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Um peso, duas medidas e uma reflexão para além do maniqueísmo

Por Pedro Pedrossian Filho (*) | 01/05/2014 09:00

O título não é o usual, mas é a expressão correta que significa o tratamento em que diante de situações idênticas, aplica-se a lei ou julgamento de acordo com a conveniência.

Nesta semana dois irmãos agricultores foram covardemente assassinados por indígenas no Rio Grande do Sul, não fosse uma pequena matéria ali outra acolá, não saberíamos do crime cometido.

Se dois índios fossem as vitimas a cobertura midiática seria complemente inversa: Teríamos atores globais se compadecendo nas redes sociais, ministros, secretários dos direitos humanos e dos movimentos sociais, de intelectuais, de órgãos da igreja católica, inclusive, cobertura internacional.

Não que não seja justo, ao contrário. Entretanto, o que vemos é um peso e duas medidas diferentes, isto é, a compaixão só é sentida por determinadas pessoas e ou etnias.

As razões são inúmeras, mas podemos destacar uma muito evidente:

A cultural: Introjetou-se ideológicamente e de má-fé o maniqueísmo que enquadra produtores e índios em um mundo de vilão e anjinhos, das personificações do bem e do Mal.

O modo de pensar maniqueísta é simplista, dogmático e oportunista. Ele propõe o perigoso terreno das certezas cegas, do dogmatismo, da luta eterna da luz contra as trevas, que considera que um lado deve destruir outro.

O produtor rural foi personificado na figura do mal e na ação maniqueísta do "vale tudo", até a justificação de um assassinato -como fez um segmento da igreja católica, o CIMI que incita a violência e o confisco de produtores rurais com títulos legais e éticos de suas propriedades- criando de forma inescrupulosa justificativas para o assassinato de dois agricultores no conflito agrário entre índios e proprietários rurais.

O pensamento dualista impede propositalmente o pensamento crítico e tem como objetivo a programação da opinião pública para que ela aceite passivamente as injustiças cometidas em nome de uma pseudo-justiça construída através de seus discursos sedutores.

A sedução dos discursos que possuem em seu teor verdades antagônicas não é novidade, a propaganda nazista contra judeus construiu no inconsciente alemão três preconceitos certeiros:

1. Os alemães herdaram a crença na época que judeus eram os vilões, assassinos de Cristo e que por isso, todos os judeus representavam o mal na terra.
2. Foi dividido bem e mal por elementos materiais e espirituais, e judeus foram associados ao dinheiro representando o diabo se contrapondo ao elemento espiritual da figura de Cristo.
3. A propaganda nazista foi sistemática e associaram judeus a traças, vermes e piolhos responsabilizando-os aos problemas econômicos do país.

Importante perceber a necessidade do ceticismo frente a adesão irresponsável de bandeiras da qual somos passionalmente embalados.

Na busca por heróis e vilões os mais bem intencionados podem sem desejar e perceber serem conduzidos rumo ao contrário de seus princípios éticos, contribuindo para injustiças muitas vezes irreparáveis.

Suspender o juízo frente a solução dualista significa ir além do determinado por outrem, significa um agir ético e inteligente que busca elaborar um pensamento muito além de soluções mágicas apresentadas pelo pensamento simplista e dogmático.

Para concluir, cito Popper que alertou para o perigo da cegueira dogmática: “Toda vez que o homem quis trazer o céu para a terra, fez reinar o inferno.”

Portanto, faz-se necessário repensar sobre as figuras do vilão e do mocinho representados por produtores rurais e índios, apresentadas de forma sensacionalista por ideologias de partidos, mídias e alguns intelectuais que vivem desse maniqueísmo.

(*) Pedro Pedrossian Filho, graduado em Filosofia, pós-graduando em Antropologia, Cultura e Sociedade, ex-deputado federal e produtor rural.

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