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Capital

"Deixaremos a cidade estruturada", diz De Marco sobre obras

Em entrevista ao Campo Grande News, João Antonio De Marco faz um balanço das obras nos últimos seis anos frente à Seintrha e afirma que nova administração ainda terá desafios

Carlos Martins | 02/12/2012 09:54
De Marco: Administração Nelsinho Trad entrega uma cidade preparada e estruturada ao futuro prefeito (Foto: Rodrigo Pazinato)
De Marco: Administração Nelsinho Trad entrega uma cidade preparada e estruturada ao futuro prefeito (Foto: Rodrigo Pazinato)

Depois de ter comandado nos últimos seis anos obras de impacto na capital, o piloto destas transformações tem a consciência do dever cumprido. O titular da Secretaria Municipal de Infraestrutura, Transporte e Habitação (Seintrha), João Antônio De Marco, começa a limpar as gavetas para voltar à iniciativa privada. Mas até 31 de dezembro, ao lado do prefeito Nelsinho Trad, ele deixa encaminhado junto ao Governo Federal projetos de mais de R$ 1 bilhão, dinheiro do PAC para a mobilidade urbana, para a construção de 12 corredores exclusivos para o transporte coletivo, e também para a construção de mais 900 km de asfalto junto com a drenagem.

Mas para que esse dinheiro venha realmente, a partir de janeiro várias etapas devem ser cumpridas. É aí que ele faz um alerta para a futura administração que terá no comando o prefeito eleito Alcides Bernal (PP) : “são passos que não devem ser perdidos, tudo é encaixado em datas. Isso significa que se você perder uma data, você perde o projeto. Isso vale para o PAC 3 e para a mobilidade urbana. A partir do ano que vem tem uma série de eventos que devem ser cumpridos. São datas que o próximo prefeito tem que cumprir”.

Em entrevista ao Campo Grande News, De Marco, engenheiro eletricista de profissão (formado pela Universidade Federal de Santa Catarina), diz que a administração Nelsinho Trad entrega uma cidade preparada e estruturada ao futuro prefeito. Mas alerta que as obras devem ser sempre contínuas. Revela, também, que, com a implantação dos corredores, dentro das obras de mobilidade urbana, tudo aquilo que foi prometido à FIFA, no caderno de encargos, à época que disputava uma das sedes da Copa, estará sendo cumprido, com exceção, obviamente, da reforma do Morenão.

Ao fazer um balanço do que foi feito até agora e daquilo que ainda precisa ser executado, De Marco expressa sua preocupação com o trânsito da cidade.

Acompanhe os principais trechos da entrevista:

Campo Grande News – Como foram estes últimos seis anos à frente de uma secretaria que realizou obras que mudaram a cara da cidade?

João Antônio De Marco - Nestes seis anos tivemos um desafio muito grande. Foram momentos de muitas dificuldades. Aquela enchente nas imediações do shopping [Shopping Campo Grande] e que causou estragos na Rua Ceará [em dezembro de 2009]. Tivemos que intervir em uma situação de emergência. Elaborar projetos com extrema rapidez, alocar recursos. Discussões em Brasília. Aquele foi um momento de extremo trabalho, mas foi gratificante porque se solucionou o problema. Tivemos outras situações, como a aprovação de todos estes PACs [Programa de Aceleração do Crescimento do Governo Federal]. Esse foi um desafio técnico gerencial muito grande, porque conseguimos realizar em Campo Grande coisas que antes nem se imaginava. Como abrir os parques lineares. Avenidas do Imbirussu, Lagoa, Cabaça, Segredo, pavimentar bairros, obras de drenagem. Foram grandes desafios.

Campo Grande News – Para a execução destes projetos foi muito importante o bom relacionamento com o Governo Federal.

De Marco - Os recursos federais, incluindo os recursos do PAC e de outros programas, passaram dos 400 milhões de reais. O relacionamento do prefeito Nelsinho Trad [PMDB] com o Governo Federal sempre foi harmonioso, positivo, e os resultados está aí, podem ser vistos. Na obra do Complexo Imbirussu, só do Governo Federal foram mais de 80 milhões de reais do PAC. No Complexo Lagoa, o investimento passou dos 40 milhões de reais. Teve dinheiro do PAC e mais contrapartida por meio de empréstimo. Teve a Orla Morena, a Orla Ferroviária com 30 milhões de dólares do BID [Banco Interamericano de Desenvolvimento] mais o equivalente como contrapartida da prefeitura. Estas são as obras de maior vulto.

Campo Grande News - Estas regiões foram muito beneficiadas, com maior qualidade de vida a seus moradores.

