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Cidades

Após 10 anos, assassinos de Dorcelina estão soltos

Redação | 30/10/2009 10:47

"A Dorcelina morreu lutando. Lutando com dignidade para que um outro mundo fosse possível", resume Marlene Oliveira, irmã da ex-prefeita Dorcelina Oliveira Folador, assassinada com seis tiros no dia 30 de outubro de 1999, em Mundo Novo, cidade que fica a 460 quilômetros de Campo Grande.

Dorcelina foi morta há 10 anos, no fim da noite de um sábado, quando estava sentada na varanda da casa onde morava com o marido e as duas filhas.

Prefeita de Mundo Novo no segundo ano de mandato, Dorcelina era conhecida por fazer uma 'limpeza geral' na administração do município e romper com grupos criminosos ligados ao poder público.

"Ela mexeu com a máfia da fronteira", contou Egídio Bruneto, um dos coordenadores do MST (Movimento Sem-Terra), em Mato Grosso do Sul. Durante 5 anos, Dorcelina era repórter voluntária do jornal do movimento, admirada pela disposição, apesar de deficiência física na perna esquerda.

Os seis responsáveis pelo crime foram presos pela Polícia Civil em uma verdadeira "força-tarefa", mas estão soltos, uns porque já cumpriram pena e outros continuam foragidos.

O mandante do assassinato, Jusmar Martins da Silva, era amigo de Dorcelina, ocupava a Secretaria Municipal de Agricultura e Pecuária e foi, inclusive, coordenador da campanha dela à prefeitura.

"Dorcelina fez uma administração voltada para o interesse público e por isso fez inimigos. Aqueles que não queriam a ética na política e a participação popular procuraram calar a voz de Dorcelina", lembrou o amigo Pedro Kemp, deputado estadual da mesma corrente política da ex-prefeita.

Santa ? - Dez anos após o crime, muitos dizem que Dorcelina virou "santa". O túmulo dela é visitado diariamente. Muitas pessoas pedem algo em nome dela e quando conseguem, atribuem à prefeita assassinada o "milagre". "Já recolhemos diversas cartinhas de agradecimento, de pedidos, no túmulo dela", diz Marlene, que mora em Rondônia, mas vai a Mundo Novo anualmente. "São histórias de luta, que na frente vai Dorcelina. Eles não admitem ser outra coisa, a tratam como uma santa".

A irmã de Dorcelina diz que sabe de muitas histórias que colocam a prefeita como responsável pela realização de pedidos. "Tem um pessoal que pediu assentamento, conseguiu e colocou o nome de Dorcelina. A comunidade católica também tem o mesmo nome", conta Marlene. "A gente fica preocupado com isso", diz Marlene, referindo-se à posição da família, que é bastante católica.

Política - E foi na comunidade católica que Dorcelina deu início à vida de indignação e de lutas, encerrada aos 36 anos, com tiros de pistola calibre 380. A prefeita assassinada nasceu no Paraná e veio para Mato Grosso do Sul, ainda criança, com a família.

Filha de pais humildes, lutadores, e irmã caçula entre sete, ela aprendeu desde cedo a lutar. Dorcelina teve paralisia infantil que a deixou com deficiência na perna esquerda. Por conta disso, até a adolescência, era motivo de chacotas, mas se defendia sozinha.

Já jovem, Dorcelina era uma das lideranças da comunidade católica que freqüentava com a família e por circular muito bem entre as minorias, se tornou correspondente do jornal nacional do MST em Mundo Novo, onde atuou por cinco anos, como lembrou Egídio. A irmã, se recorda do que Dorcelina fazia para estar 'bem informada'. "Ela chegou a se vestir de freira. Pegar identidade de freira, para entrar junto com policiais em um acampamento", lembra a irmã.

Devido ao espírito de liderança, Dorcelina fez muitas amizades na esquerda e se filiou ao PT. Partido pelo qual foi candidata à vereadora por duas vezes, não sendo eleita em nenhuma por causa da legenda, apesar de ter tido expressiva votação em ambas.

Em 1996 Dorcelina foi eleita prefeita com 3.422 votos e assumiu a prefeitura em 1º de janeiro de 1997. "Aos poucos Dorcelina vai conhecendo a herança que recebeu de seus antecessores. Encontraram a prefeitura endividada, fornecedores e funcionários sem receber seus proventos", consta no livro assinado pela delegada de Polícia Civil Vilma Fátima de Carvalho

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