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Capital

'Boom' na vizinhança acabou com sossego em bairro, dizem moradores

Guilherme Henri | 17/06/2016 15:56
Bairro fica na zona leste de Campo Grande e é composto por sete conjuntos habitacionais (Foto: Marcos Ermínio)
Bairro fica na zona leste de Campo Grande e é composto por sete conjuntos habitacionais (Foto: Marcos Ermínio)

Formado por sete conjuntos habitacionais, o Maria Aparecida Pedrossian, na região leste, era uma das grandes promessas de Campo Grande. Contudo, o sonho dos moradores de que o bairro seria promissor durou pouco tempo: se despedaçou quando a região foi tomada por usuários de drogas, que não possuem o mínimo pudor em furtar ou assaltar a residência de seu próprio vizinho e até mesmo estabelecer um ponto de venda de drogas na região.

Segundo o presidente da associação de moradores do bairro, Jânio Batista de Macedo, 57 anos, esses usuários se aproveitam da ausência da polícia, já que a região não há um posto policial. “Em 2007, a região passou por um ‘boom’ imobiliário que não foi acompanhado pela segurança. A consequência disso foi sentida em sete anos depois, em que os muros das casas se tornaram muralhas, pois a criminalidade atingiu níveis alarmantes”, afirma o líder comunitário, que ainda revelou que 25% dos assaltos e furtos cometidos em comércios, como farmácias e residências, são cometidos por moradores do bairro.

Presidente da Associação de Moradores, Jânio Batista de Macedo (Foto: Alcides Neto)
Presidente da Associação de Moradores, Jânio Batista de Macedo (Foto: Alcides Neto)

A região é composta pelos residenciais Maria Aparecida Pedrossian, Fernando Sabin, Panorama, Samambaia, Vivendas do Parque, Conjunto Oiti e Damha. “Desses, quem lidera o ranking de mais violento é o Oiti”, afirma Jânio.

Quem comprova a afirmação é o morador há seis anos do conjunto apontado, o ex-militar do Exército Bruno Graça Prado Novaes, 31 anos. Ele conta que precisou tornar sua casa uma fortaleza, com muros altos, cerca elétrica e até dois cachorros grandes. “Por enquanto, escapei da onda de crime instalada no bairro, mas meu vizinho não teve tanta sorte. Somente este ano ele foi vítima de furto duas vezes. Aqui é muito perigoso”, desabafa.

O ex militar do exército, Bruno Graça Prado Novaes disse que sua casa se tornou uma fortaleza (Foto: Alcides Neto)
O ex militar do exército, Bruno Graça Prado Novaes disse que sua casa se tornou uma fortaleza (Foto: Alcides Neto)

Como o vizinho de Bruno, o empresário Aguinaldo Insauralde, 49 anos, foi uma das vítimas da criminalidade no bairro, porém suas sequelas não foram só psicológicas. Ao Campo Grande News, o empresário contou que em 2012 abriu um supermercado na região, os negócios prosperaram e ele foi para um novo ponto, onde depois de 40 dias da inauguração foi vítima de um crime que o marcou pelo resto de sua vida.

“Em 2014, homens armados e violentos entraram por volta das 18h no supermercado. Sem pedir nada, eles efetuaram alguns disparos, mas não atingiram ninguém. Colocaram eu, funcionários e clientes no chão enquanto faziam um limpa nos caixas. Não satisfeitos, quando deixavam o estabelecimento atiraram novamente, no entanto, dessa vez eu fui atingido nas costas”, relata o empresário, mostrando uma cicatriz na barriga que disse ter ganho depois de semanas internados. “Eu e minha família ficamos tão traumatizados que vendi o mercado e mudei o segmento dos negócios”, diz o Aguinaldo, que hoje trabalha com o ramo de ferragens.

Mas, embora tenha mudado sua fonte de renda e a tirado do bairro, ele ainda mantém residência ali e desconfia que na região existam pontos de venda de drogas. “A violência nos acompanha”, lamenta.

Aguinaldo diz que precisou mudar seu comércio de bairro por conta da criminalidade (Foto: Alcides Neto)
Aguinaldo diz que precisou mudar seu comércio de bairro por conta da criminalidade (Foto: Alcides Neto)
Comerciante exibe cicatriz que ganhou ao ser baleado em assalto. (Foto: Alcides Neto)
Comerciante exibe cicatriz que ganhou ao ser baleado em assalto. (Foto: Alcides Neto)

O caso mais recente no bairro foi registrado na noite de quinta-feira (16), em que mãe e filho ficaram três horas no poder de um trio armado. Uma das vítimas, de 26 anos, chegou a ficar desacordado por conta das agressões que sofreu. “Nesse caso em especifico, acredito que os bandidos não eram da região”, disse o presidente do bairro.

Questionado o presidente do bairro disse que a situação da criminalidade melhoraria se a região possuísse um Posto Policial. Com essa ideia, a associação ofereceu ao Comando da Polícia Militar o prédio de um Ceinf (Centro de Educação Infantil) que foi entregue a eles pela prefeitura, para se tornar então o posto.

“O prédio foi avaliado em 2015, pelo então comando da época e foi decidido que lá não seria instalado um posto e sim a 6ª Companhia da PM. Mas, para isso o local precisaria passar por reformas e adequações que foram orçadas em R$ 100 mil. E então além, da criminalidade nosso problema passou a ser outro: a falta de dinheiro”, disse Jânio, lembrando que espera ajuda para realizar a reforma do Governo do Estado.

Irmã de vítima de um assalto seguido de carcere privado relata drama vivido pela família ontem (Foto: Fernando Antunes)
Irmã de vítima de um assalto seguido de carcere privado relata drama vivido pela família ontem (Foto: Fernando Antunes)

No entanto, o que os moradores relatam não aparecem nas estatísticas da polícia, que conforme o presidente da associação, mostram que o crime mais comum no bairro é a perturbação da tranquilidade. “Os moradores não registram a ocorrência, pois alegam que o procedimento é demorado e na maioria dos casos não adianta muito quando se trata de crimes de menor poder ofensivo, como o furto. Em reuniões com a comunidade, explico que é fundamental que eles registrem a ocorrência para que então os números da polícia mostrem que somos uma área crítica”, conta Jânio.

Ainda de acordo com o presidente, a situação pode estar perto de se resolver, pois o Governo do Estado, por meio do secretário de Segurança Pública, José Carlos Barbosa, deve se reunir com a comunidade no dia 22, às 14h onde será tratado sobre a instalação da 6ª companhia da PM na região.

Até a instalação da companhia, os moradores contam com um bom relacionamento com policiais do Posto Bandeirantes e também montaram dois grupos no aplicativo de celular, WhatsApp, chamados “Pedrossian em Alerta” e “Vizinhos em Alerta”.

“Além de moradores, policiais militares e guardas municipais também estão nos grupos em que compartilhamos qualquer situação suspeita no bairro. De pronto, as autoridades presentes nos grupos nos atendem e isso ajuda que a região não seja completamente tomada pelo crime”, afirma.

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