De Marco – Exatamente. A Orla Morena virou um point da cidade. É um lugar muito bonito. Assim como ficou a Avenida Duque de Caxias na chegada a Campo Grande para quem vem do aeroporto. Transformou completamente a aparência. É como um cartão de visita. São projetos grandiosos que mudaram o cenário da cidade. Por outro lado você tem obras estruturantes. Como a Cabaça [córrego], de onde as famílias foram transferidas para conjuntos habitacionais e o local foi revitalizado. Esse é o resultado do bom relacionamento com o Governo Federal e é bom que se diga com o apoio da bancada federal, que foi muito parceira.

"Deixaremos a cidade estruturada", diz De Marco sobre obras

Campo Grande News. - O senhor citou como um grande desafio àquela enchente que causou estragos na Rua Ceará. O que está sendo feito?

De Marco – O combate às cheias é outra preocupação. Fizemos nossa parte, mas há muito por fazer. O Plano Diretor de Drenagem, que nós implantamos, tem que ser seguido sempre. Para o controle de alagamentos já não se fala mais em canalização, e sim em manejo das águas. Vou dar um exemplo. O córrego Prosa, que começa perto do shopping [Campo Grande]. Ele recebe ás águas do Córrego Sóter, que vem lá de cima do Parque do Sóter e recebe aquele córrego que passa no meio do Parque das Nações Indígenas, que é o Joaquim Português. Joga tudo no córrego do Prosa, que já tem uma bacia muito grande em seu entorno.

Por causa do desenvolvimento urbano, foi se construindo, foi se ocupando. Você fez asfalto, as pessoas fizeram casas, pavimentaram o quintal. Então toda aquela água, que era natural, batia no solo e infiltrava e ia muito pouco para o córrego. Então, agora com as construções, pavimentação, toda a água vai para o córrego. Aí o córrego transborda, dá enchente, alagamento. Para combater isso, o tratamento moderno é você fazer represas, barragens. Essa água não pode vir tudo para baixo. Se não vai causar alagamentos. Tem que fazer barragens lá em cima para segurar. Segura por 25, 20 minutos. Com isso dá tempo para o sistema de drenagem escoar a água em baixo. Aí a barragem vai soltando a água, com isso você não tem enchente.

Campo Grande News – Quantas barragens já têm?

De Marco – Só no Sóter temos cinco barragens. Precisamos fazer mais duas barragens dentro do Parque das Nações Indígenas. Precisa de mais uma barragem ou lago de retenção na Avenida Mato Grosso, naquele corregozinho, antigo pesqueiro, perto da Caixa Econômica. Ali é um ponto de muita contribuição para os alagamentos, precisa ter um controle ali.

Campo Grande News – Isto faz parte dos projetos?

De Marco - Está no Plano Diretor de Drenagens, que prevê os locais. Agora, qual o passo seguinte? É elaborar o projeto executivo e obter os recursos. Isso vai ter que fazer, como nos fizemos até agora. A exemplo do trânsito, isso é um trabalho continuo. A cidade vai crescendo, vai se desenvolvendo. Então tem que fazer estes trabalhos, de manejo das águas. Na década de 70 se usava canalizar os córregos, se canalizava as laterais dele, tapava, e vinha aquela chuvona. Naquele ponto não alagava nunca mais. A enchente era lá em baixo, mudava a enchente daqui mais para baixo. Nós fizemos canalizações para conter desbarrancamento, mas fizemos o manejo das águas. São ações complementares. Você tem que fazer as barragens e o tratamento lateral dos córregos. São 33 córregos e todos eles com problemas. A cidade vai crescendo e os problemas vão aparecendo. O córrego Segredo até quatro anos atrás não tinha problema, agora apareceu. É um processo, cada prefeito tem que fazer sua parte. Tem uma máxima na engenharia que diz: a maior chuva está por vir.

Campo Grande News – Pessoas que visitam Campo Grande falam sobre as largas avenidas implantadas, que ligam a cidade.

De Marco – São obras importantes que foram feitas para atender demandas de uma cidade em crescimento, que tem mais de 800 mil habitantes e cerca de 430 mil veículos registrados. Tem a avenida do córrego Imbirussu, da Lagoa, que sai do aeroporto e vai até o macroanel; a do córrego Segredo, que vai da Avenida Mascarenhas de Moraes até a Rua Pintassilgo e agora com o PAC 2 nós vamos interligar da Mascarenhas até a Avenida Assaf Trad completando a ligação norte-sul; a Avenida Fábio Zahran [córrego Cabaça]; a Duque de Caxias, do aeroporto até a Praça Newton Cavalcante na Afonso Pena; no córrego Bálsamo tem a avenida que está em implantação que vai do macroanel até a Avenida Gury Marques; e ainda terá a continuação do córrego Segredo até a Assaf Trad; a revitalização total da Avenida Ernesto Geisel ao lado do córrego Anhanduizinho com a revitalização do canal com reurbanização; ainda a Avenida Duque de Caxias que foi totalmente revitalizada e será entregue no final do ano.

