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Capital

A cidade Moreninhas, onde você nasce e morre

Paula Vitorino | 04/11/2011 08:42

Conhecida por ser uma “cidade à parte” de Campo Grande, a região das Moreninhas já conta com os serviços essenciais à população, desde o nascimento até a morte

População consegue fazer de tudo dentro do bairro. (Fotos: João Garrigó)
População consegue fazer de tudo dentro do bairro. (Fotos: João Garrigó)

Quem é morador das Moreninhas se orgulha em não precisar sair do bairro para quase nada. A “cidade”, dividida entre a unidade 1 e 4, conta com agências bancárias, lotéricas, comércio variado, terminal de ônibus, unidades de saúde e policial, escolas, área de lazer e até rádio.

O atendimento vai desde o nascimento, que acontece na maternidade das Moreninhas, até a morte, com o cemitério do bairro. Tudo é oferecido a poucos metros de distância das residências.

“A população faz tudo praticamente aqui, não precisa ir pro Centro. As nossas crianças já nascem aqui, são Moreninhas desde o nascimento”, diz orgulhoso o porteiro Claudio Einar Moraes Gomes, de 42 anos, mais conhecido como “Pelé”.

O serviço da maternidade não beneficia somente os “moreninhas”, mas também as mães de bairros vizinhos, como Angela Aparecida de Souza, de 36 anos. Ela é moradora do bairro Los Angeles e deu a luz ao segundo filho no bairro vizinho.

Para ela, o atendimento próximo da residência facilitou na gestação. “Gostei do atendimento, mais do que as do Centro. Para mim facilitou muito por ser mais perto, já que grávida ficava mais difícil ainda me locomover”, diz segurando o filho de apenas 1 mês de idade.

A Moreninhas é o 6º bairro mais populoso da Capital, com 22.701 pessoas, segundo dados do IBGE de 2010. Mesmo sendo considerado por muitos anos como o mais numeroso, o bairro tem mais de 10 mil moradores a menos que o primeiro colocado, Aero Rancho.

Morador se orgulha em ser um dos primeiros residentes da Moreninhas.
Morador se orgulha em ser um dos primeiros residentes da Moreninhas.

Até que a morte os separe - O bairro comemora 30 anos neste ano, no dia 31 de dezembro, e o morador Edson Remido de Assis, de 68 anos, tem orgulho em ter sido um dos primeiros a escolher a Moreninhas como sua casa.

Ele lembra como se fosse hoje o dia em que ficou sabendo das casinhas novas num tal de Moreninhas, na saída para São Paulo.

“Morávamos no Guanandi quando ficamos sabendo. Minha mulher ficou o dia inteiro na rodoviária para conseguir uma ficha de sorteio das novas casas que estavam construindo. Quando saiu meu nome entre os sorteados foi uma alegria”, conta.

O comerciante também conta que o começo foi difícil, era só mato em volta e o bairro ficava isolado da cidade. A violência na região também deixava os moradores com medo e vergonha.

Mas ele garante que mesmo nas dificuldades nunca quis sair do bairro, que ele “gosta, não sei o porquê, mas gosto”.

Da rua só com casinhas e mata, hoje ele vislumbra o desenvolvimento da região, que ele não quer sair nem depois de morto.

“Posso morrer em outro canto, mas já falei que tem que trazer para ficar aqui”, diz.

Seo Edson transferiu o local de descanso logo que o cemitério ficou pronto nas Moreninhas e já tem seu jazigo reservado. "Logo que inaugurou aqui ganhei a transferência de presente. É o que desejo", diz.

Quando tenta explicar o motivo para tanto amor pelo bairro seus olhos brilham. “Gosto muito daqui, do povo. Acredito que é um lugar abençoado por Deus. Passamos por muito aperto, mas hoje o bairro tá melhor que muitos outros da cidade”, frisa.

Rádio completa 8 anos, levando informação comunitária da Moreninhas e também conquistando ouvintes do mundo inteiro.
Rádio completa 8 anos, levando informação comunitária da Moreninhas e também conquistando ouvintes do mundo inteiro.

Tem tudo - O desejo de ficar nas Moreninhas está também entre os jovens, como a secretária Cristiane Fernandez, de 25 anos, que considera o lugar “bom e tranquilo”.

Ela diz que agora a região tem de tudo bem pertinho, mas brinca que só falta mesmo uma loja da Casas Bahia para completar. Sobre a distância, a jovem diz que trabalha no centro e garante que faz o percurso de ônibus rápido.

A diversão nos fins de semana para os jovens do bairro é geralmente nas festas organizadas nas próprias casas, conta a moradora. Mas ela admite que quando os amigos decidem sair para alguma barzinho ou balada precisam ir para a região central.

O comércio pelas ruas do bairro é formado principalmente por lojas de moradores da região. Os produtos são variados e todos garantem que o preço é melhor do que o oferecido no Centro de Campo Grande.

O balconista José de Lima Neto, de 41 anos, mais conhecido por “Zé da Farmácia” mantém a família há cerca de 23 anos com o que ganha nas Moreninhas.

Ele explica que como o sustento vem do bairro, os gastos também são feitos na região, como forma de retribuição. “Faço tudo por aqui mesmo, não vou pro centro. Gosto de valorizar a região e acho justo, pois se eu ganho o dinheiro aqui, tenho que gastar aqui também. É uma troca”, justifica.

A independência do bairro também é vista na comunicação, com a rádio Moreninhas, que neste ano completa 8 anos e ganha sede nova. O estúdio será ampliado e passará a ter sua própria gravadora.

Moradores reclamam de transporte e trânsito no bairro.
Moradores reclamam de transporte e trânsito no bairro.

Mas o que falta? - Apesar de parecer ter tudo, os moradores reivindicam algumas carências do bairro. A questão do transporte é campeã.

“É muito lotado, muito, muito mesmo”, diz Cristiane.

O membro do Conselho do bairro, Milton Emídio de Souza, diz que o problema da superlotação é antigo e seria resolvido se mais ônibus fossem colocados em circulação para o bairro, além de mudar a rota dos veículos.

“A linha Moreninhas acaba sendo usada por muitas pessoas de outros bairros e quem mora aqui não consegue pegar o ônibus no centro, tem que pegar no Guanandi depois que os passageiros descem ali. Se ele não passasse no terminal Guanandi ia melhorar muito”, diz.

O seo Edson pede melhorias no trânsito e acesso ao bairro. “Só tem um acesso a Moreninhas e o trânsito está ficando cada vez mais cheio de carros. Precisam abrir novos acessos”, diz.

Ele também ressalta a necessidade de sinalização e recapeamento nas ruas. “Está ficando um perigo”, diz.

Segurança, incentivo ao esporte e saúde também são pontos reivindicados. Na questão da saúde, Emidio diz que o problema é a falta de médicos, principalmente pediatras.

Além da maternidade, o bairro conta com unidade 24h de saúde e está sendo construída uma UPA (Unidade de Pronto Atendimento Comunitário), que atende ocorrências graves de urgência.

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