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Capital

Bairro formado por família de presos, Noroeste tem hoje maior número de crianças

Paula Maciulevicius | 07/07/2011 17:06

Crescimento está relacionado ao complexo penal

Bairro é campeão no percentual de crianças e adolescentes. População de 0 a 14 anos cresce em meio à carência. (Foto: João Garrigó)
Bairro é campeão no percentual de crianças e adolescentes. População de 0 a 14 anos cresce em meio à carência. (Foto: João Garrigó)

Inicialmente formado por famílias de presidiários, bairro Noroeste supera na quantidade de crianças e adolescentes. A explicação ainda vem do surgimento, com o complexo penal localizado nas imediações, mães e esposas de presos praticamente formaram a região. Com a razão de 28 crianças para cada 100 mulheres, o sexo feminino corresponde a mais de cinco mil dos 13 mil habitantes do bairro.

O registro do parcelamento na prefeitura existe desde 1963. Em 48 anos o Noroeste tem nas ruas crianças brincando, passeando com mães e avós, adolescentes indo à escola, todos dividindo espaço com a carência.

Divulgado nesta semana, o Censo 2010 mostra a situação da dona-de-casa Janusa dos Santos Cerem, 25 anos. A escadinha de três filhos, a primeira com 9 anos e os outros dois com 7 e 4 anos, entram nas estatísticas do IBGE, de que 32,7% da população do Noroeste está dentro da faixa etária de 0 a 14 anos.

A mãe e os três filhos moram no bairro há dois anos. Janusa confirma os dados e fala que vê sim muitas crianças pela região “para essas bandas aqui, tem muito menino mesmo”, diz.

A filha mais velha fala que prefere ali ao lugar que morava, no Tijuca. “Aqui tem bastante meninas para brincar. É melhor do que lá”, diz Brunielly Cerem, 9 anos.

Conversando com a vizinha Janusa, está a diarista Fátima Ferreira Silva, 36 anos, o Campo Grande News começou a entrevista e a criançada juntou em volta. Filha única de Fátima em casa, Dafny Silva, 11 anos, responde de primeira “aqui tem muita menina da minha idade mesmo, ainda bem porque eu adoro brincar na rua”, conta.

Mãe-avó caminha com neta enquanto outros quatro estão na creche, todos na faixa de 0 a 10 anos. (Foto: João Garrigó)
Mãe-avó caminha com neta enquanto outros quatro estão na creche, todos na faixa de 0 a 10 anos. (Foto: João Garrigó)

O crescimento de crianças no bairro reflete também a realidade das mães-avós. Dona Edna Fernandes da Silva, 46 anos, cuida da netinha Giovana de apenas nove meses, enquanto a nora trabalha e os outros quatro netos estão na creche e de mais uma criança de 4 anos, filha de uma conhecida.

“Eu fico de babá por enquanto, até essa aqui ir para a creche. Se tem criança aqui? Mas pensa no tanto. Esses dias mesmo teve reunião do vale-renda, estava tão cheio de criança e mulher que mal dava para ouvir de tanto choro e conversa”, conta.

O “zum-zum-zum” não é só visto em reuniões, em frente às casas é quase que frequente a presença de mulheres e pelo menos duas crianças pequenas.

Diferente de Edna e mais próximo das origens do bairro está a dona-de-casa de 31 anos que prefere não se identificar. Há seis anos no Noroeste, ela conta que mudou da cidade de Rio Brilhante para a região porque ficava mais fácil de ver o marido, que ficou preso por quatro anos.

“A maioria das mulheres aqui tem alguém no presídio, fica mais próximo”, explica. As dificuldades para trazer alimentos e objetos para os homens que estão no complexo penal fazem com que grande parte das mulheres escolha o Noroeste para morar.

Além do exemplo dela, uma das filhas que está com o marido para sair da prisão veio morar nos fundos da residência. “É para facilitar, aí vem mulher, criança...”, comenta.

Ela relembra que para entrar tem visita marcada, horário rigoroso e restrição do peso. “Eu dormi muitas vezes nessa frente aí”, recorda.

Com a juventude à flor da pele, o bairro Noroeste levou Campo Grande à 13ª posição entre as capitais brasileiras no ranking de percentual de crianças e adolescentes.

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