Campo Grande News – E existem projetos em andamento para melhorar ainda mais a mobilidade urbana.

De Marco – Entramos com um projeto no Governo Federal, que é o nosso projeto de mobilidade urbana no valor de 180 milhões, que está totalmente aprovado já com execução para o ano que vem. Terá 12 corredores exclusivos para o transporte coletivo urbano. Isso vai fazer com que o transporte coletivo de Campo Grande tenha um salto de qualidade e se torne igual ou equivalente a cidades do porte de Curitiba, Goiânia, da própria Bogotá [Capital da Colômbia] que estivemos visitando. Os corredores serão no canteiro central aproveitando parte da pista, com estação de embarque e de desembarque. O projeto prevê a construção de mais quatro terminais e um viaduto com as avenidas Gury Marques e Interlagos próximo a Coca-Cola. Tudo isso está contido nesse projeto e já com os recursos garantidos, destinados exclusivamente para isso.

Os corredores estarão aptos a receber o BRT [Bus Rapid Transit – sistema de ônibus de alta capacidade] cujo projeto por ocasião da disputa pela sede da Copa do Mundo, foi apresentado ao Ministério das Cidades, que acatou nossa proposta, sem nenhum corte. As obras começam no ano que vem e em três anos estarão prontas.

Campo Grande News – Um destes corredores passará pela Avenida Afonso Pena?

De Marco – Ainda está em discussão, mas não está definido. Mas dentre os corredores já estão definidos na Avenida Bandeirantes, que será totalmente revitalizada, repavimentada, recebendo sinalização especial, recapeamento. Também na Rua Brilhante e nas avenidas Gury Marques e Assaf Trad.

Campo Grande News – Outro projeto importante é o que prevê mais asfalto para as ruas de Campo Grande.

De Marco - É o projeto PAC 3 de pavimentação e requalificação de vias no valor de 896 milhões de reais. Somados aos 180 milhões de reais para a construção dos corredores, são mais de 1 bilhão de reais que Campo Grande terá em investimentos. O dia 23 de novembro foi a data definida pelo Ministério das Cidades para a entrega dos projetos básicos na Caixa Econômica Federal e nos fizemos isso, cumprindo com o calendário ditado pelo Ministério das Cidades. Temos hoje 2.300 quilômetros de ruas asfaltadas na Capital e em torno de 1.800 quilômetros para asfaltar. Os recursos do PAC 3 serão aplicados para obras de asfalto e drenagem em cerca de 900 quilômetros de vias, ficando ainda uns 900 quilômetros para serem asfaltados.

Campo Grande News - Qual a previsão do inicio destas obras?

De Marco - Até o final do próximo ano tudo tem que estar pronto: concorrência feita, empresas contratadas. Porque no início de 2014 a presidenta Dilma [Rousseff] quer dar a ordem de serviço para o Brasil inteiro. Se formos aplicados e competentes, vamos ter 1 bilhão de reais par investir só neste setor.

"Deixaremos a cidade estruturada", diz De Marco sobre obras

Campo Grande News – Recentemente o prefeito Nelsinho Trad manifestou preocupação a respeito dos prazos. Ele relatou que não estava conseguindo falar com o prefeito eleito, Alcides Bernal , do PP, para tratar sobre os prazos que devem ser seguidos para não se correr o risco de perder os recursos.

De Marco – Realmente existe essa preocupação. Como eu já disse, no dia 23 de novembro entregamos os projetos básicos do PAC 3 para a Caixa Econômica Federal . Cumprimos com o calendário do Ministério das Cidades que estipulou aquela data para a entrega. Daqui para frente tem um cronograma de datas e eventos que a administração futura tem que cumprir. O projeto executivo deve ser discutido em Brasília. Serão chamados em Brasília para defender o projeto. É a defesa presencial, finalização do projeto executivo. Parte do valor é financiado, então tem que entrar com pedido de financiamento junto à Secretaria do Tesouro Nacional. São passos que não devem ser perdidos, tudo é encaixado em datas. Isso significa que se você perder uma data, você perde o projeto. O que for da nossa competência, até o dia 31 de dezembro estaremos cumprindo com todas as obrigações. Isso vale para o PAC 3 e para a mobilidade urbana. A partir do ano que vem tem uma série de eventos que devem ser cumpridos. São datas que o próximo prefeito tem que cumprir.

Campo Grande News – Como estão as obras da ciclovia na Avenida Afonso Pena?

