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Cidades

Aborto espontâneo barra o sonho de ser mãe de 17% das mulheres de MS

Ricardo Campos Jr. | 21/08/2015 09:00
Jaqueline com a filha caçula. Foram dois abortos em seis gestações (Foto: Marcos Ermínio)
Jaqueline com a filha caçula. Foram dois abortos em seis gestações (Foto: Marcos Ermínio)

Pesquisa Nacional de Saúde aponta que, em Mato Grosso do Sul, a taxa de mulheres com idade entre 18 e 49 anos que já sofreram aborto espontâneo varia de 14,41% a 17,10%. O índice está dentro da média brasileira, onde 15% das gestantes relataram ter perdido os bebês antes do nascimento e, mesmo não sendo frequente, alerta para a importância do acompanhamento pré-natal, quando fatores de risco serão identificados e tratados.

Os dados foram colhidos pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), em convênio com o Ministério da Saúde, e divulgados nesta sexta-feira (21). O estudo contém dados referentes a 2013 com o objetivo de ampliar o conhecimento sobre as características da saúde no Brasil.

Estados da região norte e nordeste apresentaram maiores índices. Em Amazonas, Roraima, Amapá, Maranhão e Rio Grande do Norte, o percentual de mulheres que já sofreram aborto espontâneo ultrapassa os 19,10%.

No Mato Grosso, Tocantins, Ceará e Pernambuco, a proporção de mulheres que apresentaram o problema varia de 17,11% a 19,10%. No mesmo índice de Mato Grosso do Sul figuram Acre, Rondônia, Pará, Piauí, Paraíba, Alagoas, Sergipe e Bahia.

Já Goiás, Minas Gerais, São Paulo e Rio Grande do Sul tiveram índice variando entre 12,91% a 14,40%. As menores incidências de aborto espontâneo estão em Santa Catarina, Paraná e Rio de Janeiro, onde até 12,90% das mulheres entrevistadas disseram ter perdido os bebês.

Mapa mostra incidência do aborto espontâneo no país (Foto: reprodução / IBGE)
Mapa mostra incidência do aborto espontâneo no país (Foto: reprodução / IBGE)

Explicações – A ginecologista, obstetra e coordenadora do curso de medicina da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul), Tatiana Serra da Cruz, afirma que é mais comum o aborto espontâneo no primeiro trimestre de gestação.

“A grande maioria ocorre por algum problema de formação do embrião, mas existem outras causas, como infecções ou se a mulher tem alguma doença prévia. Daí a importância de preparar o organismo para a gestação, como começar antes a tomar ácido fólico para prevenir algumas más formações”, relata.

Os poucos casos em que as mães perdem os bebês no segundo trimestre, segundo a especialista, podem estar ligados a problemas no colo do útero, que muitas vezes não consegue se manter fechado, ou a deficiência do hormônio progesterona.

As informações ressaltam a importância do acompanhamento médico e não devem ser usadas como motivo de pânico entre as futuras mães, pois esses casos “não são tão comuns, são exceções”, diz Tatiana.

Exemplos – A diarista Jaqueline Tavares Fernandes, 31 anos, teve dois abortos espontâneos. Nos dois casos, ela não sabia que estava grávida e só descobriu depois de perder os embriões. “O primeiro foi do segundo para o terceiro mês. Eu vi cair dentro do vaso e fui parar no hospital. Não imaginava que estava grávida”, afirma.

No segundo, a mulher chegou a ficar internada. Mesmo na surpresa, a situação não deixa de ser chocante. “Você pensa se foi alguma coisa que você fez ou passou”, conta. Em um dos casos, ela estava tomando anticoncepcionais, mas não sabia que o organismo não estava reagindo ao medicamento. Isso deixa a dúvida se pode ter sido esse o motivo da fatalidade.

Hoje, Jaqueline tem quatro filhos. A mais velha tem 15 anos. Os do meio têm 9 e 3 anos. A caçula tem apenas 1 mês.

Após dois abortos, a gestação de jornalista Karen Andrielly está no sétimo mês e pode ser considerada um milagre. Após perder dois embriões, e já grávida do primogênito, ela descobriu que tinha trombofilia, doença que forma coágulos na placenta prejudicando o desenvolvimento do bebê.

No primeiro caso, ela não sabia que estava grávida e só descobriu quando apresentou hemorragias e foi parar no hospital. “Na segunda gestação eu já sabia, tinha aquela expectativa e quando perdi eu fiquei mal”, conta.

O aborto, segundo ela, foi em dezembro de 2014. Na época, ela não tinha condições de realizar o exame que apontaria a causa do problema de saúde e foi orientada a não engravidar. Porém, no começo do ano seguinte, ela sentiu dores e decidiu procurar ajuda.

“Comecei a imaginar um monte de coisas. Fui ao médico morrendo de medo. Quando me falou que eu estava grávida, fiquei desesperada. Me veio na mente tudo o que eu tinha passado e tive medo de passar por tudo aquilo de novo, me deu medo”, relata.

Quando ela descobriu a trombofilia, a situação piorou. Ela precisava tomar um remédio que não é oferecido pelo SUS e custa caro. Precisou entrar com uma ação na Justiça para consegui-lo.

“O risco de aborto graças a deus acabou, mas existe risco de nascer prematuro. Ele está crescendo maravilhosamente bem, em novembro nasce. O cuidado é um pouquinho maior. Eu faço parte de um programa de gravidez de alto risco e a minha ida ao médico é praticamente uma vez por semana. Qualquer coisa é motivo para ficar em alerta. Cada semana que passa é uma vitória”, completa.

Jaqueline com três dos quatro filhos (Foto: Marcos Ermínio)
Jaqueline com três dos quatro filhos (Foto: Marcos Ermínio)
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