ACOMPANHE-NOS     Campo Grande News no Facebook Campo Grande News no Twitter Campo Grande News no Instagram
ABRIL, QUARTA  24    CAMPO GRANDE 22º

Lado B

A vila de casas de madeiras que sobreviveu ao tempo e virou patrimônio

Elverson Cardozo | 26/08/2012 08:57
 A vila de casas de madeiras que sobreviveu ao tempo e virou patrimônio
Casa ainda mantém a estrutura antiga. (Foto: Rodrigo Pazinato)
Casa ainda mantém a estrutura antiga. (Foto: Rodrigo Pazinato)
Moradores não podem alterar fachada. (Foto: Rodrigo Pazinato)
Moradores não podem alterar fachada. (Foto: Rodrigo Pazinato)

Elas têm problemas na parte elétrica, hidráulica, apresentam rachaduras enormes e algumas estão com a estrutura comprometida, caindo aos pedaços. Quando o tempo está quente, o calor é exagerado. Quando chega o frio, é de trincar os dentes. Mas nada tira o brilho nem a importância das casas de madeiras da Vila Ferroviária, que sobreviveram ao tempo e carregam parte da história de Campo Grande.

Na rua dos Ferroviários, várias delas, remanescentes, ainda estão em pé, suportando há anos o sol escaldante e chuva que costuma chegar à Capital Morena sem qualquer aviso.

O piso de algumas ainda é o "vermelhão", que logo traz à lembrança o trabalho que dava para deixar a casa brilhando, apresentável aos visitantes. Passaram-se anos e as janelas, em pares, continuam a dar boas-vindas ao sol e à lua.

As pesadas portas de madeiras também continua lá, firmes e fortes, como fortalezas que guardam a entrada de verdadeiros museus. Ainda existem as cercas de balaustras e as velhas telhas romanas, mas hoje elas não ostentam o mesmo brilho, nem tem o mesmo valor.

Nos quintais, restos dos trilhos lembram a estação que, por anos, funcionou a topo o vapor. Quem percorre a rua de paralelepípedos tem a sensação de estar em outra Campo Grande, em uma época distante, onde o “ser” sobrepunha ao “ter”.

O encantamento vinha da simplicidade, das coisas bobas, como a espera pelo trem e as conversas descompromissadas que se "jogava fora" com os vizinhos. Teodorico Correa, de 64 anos, é das antigas. Mora ali, em uma dessas casas de madeira, há mais de 30 anos, desde o tempo em que começou a trabalhar como auxiliar de estação.

Maioria das residências apresentam problemas na estrutura e parte hidráulica e elétrica. (Foto: Rodrigo Pazinato)
Maioria das residências apresentam problemas na estrutura e parte hidráulica e elétrica. (Foto: Rodrigo Pazinato)
Mas, para os moradores, o espaço e sensação de estar vivendo em outro tempo compensa. (Foto: Rodrigo Pazinato)
Mas, para os moradores, o espaço e sensação de estar vivendo em outro tempo compensa. (Foto: Rodrigo Pazinato)

Hoje, aposentando, seo Teodorico recorda o tempo em que a Vila era uma das mais importantes da cidade. “Antigamente o movimento era grande porque vendia muitas passagens”.

Da história da casa onde mora sabe de poucas coisas, apenas que um companheiro de trabalho morou ali antes dele. “Mas já passaram muitos inquilinos”, acrescenta a filha, a dona de casa Sandra Cristina Correa, de 28 anos.

Sandra, que voltou a morar com o pai há 3 anos, está triste porque vai ter de deixar o imóvel “que lembra o passado”. A casa é alugada e o proprietário pediu as chaves de volta.

“Se você soubesse como estamos tristes de mudar daqui”, comenta. “É tão bom as casas de antigamente. O quintal cheio de pés de manga. Quem é que não gosta de voltar no tempo?” reflete.

O imóvel tem sete peças e continua do jeito que foi projetada, salvo poucas modificações, como a construção de um banheiro de alvenaria nos fundos. O resto é madeira, como a maioria das casas daquela rua.

Na Vila dos Ferroviários é quase impossível deixar de voltar ao passado. A nostalgia é presente em todo canto. A dona de casa Áurea Cardoso, de 61 anos, diz que a casa onde vive há 18 anos lembra a infância, a adolescência, o período em que viveu na roça.

Seo Teodorico gosta da casa de madeira e diz que o imóvel faz voltar ao passado. (Foto: Rodrigo Pazinato)
Seo Teodorico gosta da casa de madeira e diz que o imóvel faz voltar ao passado. (Foto: Rodrigo Pazinato)

“Toda a vida foi madeira, a gente se acostuma”, revela. A residência tem mais de 10 peças e guarda algumas relíquias, como o filtro de barro e o fogão à lenha construído dentro da própria cozinha. “A chaminé está estragada. Se usar a fumaça fica presa aqui dentro”, comenta.

Problemas é o que não faltam. O forro da sala está se desprendendo e o piso de taco se solta a cada passo. Na cozinha, as caneletas d’água estão estragadas e quando chove é aquele aguaceiro. Para não apodrecer a madeira ela envolveu a viga com sacos de arroz. Apesar disso, dona Áurea prefere a casa de madeira. “Não trocaria. Essas casas são espaçosas”, comenta.

O aposentando Sinval Rodrigues de Souza, de 66 anos, outro morador da Vila, também não gosta de aperto. “Não quero esses troço apertado, parece que a gente está em cela de cadeia”, dispara.

Mas a casa onde ele mora com a esposa é de uma amigo que trabalhou por cerca de 10 anos na estação. “Ele deixou eu cuidando porque teve que ir para o Paraná trabalhar na ferrovia de lá para completar o tempo de serviço e se aposentar”, conta.

Enquanto o proprietário não volta, seo Sinval curte a casa “com cara de fazenda”, aos moldes da própria criação. Um espaço que guarda boas histórias do tempo em que o trem apitava e as charretes eram as vedetes do trânsito.

Nos siga no Google Notícias