De Marco – Esta ciclovia tem uns oito quilômetros de extensão. Vem da Praça Newton Cavalcante, lá em cima na Afonso Pena, e dali vai até o Parque dos Poderes. Está sendo finalizada e a inauguração será no final de dezembro. E o mais importante nessa ciclovia é que ela é no circuito Oeste – Leste. Começa no Distrito Industrial, no Indubrasil, vem até a Vila Popular, atravessa o aeroporto, e integra com a ciclovia da Duque de Caixas, chega na Praça Newton Cavalcante e integra com a nova ciclovia na Afonso Pena e vai até o Parque dos Poderes. Hoje a cidade praticamente tem seu circuito norte-sul e leste-oeste integrado por ciclovias, com cerca de 80 quilômetros de extensão.

Campo Grande News – É mais uma alternativa para a mobilidade urbana, com segurança para o usuário.

De Marco – Hoje você vê grupos que praticam o ciclismo em função do aparecimento das ciclovias. A ciclovia é uma demanda do desenvolvimento urbano, das grandes cidades, que, como já citei, são exemplos de mobilidade urbana. São cidades muito bem dotadas de ciclovias. No projeto de mobilidade urbana, cada terminal terá seu bicicletário. Ou seja, o cidadão chega de bicicleta, pega o ônibus e se desloca. Também há uma ideia que já vimos em outras cidades de se locar bicicletas. São modalidades de transporte que vão se integrando.

O trânsito deve merecer atenção especial da futura administração (Foto: Rodrigo Pazinato)
O trânsito deve merecer atenção especial da futura administração (Foto: Rodrigo Pazinato)

Campo Grande News – Qual tema deve ser tratado com atenção pela futura administração?

De Marco – É a questão do trânsito. É um problema a ser resolvido que tem que ser trabalhado. Temos alguns gargalos. Você abre uma avenida e imediatamente ela passa a ter um fluxo muito violento e o exemplo é a avenida da Lagoa. Essa é uma demanda que tem que ser resolvida no dia a dia, com planejamento, com aplicação, com bastante atenção.

Campo Grande News - O que fazer para melhorar ainda mais.

De Marco – Como já disse, melhorar o trânsito, a mobilidade urbana. Acho isso fundamental. Campo Grande tem um problema muito sério que não depende da administração municipal, que é o aeroporto, que precisa receber investimentos, melhorar o embarque, o desembarque, o bem estar das pessoas. Quando nos pleiteávamos ser uma das sedes da Copa do Mundo 2014, preparamos um trabalho para a FIFA e Campo Grande, comparado com outras cidades, só precisava praticamente de estádio e de aeroporto. Nós perdemos a sede porque entramos atrasados com Mato Grosso. Eles iniciaram juntos, com a escolha do Brasil para ser a sede. Mas tudo o que nos propusemos à FIFA, falamos que ia estar pronto para 2014, com exceção do estádio, tudo está acertado. No ano que vem iniciamos a mobilidade urbana e até 2014 teremos os corredores prontos.

Campo Grande News - Qual é a herança que a atual administração deixa para o futuro prefeito?

De Marco - Acho que deixamos uma cidade estruturada, com grande parte dos problemas resolvidos. Mas ainda existem desafios. É uma cidade dinâmica, que cresce. É um ser vivo que se movimenta. Vamos deixar Campo Grande preparada com uma boa estrutura boa. Talvez poucas cidades o Brasil tenham a infraestrutura de Campo Grande, que tenha um projeto de mobilidade já aprovado. Cidade com mais de 60 por cento de rede de esgoto e que tem a previsão de ter 100 por cento de saneamento, rede de esgoto, nos próximos cinco ou sete anos. Isso a concessionária [Águas Guariroba] está fazendo, mas exige uma presença muito forte da Agência de Regulação do município, que tem que estar cobrando, fiscalizando, exigindo.

É uma cidade que tem quase cem por cento de água tratada, que tem sua malha viária, com avenidas largas, preparadas para transporte futuro, de massa, com outro modal, que pode ser o VLT [Veículo Leve sobre Trilhos]. Você tem uma cidade com o aspecto urbanístico muito bem cuidado, com praças, avenidas, bem cuidadas. É uma tradição de Campo Grande e não é só dessa administração. Faltam cinco por cento das obras físicas para concluir o terminal intermodal de cargas, que deve entrar em operação no ano que vem. Isso representa um salto muito grande na economia da cidade. Muda totalmente a economia da cidade. Ela começa a ser centro de uma atividade de transporte que engloba toda a atividade econômica de uma região num raio de 500 quilômetros beneficiando empresas que podem exportar seus produtos ou fazer importação.

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