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Violência contra a mulher, um problema de saúde pública!

Por Ricardo Ayache (*) | 22/01/2014 16:46

A violência contra a mulher, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), atinge mais de um terço de todas as mulheres do mundo e constitui um grave problema de saúde global, com proporções epidêmicas. Ela ocorre num contexto histórico e social marcado por relações desiguais de poder, discriminação, opressão e sexismo. Em geral, a violência é exercida por pessoas muito próximas das vítimas e acontece tanto em espaços públicos como privados.

Somente nos quinze primeiros dias de 2014, três mulheres foram assassinadas em Campo Grande, entre elas uma médica; e mais de 200 boletins de ocorrência foram registrados na Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (DEAM). Infelizmente, a nossa capital está entre as que lideram o ranking nacional de denúncias sobre esse tipo de violência. De acordo com o Mapa da Violência, em 2010, Mato Grosso do Sul ocupava a quinta posição, Campo Grande era a 24ª capital e Ponta Porã era o décimo município em número de assassinatos de mulheres.

A violência contra as mulheres é uma das causas para uma variedade de problemas de saúde agudos e crônicos, que vão desde lesões físicas e partos prematuros à depressão e transtornos de saúde mental. Por ser um problema de saúde pública, que atinge todas as classes sociais e faixas etárias, tornou-se extremamente importante e urgente que profissionais e estudantes na área da saúde sejam instrumentalizados e capacitados para atender as vítimas que chegam às unidades de saúde, aos ambulatórios, hospitais e prontos-socorros. Isso exige que os governos invistam na capacitação dos profissionais e em melhorias na rede de atendimento e na saúde pública como um todo. Também é imprescindível a inclusão da temática da violência na estrutura curricular do curso de Medicina.

Com uma formação acadêmica deficiente para esse tipo de atendimento, os profissionais de saúde não conseguem relacionar que os sintomas apresentados pelas mulheres estão associados à sua condição de vítima da violência. Situação que se agrava porque, apesar da alta incidência, é raro a violência tornar-se visível. Muitas mulheres que estão sofrendo violência, quando procuram os serviços de saúde, dificilmente revelam espontaneamente essa situação.

A omissão da agressão por parte das vítimas se dá por vergonha, medo e também porque a violência possui várias vertentes – psicológica, moral e física –, fazendo com que muitas mulheres não se deem conta do que está acontecendo ao seu redor. O profissional de saúde deve estar apto a ouvir e acolher o sofrimento das vítimas, olhando além dos sintomas. A identificação e a notificação de uma violência constituem um caminho de proteção à mulher, que se sente mais acolhida e pronta para expor seu sofrimento.

Sem esse preparo, os profissionais de saúde ainda não conseguem trabalhar em uma perspectiva inclusiva, emancipatória e intersetorial. Quando falam da rede de referência social, que poderá acolher as pessoas em situação de violência após o atendimento hospitalar, tendem a delegar essa orientação aos profissionais da área de assistência social, não compreendendo a importância do atendimento multidisciplinar.

Portanto, para nós, profissionais de saúde, além do desafio de perceber o grau de urgência do atendimento, da atenção médica e dos demais procedimentos de saúde, impõe-se ainda o dever de prestar um acolhimento mais humanizado e solidário, ajudando a elevar a autoestima das mulheres atendidas. Precisamos compreender que o nosso atendimento humanizado, o socorro prestado com cuidado e atenção, o cumprimento da regra do registro e notificação da violência no prontuário e o devido encaminhamento da mulher vítima de violência contribuirão com a eficiência das políticas públicas e evitarão que novos casos ocorram. Assim, ajudaremos na construção de uma sociedade marcada pela solidariedade, pelo respeito e pela cidadania, fazendo emergir relações de igualdade entre homens e mulheres.

(*) Ricardo Ayache, presidente da Cassems

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