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Capital

A escolha de uma mãe que deu o filho para adoção ainda no hospital

Luciana Brazil | 06/07/2012 22:58

É difícil não se emocionar com a história. Uma mãe decide, durante o sexto mês de gestação, doar o filho após o nascimento. No dia seguinte após o parto, a mulher volta ao hospital, abraça o filho, acaricia e beija a criança; e contrariando os mais simples instintos maternais, ela vai embora, firme em sua decisão.

O parto aconteceu no último dia 29 de junho, no HU (Hospital Universitário) de Campo Grande.

Nesses casos a equipe médica respeita a decisão da mulher e garante a assistência ao bebê, como informou o Núcleo de Adoção, da Vara da Infância, Juventude e Idoso. Porém, é importante que a doação da criança seja feita de forma consciente e legalizada.

“Isso é o mais importante. Se a mulher realmente decidir que não quer ficar com a criança, que essa mãe faça a doação do bebê, mas de forma legalizada. A orientação é que tudo seja feito de forma correta. A mãe deve fazer o pré-natal, assim como essa mãe que doou o filho fez”, explicou a pediatra e neonatologista e professora da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul), Aby Jaine da Cruz Montes Moura.

Segundo ela, essas situações não são frequentes, mas acontecem. “O esforço é para que as crianças não sejam abandonadas e que ao invés disso, seja feita a doação”.

O núcleo informou também que a partir da decisão, a mãe fica inserida no projeto “Dar a Luz”, onde recebe atendimento psicológico, além da garantia de que a criança será rapidamente adotada, ou seja, ao sair do hospital, o recém nascido já é levado para a família acolhedora.

De acordo com a pediatra, que atendeu o drama da mãe doadora, a mulher estava “totalmente determinada”. “Ela disse que uma criança precisa mais do que roupa e comida, e ela não poderia dar esse algo a mais”.

Mãe de outros três filhos, a mulher auxiliou as enfermeiras na amamentação, antes de partir e deixar para trás um pedacinho de si. “A criança é fruto de uma reconciliação, com o pai do primeiro filho, mas que não deu certo”, contou a médica.

Pediatra destaca que a torcida é para que sempre o final seja feliz.
Pediatra destaca que a torcida é para que sempre o final seja feliz.

Coração decidido: Antes de assinar o termo de adoção a mãe passa por uma avaliação do juizado, onde recebe atendimento psicológico. "Não é uma coisa banal, mas algo que precisa ser acompanhado".

Mesmo que a mãe decida doar a criança, a orientação é que o parto seja hospitalar para evitar riscos para a mãe e para o bebê. "Geralmente quando a mãe não quer a criança ela tem o filho em condições de risco, deixando a criança exposta, correndo risco de morte”, disse a pediatra.

Quase em vão, os médicos tentam não se envolver com as histórias de adoção e abandono, para facilitar o trabalho e a postura médica. “Não cabe a nós julgar, temos apenas que respeitar a vontade e o direito da mulher”, frisou a pediatra Aby Jaine.

Mês atípico: Só no mês de junho, a pediatra acompanhou cinco casos iguais ou parecidos. “Nesse mês também teve o caso da criança que foi abandonada em frente a uma residência. Além disso, existem mães que logo após o parto fogem do hospital e outras acabam desistindo da doação, que antes era certa”, afirmou.

Nessa situação, o bebê é encaminhado para um abrigo, pois é necessário investigar quais as circunstâncias do parto, se houve mesmo o desejo de abandonar a criança.

"A situação é sempre muito delicada. De forma imparcial, a gente sempre torce por um final feliz, mas quem somos nós para saber qual é o final feliz", encerrou Aby Jaine.

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