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Capital

"Abusador sempre está por perto", alerta delegada para aos pais e mães

Zana Zaidan | 27/04/2014 12:29
Para delegada Regina, adotar o "comigo não acontece" impede que pais identifiquem potenciais abusadores (Foto: Arquivo)
Para delegada Regina, adotar o "comigo não acontece" impede que pais identifiquem potenciais abusadores (Foto: Arquivo)

Recentemente, os casos de abusos sexual vem à tona com mais frequência. Histórias como a da adolescente de 14 anos, filmada enquanto era abusada por três colegas de escola, e do menino de 10, acuado e violentado também por alunos dentro de uma instituição de ensino de Campo Grande, estimulam que o crime seja denunciado. 

Neste ano, 14 casos de menores vítimas de abuso sexual foram registrados na DPCA (Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente), até a primeira quinzena de abril, duas delas, acima citadas, dentro de escolas, o que acendeu o alerta de pais e educadores. No mesmo período de 2013, foram 12 ocorrências, no entanto, nenhuma delas no ambiente escolar.

"Não houve crescimento significativo", considera a delegada titular da DPCA, Regina Márcia, e a incidência, explica, está relacionada ao fato de que o assunto ainda é tabu. "É preciso que as crianças saibam do que se trata. Só que ninguém fala nada, as pessoas preferem fingir que não existe", afirma. 

A orientação, acrescenta, é para que os pais não fechem os olhos, e admitam para si próprios que o filho pode estar sujeito, independente de classe social. "Os pais precisam entender que quem tem esse tipo de conduta criminosa, na maioria da vezes, está próximo à criança, no ambiente escolar ou familiar, e que qualquer um está sujeito a isso", explica.

Ao ver punições para os abusadores, menores se sentem desencorajados a cometer o crime, diz delegada Roseman (Foto: Arquivo)
Ao ver punições para os abusadores, menores se sentem desencorajados a cometer o crime, diz delegada Roseman (Foto: Arquivo)

Psicóloga e doutora em Educação, Beatriz Xavier vai além, e acrescenta que, por falta de orientação, a criança muitas vezes não sabe como agir. "É preciso conversar abertamente sobre o assunto, e ensinar como essas pessoas agem, que meios elas usam para convencer e até mesmo como podem ameaçar a criança para que ela não procure ajuda", diz. "E essa orientação teve estar presente em todos os âmbitos de convivência, na escola e em casa. Principalmente se houve um episódio próximo à criança, caso dos alunos que frequentam esses colégios onde os crimes aconteceram", ressalta.

Outro fator essencial, diz Xavier, é estreitar as relações com os filhos e, assim, ser capaz de notar alterações de comportamento que mereçam atenção. "Ao perceber alguma coisa estranha ou se a criança ficar mais retraída ou mais agressiva, por exemplo, procure saber o que aconteceu e não o deixe sozinho. Não significa necessariamente que o abuso aconteceu, mas é um indício e exige averiguação".

À frente da Deaij (Delegacia Especializada de Atendimento à Infância e a Juventude), que investiga menores acusados de cometer os abusos, a delegada Roseman de Paula frisa que, apesar de a sociedade estar mais consciente, muitos casos nem chegam à Polícia.

"É uma faca de dois gumes porque, em geral, o abusador é parente, ou amigo da família, alguém próximo. Apesar de mais conscientes da necessidade de denunciar, ainda há uma resistência, porque ninguém quer entregar um tio, um avô ou alguém que esteve ao lado da família por anos", exemplifica.

Sobre a incidência de casos que, recentemente, chocaram a população e, por isso, tiveram grande repercussão, a delegada conclui que "contribuem para o fim da sensação de impunidade do adolescente". "É uma questão pedagógica. Nas escolas onde ocorreram os abusos, por exemplo, dificilmente os estudantes vão se envolver em práticas como essas, por um bom tempo, porque viram as consequências para os suspeitos", afirma.

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