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Volante, álcool, crime e cidadania

Por Dirceu Cardoso Gonçalves | 25/10/2011 07:05

Os acidentes provocados por motorista bêbados vêm ocupando espaço cada dia maior na mídia e nas nossas ruas e estradas. Paradoxalmente, depois que a “lei seca” passou a perseguir aqueles que misturam álcool e volante, o número de ocorrências e mortes dessa natureza vem crescendo a olhos vistos. Fica claro que, mesmo levando para a cadeia os motoristas embriagados, o bafômetro, da forma que está em uso, ainda não é instrumento eficiente para coibir a atitude criminosa.

Motoristas de todas as classes sociais e profissões arriscam-se depois da balada ou do simples “happy-hour” quando, já que beberam, deveriam utilizar táxi, ônibus ou, pelo menos, um motorista que não tenha bebido. Fazem isso num flagrante desrespeito à vida – própria e de terceiros – e na crença de que não serão pegos pela lei ou, se o forem, não ficarão presos porque podem pagar a fiança. É um quadro desolador que tem de mudar. O trânsito torna-se, diariamente, mais perigoso porque as vias públicas não se ampliam na mesma proporção que o número de veículos. Isso exige mais concentração e perícia dos que dirigem, qualidades que o álcool inibe.

Há décadas, o automóvel é usado indevidamente. Mesmo o tendo como meio de transporte, muitos o utilizam esportivamente na realização de “rachas” e outras formas de exibicionismo que afrontam as leis e periclitam a vida. A legislação que regula o setor é permissiva e sua prática ineficiente. Tanto que só ultimamente, quando a situação se agravou, é que motoristas alcoolizados, drogados ou imperitos passaram a ser recolhidos à cadeia. A prática tradicional é que, depois de provocar a tragédia, ele volte para sua casa e seja processado, sendo muitas vezes absolvido ou condenado a prestar serviços comunitários ou pagar cestas básicas.

A gravidade dos acidentes provocados pela bebedeira, droga e imperícia é um fantasma cujo tamanho aumenta permanentemente. Precisam os legisladores, estudiosos e autoridades realizar um grande esforço para domar esse entre nefasto. Chegará um dia em que a população não conseguirá mais viver com a sua presença e, aí, o caos estará definitivamente instalado.

Os recursos de fiscalização, hoje aplicados a infrações simples, deveriam ser carreados para coibir o grande fantasma do motorista desconforme. Crime cometido ao volante tem de receber punição severa e ser de difícil fiança. Temos de chegar a um dia em que o próprio motorista seja o seu fiscal e evite cometer infrações e crimes de trânsito na certeza de que, se o fizer, será punido.

Paralelamente ao endurecimento no trato ao condutor mal educado de hoje, há que se promover um amplo trabalho de educação de trânsito e cidadania junto às crianças e jovens. Com isso, no futuro, quando estiverem dirigindo, eles poderão ter vergonha de o fazer depois de ter ingerido alcoólicos, de cometer pequenas infrações de trânsito ou até mesmo de jogar um papel no chão. Essa é a sociedade que devemos às futuras gerações.

(*) Dirceu Cardoso Gonçalves é tenente da Polícia Militar, dirigente da ASPOMIL (Associação de Assisttência Social dos Policiais Militares de São Paulo) - aspomilpm@terra.com.br

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