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Capital

Capital eleva gastos com saúde, mas não impede 132 mortes em postos

Ricardo Campos Jr. | 09/08/2015 08:52
Na UPA Coronel Antonino, pacientes reclamam da espera para as consultas (Foto: Marcos Ermínio)
Na UPA Coronel Antonino, pacientes reclamam da espera para as consultas (Foto: Marcos Ermínio)
Para a população, saúde na Capital ainda deixa a desejar (Foto: Marcos Ermínio)
Para a população, saúde na Capital ainda deixa a desejar (Foto: Marcos Ermínio)

Uso exclusivo de recursos municipais no PAI (Pronto Atendimento Infantil) puxou aumento no montante injetado pela prefeitura na saúde. Balancete do primeiro semestre mostra que a quantia passou de R$ 155,9 milhões em 2014 para R$ 203 milhões em 2015. Por outro lado, os investimentos não reduzem reclamações ou escondem a crise no setor, que teve 132 mortes nas UPAS (Unidades de Pronto Atendimento) e CRS (Centros Regionais de Saúde) de janeiro a junho.

As tabelas com os valores gastos foram publicadas na sexta-feira (31) e republicadas hoje por incorreções em alguns dados. O levantamento mostra que neste ano o município empregou 28,48% da receita nessa área, quando o mínimo estabelecido por lei é 15%.

O percentual é um pouco maior que os 22,27% correspondentes ao mesmo período do ano passado, conforme as tabelas anteriores.

Ivan Jorge Cordeiro, adjunto da Seplanfic (Secretaria Municipal de Planejamento, Finanças e Controle), explica que o PAI está impedido de receber verbas do SUS por conta de algumas irregularidades apontadas. Para mantê-lo funcionando, a prefeitura desembolsa em média R$ 1,5 milhão por mês.

O Conselho Municipal de Saúde afirma que o prédio, onde funcionava o Hospital El Kadri, não tem a estrutura necessária para atender à legislação vigente. A entidade atualmente se posiciona pela manutenção do serviço, mas em outro lugar.

Por meio da assessoria, a prefeitura afirma que toda a documentação para o funcionamento do pronto atendimento e consultas especializadas está regular. Foram negados os alvarás para ampliação e transformação do centro em um hospital.

Cordeiro explica que este não é o único motivo para o incremento nos investimentos em saúde. Segundo ele, a gestão passada investiu pouco no setor até deixar a administração em março, o que acabou refletindo nos números registrados no fechamento daquele semestre.

Porteiro foi até a UPA após sofrer acidente de moto e reclama do atendimento "pela quantidade de impostos que pagamos, não está legal" (Foto: Marcos Ermínio)
Porteiro foi até a UPA após sofrer acidente de moto e reclama do atendimento "pela quantidade de impostos que pagamos, não está legal" (Foto: Marcos Ermínio)

Quantidade e qualidade – A pedagoga Lilian Ross Santos, 35 anos, foi até a UPA Coronel Antonino levar a mãe de 93 anos que estava passando mal. Para ela, a saúde em Campo Grande não está nada bem e sobram motivos para reclamações.

“Eu acho que essa história de mais investimentos é mentira. O atendimento é demorado. Há alguns dias eu procurei atendimento e o posto estava lotado, tinha gente desmaiando e deitada no chão. Eu tive que ir embora”, afirma.

O porteiro Orani Garcia Freire, 38 anos, sofreu um acidente de moto e também procurou essa unidade. “Está pior por causa das greves. Os funcionários da saúde não são valorizados e quem paga o pago é a gente. Pela quantidade de impostos que pagamos, não está legal”, pontua.

Já o motorista Romeu Rolim, 39 anos, diz que a triagem é rápida, o problema está na consulta. “Temos que esperar a boa vontade do médico”, afirma.

Para motorista, triagem é rápida, mas unidades pecam na espera pela consulta (Foto: Marcos Ermínio)
Para motorista, triagem é rápida, mas unidades pecam na espera pela consulta (Foto: Marcos Ermínio)

Caos – O coordenador de Urgências e Emergências da Sesau, Frederico Garlipp, divulgou hoje os números de pacientes que não resistiram e faleceram nas unidades de saúde do município. Porém, segundo ele, o número não quer dizer que haja negligência de atendimento.

“A maioria desses pacientes que fazem parte da nossa estatística de mortes nas UPAs e CRS já chegam nas unidades em parada cardiorrespiratória ou até mesmo sem vida. Grande parte dos casos é demanda espontânea”, pontua.

O número, segundo Garlipp, é inclusive menor que os registrados nos mesmos períodos de anos anteriores. Em 2014 foram 174 óbitos; em 2013 foram 278 e em 2012 foram 322 de janeiro a junho.

“Somente neste ano já foram 560.411 pacientes atendidos nas UPAs e CRS. Nós estamos trabalhando hoje com uma verba ínfima, com poucos repasses do Governo Federal”, relata o coordenador.

“A UPA tem respiradores e monitores cardíacos. Nos CRS já não tem, mas quando acontece de entubar o paciente, já arrumamos vagas em outras unidades ou transferimos para uma UPA”, diz Garlipp. “Essas pessoas que morreram nas unidades iam morrer tanto dentro do hospital como dentro da UPA. Em alguns casos, é preferível que eles fiquem nas unidades do que em qualquer outro lugar”

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