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Um sonho realizado

Por Heitor Freire (*) | 26/11/2014 08:42

São vários e difíceis os caminhos percorridos e que nos levaram até a implantação do nosso estado.

Desde os primórdios do século XX, começou a se desenhar um anseio da população sulista do então Estado de Mato Grosso, com a divisão do estado, em virtude do total desconhecimento, por parte do governo do estado, acercas nas necessidades mais elementares da nossa região.

O governo instalado em Cuiabá só tinha olhos para a arrecadação obtida aqui e que representava 75% do total da arrecadação do estado. A pequena contrapartida destina ao sul, minguava cada vez mais, causando uma revolta crescente em nossa população.

O processo que culminou com a implantação do Estado de Mato Grosso do Sul, passou por várias etapas. No começo do século passado, os coronéis Jango Mascarenhas e João Caetano Teixeira Muzzi, aliados a um advogado gaúcho, João de Barros Cassal, egresso da revolução federalista em seu estado, iniciaram um movimento armado pretendendo a divisão do estado, que não teve sucesso.

Em 1932, foi criada no Rio de Janeiro, a Liga de Estudantes Pró Divisão do Estado, liderada por jovens mato-grossenses, que se tornaram, de pois de formados, verdadeiros bastiões da divisão. O único presidente dessa Liga foi o então estudante de medicina Ruben Alberto Abbott de Castro Pinto.

Ainda em 1932, com a eclosão da Revolução Constitucionalista, o sul de Mato Grosso se levanta em armas, solidário com São Paulo. O general Bertholdo Klinger, então comandante da circunscrição militar em Campo Grande, nomeia o dr. Vespasiano Barbosa Martins como governador do estado e parte para São Paulo para assumir o comando das tropas revolucionárias.

O governo Vespasiano Martins tem duração efêmera: de 9 de julho a 26 de setembro de 1932. Há que se destacar que esse fato não tinha intenção de dividir o estado, mas de transferir a capital de Cuiabá para Campo Grande, deslocando o eixo do poder para a nossa cidade.

Tanto é assim que todos os números do Diário Oficial editados em nossa cidade, nesse período, se referiam ao Estado de Mato Grosso. Esses exemplares, doados generosamente ao Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso do Sul, pelo advogado Marcelo Barbosa Martins – neto de Vespasiano – fazem parte do acervo histórico do Instituto.

Mas a versão desse fato como divisão do estado foi tão forte e permanente, que se cristalizou como verdade histórica com o nome de Estado de Maracajú.

Em 1933, foi publicado no Rio de Janeiro, o Manifesto da Liga. Em 1935, Oclécio Barbosa Martins, um dos signatários do Manifesto, já advogado, reedita a Liga em Campo Grande, com o nome de Liga Pró Divisão do Estado. No entanto, naquele momento não houve, ainda, força suficiente para que o movimento empolgasse a população.

Na década de 70, o dr. Paulo Coelho Machado, também signatário do Manifesto, ressuscita a Liga, iniciando-se a partir daí um movimento crescente que acaba resultando na criação do Estado de Mato Grosso do Sul, dividindo o Estado de Mato Grosso, em 11 de outubro de 1977, através da Lei Complementar nº 31, sancionada pelo presidente Ernesto Geisel.

Nessa ocasião, como nossos políticos não se entendiam, o presidente Geisel nomeou o engenheiro Harry Amorim Costa, funcionário público federal, de alta estirpe, na época chefiando o então DNOS, como nosso primeiro governador.

O dr. Harry sonhou e tentou implantar um estado enxuto através de um modelo de administração sistêmica proposto pelos tecnocratas de Brasília e, para tanto, foi contratada a empresa Projed, com sede no Rio Grande do Sul, a qual faz todo o desenho daquela moderníssima estrutura proposta, bem como foi a responsável pela capacitação das pessoas que deveriam integrar os quadros funcionais da nova unidade federada.

Bem antes da queda do Socialismo Real [89] e do pensamento hegemônico neo-liberal, aqui já se propunha a ideia do estado mínimo, com máquina enxuta e empresas, fundações e autarquias [a depender do objeto institucional] como braços operacionais das poucas secretarias de estado. Uma proposta tão revolucionária que, da mesma forma que o Plano Cruzado, não dispunha de respaldo político e, como ele, não se sustentou.

O projeto foi conduzido pelo economista Jardel Barcellos de Paula, secretário de sua administração, que acabou não sendo implementado porque seu governo durou apenas seis meses.

O projeto foi concebido e desenvolvido no interstício entre a promulgação da Lei Complementar nº 31 e a instalação do Estado. A Secretaria de Planejamento e Coordenação Geral, por ser a cabeça do sistema estruturante, teve papel decisivo naquele momento. Toda a sistemática e o projeto se encontram retratados no livro Utopia x Realidade, de autoria do dr. Jardel, editado e lançado neste ano pelo Instituto Histórico e Geográfico de MS.

O nosso estado, em seus 35 anos, teve sete governadores, sendo três engenheiros, três advogados e um médico. São eles,
- de 1979 a 1982: Harry Amorim Costa, Marcelo Miranda Soares e Pedro Pedrossian, todos engenheiros, nomeados pelo governo militar;

- de 1983 a maio de 1986, Wilson Barbosa Martins, advogado, primeiro governador eleito; completando este mandato, Ramez Tebet, advogado, vice-governador, até 1987.

- de 1987 a 1991, Marcelo Miranda Soares, desta vez eleito:

- de 1991 a 1994, Pedro Pedrossian;

- em 1995, volta novamente Wilson Barbosa Martins, até 1999;

- de 1999 a 2006, José Orcírio Miranda dos Santos, reeleito em 2002, que depois concluiu sua graduação como advogado;

- de 2007 a 2014, o atual governador André Puccinelli, médico, reeleito em 2010.

- e agora, em 2014, foi eleito governador Reinaldo Azambuja, administrador, que encarna a expectativa de mudança e sem dúvida alguma fará a grande diferença ansiada pela nossa população.

Eis assim, uma pequena resenha histórica sobre o nosso querido estado. Revendo o esforço de tantos homens idealistas, inteligentes e empenhados pelo sucesso da nossa terra e da nossa gente, podemos afirmar: o sonho foi realizado.

(*) Heitor Freire é corretor de imóveis e advogado.

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