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Sem cartão nem cheque, mercearia sobrevive feliz a chegada dos grandes

Mariana Rodrigues | 10/08/2015 08:00
Sem cartão nem cheque, mercearia sobrevive feliz a chegada dos grandes
Paulo Tadamori Shimabuco mantém sua mercearia há 32 anos na esquina das ruas 7 de Setembro com a José Antonio. (Foto: Vanessa Tamires)
Paulo Tadamori Shimabuco mantém sua mercearia há 32 anos na esquina das ruas 7 de Setembro com a José Antonio. (Foto: Vanessa Tamires)

Há 32 anos na esquina das ruas 7 de Setembro e José Antonio, em Campo Grande, Paulo Tadamori Shimabuco mantém sua mercearia mesmo após as grandes redes de supermercados chegarem até as imediações. O local simples remete a infância, e a nostalgia dos tempo do baleiro, da goiabada vendida em lata e do mel em pequenos sachês, coisas que ao longo do tempo sumiram das prateleiras dos supermercados.

Nascido em Campo Grande, o comerciante de 70 anos conta que sempre ajudou os pais, que vieram do Japão para trabalhar no Brasil, pois acreditavam que aqui encontrariam "a terra prometida". A família se instalou na cidade e moravam em uma chácara localizada no bairro São Francisco, onde segundo ele era rico no plantio de verduras.

"Sempre trabalhei com meus pais na feira, vendíamos os produtos que produzíamos na chácara. No começo a feira era onde hoje é o Mercadão (Municipal), depois mudou para onde hoje é a Igreja Universal, meus pais pararam de trabalhar na feira e eu continuei", lembra.

Ele só parou de trabalhar na feira quando os filhos nasceram, a partir daí Paulo priorizou a educação das crianças e resolveu sair da lavoura para que eles pudessem estudar. "Saí da lavoura e fui para a cidade e aluguei o ponto, quando escolhi esse local já era asfaltado e tinha mais casas residenciais do que comércios", diz.

O baleiro, item antigo que fazia parte das mercearias  é um dos orgulhos de Paulo. (Foto: Vanessa Tamires)
O baleiro, item antigo que fazia parte das mercearias é um dos orgulhos de Paulo. (Foto: Vanessa Tamires)

Emocionado ele conta que o maior objetivo de sua vida era formar os filhos, fato que conseguiu apenas com o dinheiro que a mercearia lhe rendeu. Hoje seus filhos estão formados e trabalhando e ao contar essa parte de sua vida seus olhos se enchem de lágrimas. "Meu filho me ajudava a atender aqui na mercearia também, hoje ele já está formado. Consegui alcançar meu objetivo que era de formar meus filhos".

Paulo se orgulha ao dizer que já recebeu várias propostas para modernizar a mercearia que leva o seu nome, mas que prefere manter o local como era desde o começo, com o ar simples, pois foi dessa forma que conseguiu conquistar seus clientes que estão com ele até hoje. "Os clientes gostam do jeito que a mercearia é, então resolvi manter", fala.

"Quase não se encontra mais mercearias e quitandas no Centro de Campo Grande, antes a gente via muito em bairros, mas também é difícil de encontrar hoje em dia", comenta ele sobre o fato de não querer modernizar seu estabelecimento comercial.

Questionado como consegue manter o pequeno comércio em meio as grande redes de supermercados, ele se emociona ao dizer que o sucesso de todos esses anos é por conta da honestidade com que trabalha. "Trabalho com honestidade e persistência, pois hoje é difícil manter um comércio pequeno".

Na Mercearia do Paulo não passa cartão e não aceita cheques, as vendas são feitas no dinheiro, mas para os clientes "selecionados", como ele diz, os produtos comprados podem ser marcados na caderneta. Como ele mesmo contou à reportagem, os clientes são antigos e fiéis. "Não são muitos os fregueses que compram, mas ainda tem aqueles que pedem para marcar".

Para ele o diferencial do seu comércio é o atendimento e a forma como toma conta de tudo para garantir os melhores produtos para seus clientes. "Não é que eu queira me gabar, mas todos os dias vou ao Ceasa e trago verduras fresquinhas e com isso deixo meus clientes contentes", justifica.

Emocionado ele conta que conseguiu formar o filho apenas com a renda da mercearia. (Foto: Vanessa Tamires)
Emocionado ele conta que conseguiu formar o filho apenas com a renda da mercearia. (Foto: Vanessa Tamires)
A caderneta é uma das únicas formas de "substituir" o pagamento à vista, já que no local não aceita cartão e cheques. (Foto: Vanessa Tamires)
A caderneta é uma das únicas formas de "substituir" o pagamento à vista, já que no local não aceita cartão e cheques. (Foto: Vanessa Tamires)

Mesmo estando com a mercearia há tanto tempo no mesmo ponto, ele ainda nem se deu conta que faz parte da história de Campo Grande. Mas quando é questionado sobre isso, ele abre um largo sorriso e diz apenas que se sente honrado por isso. "Graças a Deus conseguimos sobreviver e devo agradecer aos meus clientes pois minha renda é apenas daqui".

A freguesia do comércio do seo Paulo permanece, alguns se tornaram amigos e vão ao local não apenas para comprar, mas também para conversar e tomar um café, que ele prepara todos os dias para atender seus clientes amigos.

Os produtos vendidos na mercearia do Paulo são os mais variados possíveis para atender seus clientes. (Foto: Vanessa Tamires)
Os produtos vendidos na mercearia do Paulo são os mais variados possíveis para atender seus clientes. (Foto: Vanessa Tamires)
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