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Violência por quê? uma questão social

Por Flávio Katumi Mishikawa (*) | 09/09/2011 14:48

Assunto violência vem à tona: é algo preocupante. Instiga-nos. Faz-nos querer saber o porquê de tudo isso. O assunto se fomenta por situações reais, que ocorrem muitas vezes tão perto de nós. Situações atuais, e para as quais se pede uma pronta resposta.

Nos últimos dias alguns comerciantes, representantes da comunidade, colocaram outdoors com os seguintes dizeres: “Fui mais uma vítima de assalto a mão armada em Nova Andradina. O que está acontecendo?”.

Sobre os acontecimentos que suscitaram tal questionamento, sinto-me no dever de, como comandante do Batalhão policial militar, responsável pela região do Vale do Ivinhema, da qual Nova Andradina faz parte, buscar refletir, E AGIR, sobre a condição adversa por que passou nossa cidade. E levantar alguns porquês de isso ter acontecido.

Mas para saber os porquês devemos, após fazer análises focadas em imediatas causas e soluções, imergir na busca de raízes, que evocam mais razões que fazem com que o tema violência não seja apenas uma fase, mas um ambiente pelo qual todo o mundo vê, e lamenta, verdadeiras guerras, entre “bons e maus”, “policiais e bandidos”, forças armadas e traficantes, “o homem e o seu próximo”, que amedrontam o ser social, e faz com que todos nós queiramos justiça, paz, e os valores idealizados em nossa lei.

Após diligências e análises estatísticas que nos fizeram relacionar o aumento de roubos e furtos a, especialmente, evadidos/internos da cadeia pública de nova Andradina; e após o cancelamento das folgas dos policiais militares, e o esforço dobrado no fito de manter a ordem, restabelecer a segurança e amenizar o impacto da afronta sofrida pela sociedade, em decorrência de ações criminosas, pelas quais a PM entrou em operação e despendeu inúmeros esforços, que têm resultado em diminuição de índices de ações delituosas, apreensão de armas, drogas, e prisões de criminosos;

e, após o planejamento operacional que tem feito a polícia militar e outros órgãos, como a polícia civil, manter as ações que visam a segurança da população, cabe, ainda, o mesmo questionamento: o que está acontecendo?

Aumentar o efetivo policial está entre as soluções, políticas públicas de combate ao crime também.

A educação, que mesmo que em longo prazo, muda a história de estados e nações, obviamente também está, mas, o que está acontecendo é ainda é um problema.

O problema da incerteza que assola expectativas para o amanhã. Afinal, estaremos seguros? A polícia não é onipresente! E o jovem que ingere bebida alcoólica e consegue sair com o carro do pai? Ainda que a polícia o aborde, ele pode ter andado algumas quadras e colocar em risco nossas vidas? E o usuário que, repentinamente, é capaz de fazer tudo por um pouco de dinheiro para alimentar o vício?

Acredito que mais que políticas públicas, mais que filantropia, mais do que aumento no número de efetivo policial, e mais que tantas outras razões ou aparentes soluções que todos nós conhecemos, mas pelas quais nem todos nós lutamos, somos nós, todos, que devemos mudar.

Se o homem é o “lobo do homem” como afirmou Thomas Hobbes e se em Rousseau afirmamos que o homem natural é bom, o homem é um ser demasiadamente complexo para simplificarmos todas razões de seus desvios de conduta e dos fenômenos da sociedade por ele formada.

O que se vê é que frutos bons e maus nascem das menores sementes da sociedade: as famílias.

“O que está acontecendo” é um problema que envolve a estrutura do corpo social. Um problema complexo, que começa no elementar: onde estão os princípios, as regras, a ordem?

Uma casa mal estruturada pode parecer ser apenas um detalhe em uma cidade como Nova Andradina. Mas a casa reflete no mundo todo. O retrato da casa atual é o retrato da sociedade contemporânea. São poucas as famílias em que os filhos obedecem às regras. São muitos que ignoram as leis. São poucas as famílias que ouvem as notícias e fazem alguma coisa a respeito da injustiça.

São muitos os que, diante do sofrimento e agonia alheios, são indiferentes, pois o seu próprio meio ou espaço são aparentemente inalcançados por problemas. São poucos os que temem a Deus. E que família hoje aprecia o ensino pelas coisas espirituais?

Que família há em que os pais usam cinto de segurança, dando exemplo a seus filhos de como prevenir-se das possíveis tragédias decorrentes de um acidente de trânsito? Serão muitas as famílias cujo retrato deva ser multiplicado como modelo social?

Todas estas questões surgem de um “simples” questionamento: o que está acontecendo? Realmente estas questões devem aparecer. Não só em outdoors, mas em cada pensamento.

Espero que, ao lermos pensamentos, possamos ser atingidos com um impacto maior que o de um tiro de um fuzil. Que isso possa nos fazer pensar, refletir e mudar muita coisa. A começar por nós mesmos.

O que está acontecendo é também uma necessidade de mudar a mentalidade de muita gente. Mudar o pensar: pensar que o errado é certo; que o mau é bom; que alguém é melhor que alguém e, portanto, mais detentor de direitos.

Devo pensar que EU posso mudar, e assim, contribuir para uma sociedade DE FATO justa, altruísta, ordeira. E, parafraseando o Apóstolo Paulo, em sua carta aos romanos, que sejamos transformados, e pela renovação de nossa mente, para entendermos qual será a boa, agradável e perfeita vontade de Deus.

(*) Flávio Katumi Mishikawa é tenente-coronel, comandante do 8º Batalhão da Polícia Militar de Nova Andradina (MS).

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