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Capital

A dor de quem perdeu parentes com os "erros" da Máfia do Câncer

Mariana Lopes | 31/07/2013 20:55
Iara durante o depoimento sobre a morte de seu pai (Foto: Cleber Gellio)
Iara durante o depoimento sobre a morte de seu pai (Foto: Cleber Gellio)

Do primeiro ao último depoimento prestado na tarde de hoje, durante a 12ª oitiva da CPI da Saúde, o clima no plenarinho da Câmara Municipal de Campo Grande foi de comoção, com um misto de sofrimento e revolta dos familiares de vítimas que passaram pelos hospitais públicos da Capital e morreram em decorrência de negligência médica.

No total, oito pessoas foram convocadas a ir à sessão de hoje, mas compareceram somente cinco. As testemunhas relataram sobre o tratamento dos pacientes, o erro dos médicos e, ainda, o desvio de dinheiro. Praticamente todos se revoltaram, principalmente, com o descaso dos hospitais em relação aos enfermos.

Muitos dos depoimentos vieram acompanhados de vozes trêmulas e lágrimas que escorriam pelo rosto de cada familiar. A comoção abrangeu também vereadores e outras pessoas que acompanhavam a audiência. Por vezes, o silêncio imperava no plenarinho da Câmara, em respeito e solidariedade aos parentes das vítimas. De todas as oitivas, quiçá, a de hoje tenha sido a mais verdadeira.

Cirurgia - Um dos casos foi o da dona de casa Miriam Dias, de 36 anos. A mãe dela, Maria Domingues Lopes Dias, passou por uma cirurgia de transcateter femoral, em junho de 2012, no Hospital Universitário, e faleceu durante a operação.

Miriam conta que recebeu a notícia do falecimento da mãe pelo diretor do hospital da época, Luis Carlos Dorsa. “Ele explicou para a família que quando chegou com o cateter na altura do peito dela, o aparelho não passou e foi necessário abri-la, e então constataram que a região estava calcificada, mas afirmou que fizeram o procedimento normal e que a cirurgia tinha sido um sucesso, porém, quando foi fechar, o coração dela tremeu e ela morreu, e disse ainda que nem a equipe entendeu o que aconteceu”, relembra Miriam.

Miriam descobriu na imprensa que a mãe dela morreu por causa de um erro durante a cirurgia (Foto: Cleber Gellio)
Miriam descobriu na imprensa que a mãe dela morreu por causa de um erro durante a cirurgia (Foto: Cleber Gellio)

Mesmo com tantos detalhes suspeitos, que na época passaram despercebidos e hoje fazem total sentido, a família não desconfiou dos médicos. Porém, uma escuta divulgada na mídia levou às filhas a pedirem investigação da morte da mãe.

“Vimos no jornal a conversa do Dorsa, na qual ele fala sobre um procedimento cirúrgico que deu errado. A história era muito parecida com a da minha mãe, fomos atrás e foi confirmado que realmente era”, conta Miriam.

A cirurgia de Maria, segundo Miriam, custou R$ 500 mil, custeada pelo SUS. “Na escuta, o Dorsa fala que ele não dominava a cirurgia, então por que fez? Acredito que tenha sido pelo dinheiro, ou seja, a vida da minha mãe custou isso, R$ 500 mil”, desabafa Miriam.

Muito soro – Outro caso que está sendo investigado e foi ouvido na audiência de hoje foi o do pai da chefe de cozinha Iara Camilo Dipp, 34 anos. Luiz Dipp de Ramos, 64 anos, tinha câncer no pâncreas e, segundo a filha, ele morreu por causa de excesso de água no corpo.

“No meio do tratamento, o médico interrompeu a quimioterapia, prescreveu soro, mas não fez acompanhamento, e devido à quantidade de soro comprimiu os órgãos, pois ele estava retendo líquido”, explica Iara.

O relato dela foi um dos mais comoventes da audiência de hoje. Iara chorou praticamente do começo ao fim do depoimento dela. “Meu pai sofreu muito por falta de cuidados, ele morreu nos meus braços”, contou a chefe de cozinha.

Gabino quer justiça pelo neto (Foto: Cleber Gellio)
Gabino quer justiça pelo neto (Foto: Cleber Gellio)

Dipirona – O aposentado Gabino Lima, 59 anos, relatou o caso do genro dele, que morreu em tratamento a um câncer gástrico, no Hospital do Câncer. Ele contou que após análise do prontuário foi constatado que o medicamento que o genro dele estava recebendo era dipirona.

“No meio do tratamento conseguimos levá-lo para outra cidade, onde tiraram 8 litros de líquido do corpo dele. Os médicos questionaram o motivo de não terem feito isso aqui em Campo Grande”, conta Gabino.

O aposentado desabafou que o genro dele poderia ter recebido um tratamento mais humano. “Deixaram ele chorando de dor em uma cama e não fizeram nada”, lembra Gabino. Ele se emocionou ao falar do neto, de 4 anos. “Não quero que meu neto me pergunte se eu vi tudo isso acontecer com o pai dele e não fiz nada, por isso, me coloco à disposição das investigações”, ressalta o aposentado.

Ainda segundo Gabino, a avaliação da força-tarefa, que investiga a morte do paciente, o tratamento foi insuficiente. “Temos uma indústria da morte nos hospitais de Campo Grande”, pontuou o vereador Marcos Alex (PT), membro da CPI da Saúde.

CPI - Segundo o presidente da comissão, vereador Flávio César (PT do B), membros da CPI irão a Brasília na próxima semana para um encontro com o ministro da Saúde. Na ocasião, eles irão pedir acesso aos dados do Denasus (Departamento Nacional de Auditoria do SUS) e ao relatório da força-tarefa do Ministério da Saúde.

De acordo com o primeiro balanço do Ministério da Saúde, a força-tarefa faz pente-fino em 236 prontuários de pacientes com câncer em Mato Grosso do Sul. O vereador Marcos Alex (PT) pontuou ao final da sessão que o Hospital Universitário de Campo Grande recebeu, em dois anos, R$ 60 milhões em recursos. “É o hospital universitário do país que mais recebeu dinheiro”, ressaltou o petista.

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