2. Muitos transgressores não apresentam Carteira Nacional de Habilitação, a demonstrar que boa parte desconhece até mesmo as mais básicas lições e deveres de trânsito;

3. A violência das ocorrências também tem aumentado, apontando-se casos graves em que a alta-velocidade, uso de bebida alcoólica e banalização com os riscos estão mais evidentes.;

4. Impera o sentimento de impunidade entre os transgressores.

Assim, tem-se que a primeira questão a ser levantada, está na falta de educação.

Essa educação não é aquela da ‘conscientização’, tão comumente apregoada, já que todos possuem consciência que trânsito é regido por regras e que transgredir pode gerar danos e até mortes.

O que se observa é falta de educação no sentido da cortesia, respeito e, principalmente, senso de coletividade.

A sociedade perdeu muito dos mais comezinhos tratos de respeito e, quem milita na área da infância e da juventude sabe, as novas gerações estão cada vez mais a desprezar o respeito ao próximo.

Ainda, tem-se que o tal ‘progresso econômico’ gerou um acesso amplo a direção de veículos dos mais vários tipos e potências, principalmente motocicletas (que além de serem mais baratos, são os que estão disparadamente mais relacionados às ocorrências de trânsito), sem que haja um maior rigor na questão da direção de tais veículos.

Como se sabe, para se adquirir um veículo, não é preciso ser habilitado (possuir CNH); assim, eis que muitos se preocupam mais em pagar as parcelas dos possantes a fazer o curso para habilitação (auto-escolas), já que teriam que gastar significativa quantia para ‘obter a carta’.

Preferem, deste modo, ante a ‘conta financeira’, sem CNH, sem experiência e sem conhecimento das regras, arriscar e, se for pego, a pagar a multa e restituição do veículo (mais em conta que o todo o curso para obtenção da CNH).

Nessa mesma linha de contramão às medidas preventivas, tem-se que a legislação brasileira chega a ser vergonhosa quanto ao tratamento dado aos transgressores, desde o baixíssimo valor a ser pago para restituição do veículo, como também à multa ao motorista infrator ou mesmo à pena aplicada ao autor de um crime de trânsito.

Soma-se a essa enxurrada de amenidades punitivas, a bagunça legal feita com a chamada ‘lei seca’ e interpretações de juristas e tribunais, o que vem gerando muitas liberações de transgressores e sentimento de ‘não dá nada’.

Muitos ditos ‘da área jurídica’ já começaram a perceber que a ‘vontade da lei’ não é agraciar os infratores; mas, sim, proteger a população de bem e, como tal, a ver que em muitos casos, como por exemplo, em rachas ou em ‘roletagem’ de semáfaros, embriaguez reiterada ao volante, entre outros casos, o motorista no mínimo assume o risco de lesionar ou a matar alguém, ensejando maior rigor punitivo.

Entretanto, a legislação ainda é pífia e precisa ser urgentemente mudada, bem como o ‘entendimento’ de muitos aplicadores da lei, já que boa parcela da legislação pode sim ser vista com olhos mais a favor da sociedade e menos ao indivíduo que não a respeita.

Ademais, é preciso um alerta para essa ‘epidemia de guerra’!

Vê-se a população se mobilizando bravamente para fenômenos como a chamada epidemia da Gripe Suína, a ponto de haver campanhas em TV, rádio, internet, jornais, palestras, cursos, panfletos, visitações, disseminação de álcool gel e prática de lavagem das mãos, etc.

Ocorre que, em termos estatísticos, há absurdamente muito mais mortes, lesões e danos promovidos pelo trânsito em Campo Grande-MS, que pelo chamado H1N1.

Talvez a movimentação humana para o trânsito seja menor não apenas pelas questões apresentadas acima; mas, também, pelo fato de parcela significativa da população achar que o risco seja menor, quando em verdade está todo dia a se arriscar, seja como motorista, passageiro ou pedestre... seja indo ao trabalho, à escola, à padaria, ao mercado, ao cabeleireiro, ao fórum, ao posto de saúde, ao cemitério...

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