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Cidades

Retrospectiva: Eles sobreviveram ao trânsito violento

Redação | 31/12/2009 09:05

A violência no trânsito tem na morte a sua faceta mais trágica, contudo não é a única. Entre janeiro e outubro de 2009, estatísticas do Detran (Departamento Estadual de Trânsito) mostram que os 6.270 acidentes de trânsito registrados em Campo Grande deixaram 5.872 feridos, uma população equivalente a do município de Bandeirantes.

No último dia de 2009, o Campo Grande News relembra histórias de sobreviventes. Pessoas a quem acidentes de trânsito impuseram desafios para toda a vida e que estão recuperando seus sonhos e o gosto pela vida.

Rayssa Favaro, de 19 anos, demorou dois meses para compreender que tinha sido vítima de um acidente de trânsito. Depois do coma, a sensação era indefinida, algo entre ter sido abduzida ou hipnotizada. Ainda no hospital, a nova situação trouxe até mesmo a suspeita de que não contava mais com o amor do pai Valter Favaro, superintendente da PRF (Polícia Rodoviária Federal) em Mato Grosso do Sul. "Pensava que não gostavam mais de mim. Como meu pai podia me deixar com dentes quebrados?", perguntava-se a si mesma.

A parte da própria história que Rayssa não consegue se lembrar é a manhã do dia 21 de abril, feriado de Tiradentes. No cruzamento das ruas Bahia e Mato Grosso, em Campo Grande, a jovem dirigia um Fiat Uno, quando houve a colisão com um Honda Civic, ocupado por Marcelo Broch, de 18 anos, e um primo menor de idade. No momento da colisão, o Uno trafegava 40km/h, enquanto o Honda estava em 103km/h, 70% acima da velocidade permitida na via.

Rayssa, que sobreviveu por milagre, luta agora para retomar sonhos, como voltar à universidade e concluir o curso de Direito. Em uma cadeira de rodas, a jovem fala e se movimenta com extrema dificuldade. Os médicos não dão esperanças de que ela volte a andar.

A nova condição impôs mudanças radicais no dia a dia. Rayssa resume a nova rotina a três atividades: "comer, dormir e fazer fisioterapia". A busca por melhoras exige duas sessões diárias de fisioterapia, além de fonoaudiologia e consultas médicas. Com o amparo e o carinho da família, a expectativa é conseguir uma vaga no hospital Sara Kubitscheck, em Brasília, referência para este tipo de tratamento. Após a tragédia, Rayssa conta que até voltaria a dirigir, mas não enfrentaria o trânsito de Campo Grande sem um veículo que contasse com ao menos oito airbags. Depois de sete meses de investigação, a Polícia Civil pediu o indiciamento de Marcelo, que não possuía CNH (Carteira Nacional de Habilitação), por lesão corporal dolosa.

De pé - Pode acontecer daqui a cinco ou dez anos, mas a jornalista Ana Paula Cardoso, de 26 anos, prometeu a si mesma que um dia trocará a cadeira de rodas por muletas. "Tenho confiança que vou me recuperar. Digo a Deus que seja feita a sua vontade, mas Ele também conhece a minha. E quero voltar a andar", afirma, com fé, esperança e determinação.

Repórter da emissora Record em Campo Grande, Ana Paula sofreu um acidente em fevereiro deste ano, na rodovia GO-225, entre Pirenópolis e Brasília. A viagem de férias foi interrompida quando o veículo em que ela estava capotou. "Lembro do capotamento e que os meus braços travaram ainda dentro do carro, um sinal da lesão na medula", recorda.

Entretanto, o problema só foi descoberto no terceiro hospital. "Disse que não sentia nada do pescoço para baixo. E o médico falou que estava tetraplégica. Minha irmã conta que chorei, mas não me lembro", relata sobre impacto da notícia. Com o diagnóstico correto, ela passou por cirurgia e deu início ao tratamento na rede Sara Kubitscheck.

O fato de não ter sofrido ruptura na medula renova a esperança de voltar a andar. A recuperação é em longo prazo, pois a medula demora dois anos para desinchar.

Depois de dez meses, é tempo de comemorar vitórias: como a sensibilidade, antes restrita até os ombros, já se estender pelos braços ou poder ficar sentada na cama sem a proteção de travesseiros, pois a volta do equilíbrio impede que o corpo tombe.

Ana Paula, que voltou para a casa, em Campo Grande, no dia 14 de dezembro, conta que o dinheiro arrecadado com a campanha de doações será aplicado na reforma do banheiro e na compra de uma cadeira de rodas que se adapte melhor ao seu tamanho. Pela frente a rotina é árdua e dispendiosa, com sessões de fisioterapia, natação, musculação. Mas Ana Paula não já não cogita mais desistir. "

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