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Capital

"Desiludido", morador de rua encontra solidariedade para sobreviver ao frio

Bruno Chaves | 24/07/2013 15:44
Genildo e Rejânio conversam com a reportagem e explicam como enfrentam o dia-a-dia nas ruas (Foto: Pedro Peralta)
Genildo e Rejânio conversam com a reportagem e explicam como enfrentam o dia-a-dia nas ruas (Foto: Pedro Peralta)

Se não bastasse o sofrimento de conviver diariamente com a hostilização das pessoas e os percalços da vida nas ruas, os andarilhos de Campo Grande, que não possuem uma casa para chamar de lar, padecem com o frio intenso, com sensação térmica de até -4ºC, que assola a cidade.

Nos últimos dias, a situação de cerca de 30 moradores de rua, que sobrevive no em torno do Jardim Paulista, bairro de classe média de Campo Grande, tem sido suportada graças ao reforço no auxilio prestado por comunidades cristãs e moradores do local. O calor humano de religiosos tem sido o alento para quem sobrevive ao "relento" e sob o "teto das estrelas".

Na tarde de hoje (24), o Campo Grande News encontrou parte desse grupo no cruzamento das ruas Simon Bolívar e Oclécio Barbosa Martins. Cada um dos moradores de rua teve um motivo para sair de casa. Por problemas familiares, de vícios ou de oportunidades, eles acabaram vendo a rua como única opção e tiveram que aguentar os obstáculos que viriam a seguir.

Das pessoas que estavam “acampadas” nas calçadas, apenas Genildo Fernandes, de 37 anos, e Rejânio Morjireth, de 33, quiseram conversar com a reportagem sobre o frio e as condições que enfrentaram nos últimos dias. “Fazemos uma fogueirinha. Só assim para conseguir suportar”, explicou Genildo sobre as formas de espantar o frio.

Ele conta que os moradores do bairro não implicam com a presença do grupo. Pelo contrário, muitos doam cobertas e pratos de comida. “O povo daqui gosta da gente. Os moradores sempre ajudam”, define.

Questionado sobre os motivos que o fizeram a procurar a rua para morar, o homem disse, acanhado, que “a caminhada da vida” o levou até ali. “Não tem como explicar. Só aconteceu”, simplificou dizendo que há quatro anos tem as calçadas como lar.

O morador confidenciou que saiu de casa depois que os pais morreram. Ele era de Sidrolândia – a 71 quilômetros de Campo Grande. Largou os familiares para “enfrentar” a vida da Capital.

Sentado ao lado de Genildo, Rejânio ouvia o diálogo repórter/entrevistado quando resolveu intervir. “Houve desavença na minha família. Eu fiquei desgostoso e sai de casa. Gostava muito da minha mulher, mas não deu certo”, concluiu antes de ser questionado.

Rejânio trocou a frieza de seu relacionamento conjugal pela frieza das ruas. O preço pago pelo homem foi a perda de contato com a filha, que mora em Campo Grande. “Agora eu sou sozinho. Depois de brigas e vício com a bebida, continuei sozinho”, afirmou.

Moradores de rua sobrevivem em um acampamento improvisado no Jardim Paulista (Foto: Pedro Peralta)
Moradores de rua sobrevivem em um acampamento improvisado no Jardim Paulista (Foto: Pedro Peralta)
Alguns metros do acampamento, outro morador dorme na calçada do bairro (Foto: Pedro Peralta)
Alguns metros do acampamento, outro morador dorme na calçada do bairro (Foto: Pedro Peralta)

Os voluntários de templos religiosos, como a Igreja Universal do Reino de Deus, que fica na Avenida Mato Grosso, são as companhias mais comuns que os moradores de rua têm. Toda quinta-feira, voluntários distribuem comidas e roupas. No frio, agasalhos e cobertores entram na lista das doações.

“Quando o calor vem, não jogamos nada fora. Colocamos na sacolinha e carregamos”, explica Genildo sobre as temperaturas mais comuns na cidade.

Dessa forma, ganhando comida e recorrendo à igreja para conseguir roupas e banhos, os andarilhos da atualidade enfrentam, juntos, a solidão encontrada nas ruas. Sem motivação e vontade para voltar à “sociedade” organizada, a vida segue para os que não tem projeção de futuro e apenas querem um dia após o outro.

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