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Cidades

Dutos de ar-condicionado são risco cotidiano de contaminação, até em hospitais

Luciana Brazil | 19/07/2012 08:43

Em teatros, shoppings, edifícios ou em qualquer local público onde exista um sistema de ar-condicionado ou ventilação instalado,o ar que respiramos pode não estar tão limpo quanto pensamos.

A sujeira se acumula nas tubulações e pode causar vários problemas de saúde. (Fotos:DHL)
A sujeira se acumula nas tubulações e pode causar vários problemas de saúde. (Fotos:DHL)
Emabalgem de veneno de rato é encontrada em uma das tubulações. (Fotos:Divulgação)
Emabalgem de veneno de rato é encontrada em uma das tubulações. (Fotos:Divulgação)

Você já se perguntou qual é a qualidade do ar que você respira? Se nas ruas acreditamos que a poluição é uma das responsáveis pelos maiores problemas que influenciam o nosso bem estar, fique sabendo que nos lugares fechados, pode ser ainda pior. Em teatros, shoppings, edifícios ou em qualquer local público onde exista um sistema de ar-condicionado ou ventilação instalado, o perigo existe. E nos ambientes onde o ar deveria ser ponto de partida para a boa saúde, como hospitais e clínicas, a situação é grave.

No Estado a realidade é considerada alarmante, já que as redes de duto de ar escondem verdadeiras fontes de contaminação por causa da sujeira que se instala nas tubulações. Em Campo Grande, nos hospitais e clínicas a condição é crítica já que não existe interesse das firmas em fazer a limpeza, como afirmam os donos de empresas especializadas, as raras que existem na cidade.

Após a morte do ministro das Comunicações, Sergio Motta, em 1998, após contrair uma bactéria que se aloja no ar-condicionado, a Legionella, o Ministério da Saúde baixou portaria exigindo a higienização mensal dos aparelhos de ar-condicionado. A bactéria oportunista ataca, principalmente, pessoas com sistema imunológico debilitado.

Porém, mesmo sendo uma determinação, em Campo Grande a realidade é outra. O proprietário da DHL Diagnóstica e Hospitalar, Marcelo Ferreira Mello, uma das poucas empresas que realiza limpeza de tubulações, avalia que a situação é preocupante.

“É uma questão de saúde pública. O índice de contaminação, o índice de doenças transmitidas pelo ar é grande e posso garantir que quase 100% dos locais em Campo Grande não faz a limpeza correta dos dutos”. Mas Mello lembra também que todos demonstram interesse em fazer a limpeza.

Teias de aranha e poeira se acumulam nos dutos.
Teias de aranha e poeira se acumulam nos dutos.
Até um escorpião já foi encontrado na tubulação.
Até um escorpião já foi encontrado na tubulação.
Sem nunca ter sido limpa, a tubulação ficou coberta por uma crosta.
Sem nunca ter sido limpa, a tubulação ficou coberta por uma crosta.
A quantidade de poeira assusta quando imaginamos que estamos respirando esse pó.
A quantidade de poeira assusta quando imaginamos que estamos respirando esse pó.

Desde os mais inusitados objetos como embalagens de veneno de rato, até mesmo animais mortos como ratos, pombos e escorpiões, além de pó, muito pó, já foram encontrados nos dutos, como lembrou Marcelo.

"Já vimos muita coisa e esses locais estão sempre muito sujos".

Sem entender o motivo do pouco interesse das empresas em Campo Grande, o casal sul-mato-grossense Roberto Bogado, 48 anos, e Tania Balbino, 48 anos, abriu uma empresa, a Inova Ar-Condicionado, em Londrina, no Paraná.

“Lá, é um costume e, além disso, existe vigilância. O avanço é enorme nessa área. Depois da manutenção, nós emitimos um laudo certificando que foi feita a manutenção”, diz Roberto.

Segundo ele, nenhum hospital em Campo Grande realiza esse tipo de limpeza. “Só para se ter uma noção, nos centros-cirúrgicos é obrigatório o uso de um filtro chamado G3, antibacteriano, mas nenhum hospital tem”, conclui.

“Aqui as empresas não se preocupam. Acham que trocar o filtro que fica no ar-condicionado é suficiente, mas não sabem como é importante limpar os dutos”, diz Tania.

Para o casal, a saúde não recebe a fiscalização necessária em Campo Grande. “Até agora não morreu ninguém, na verdade a deve ter morrido, mas ninguém fala”, diz Roberto.

Como fica a saúde?-De acordo com os médicos, a limpeza adequada e periódica dos filtros e dutos de ar evitam inúmeras doenças respiratórias.

Segundo a médica infectologista e coordenadora da Comissão de Controle de Infecção Hospitalar do Hospital Universitário, Andyane Tetila, pessoas que estão rotineiramente em locais onde não há manutenção dos sistemas de ar ou ventilação tendem a apresentar doenças respiratórias. “Podem também desencadear quadros alérgicos como rinite, asma e sinusite”, diz Tetila.

Após a limpeza, os dutos devem receber manutenção no período de seis mesess.
Após a limpeza, os dutos devem receber manutenção no período de seis mesess.
Limpeza robotizada garante tubulações exatemente como o Ministério da Saúde exige.
Limpeza robotizada garante tubulações exatemente como o Ministério da Saúde exige.

“Muitas das doenças são alergias denominadas de "síndrome do edifício doente", designado pela OMS (Organização Mundial de Saúde) na década de 80”, explica.

No caso dos hospitais, a médica ressalta que os sistemas de ar e ventilação devem passar por manutenção e limpeza periódicas, além de rigorosas, já que são encontrados facilmente micro-organismos que transmitem infecções respiratórias complicadas, como tuberculose e o vírus influenza.

“Nestes ambientes, pacientes encontram-se debilitados e apresentam maior risco de evolução para um quadro de infecção grave se forem expostos a novos agentes. Além disso, também há o comprometimento da saúde ocupacional, dos profissionais que atuam nas instituições”.

A médica, com mestrado em Doenças Infecciosas e Parasitárias pela UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul), afirma ainda que os riscos à saúde ocasionados pelos aparelhos de ar condicionado ou dutos de ar em sistemas de ventilação ocasionam primeiramente o ressecamento das vias aéreas, devido a baixa umidade do ar.

“Além dos quadros de infecção, podem também desencadear quadros alérgicos como rinite, asma e sinusite”.

Vigilância: Não existe em Campo Grande um programa que normatize a vistoria em hospitais, clínicas ou ainda em outros locais. De acordo com o fiscal de Vigilância Sanitária do Estado, Kariston Abel, a orientação é para que as empresas façam, por conta própria, periodicamente a limpeza dos dutos.

“Existe uma normatização, mas não acontece a inspeção. Existe uma portaria detalhada para locais como centro-cirúrgicos, mas a realidade é a mesma e não são fiscalizados”, afirma Abel.

Em Campo Grande, os grandes hospitais públicos afirmaram, por meio da assessoria de imprensa, que realizam periodicamente a limpeza dos dutos.

A Vigilância Sanitária estadual é responsável pela inspeção dos hospitais e clínicas que oferecem internação. Fica a cargo do município a inspeção das clínicas e hospitais onde não acontecem internações.

Limpeza: Atualmente as empresas realizam, tanto a limpeza quanto a manutenção, de forma robotizada. Um mini robô entra no duto e depois de capturar as imagens, uma espécie de vassoura faz a escovação à seco do local. Por último um aspirador retira toda a sujeira.

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