ACOMPANHE-NOS     Campo Grande News no Facebook Campo Grande News no Twitter Campo Grande News no Instagram
ABRIL, TERÇA  16    CAMPO GRANDE 23º

Capital

Carinho de amigos conforta familiares de rapaz morto por PM

Paula Maciulevicius e Mariana Lopes | 29/10/2012 10:18
“Estou em paz porque eu eduquei o meu filho e tenho consciência de que eu cumpri meu papel de mãe”, disse Jaci Vieira do Nascimento, 49 anos. (Foto: Minamar Júnior)
“Estou em paz porque eu eduquei o meu filho e tenho consciência de que eu cumpri meu papel de mãe”, disse Jaci Vieira do Nascimento, 49 anos. (Foto: Minamar Júnior)

“Deus só emprestou meu filho e hoje eu estou devolvendo ele pra Deus”. Uma mãe que enterra o filho no dia em que ele faria 30 anos. Jaci Vieira do Nascimento, 49 anos, tinha hoje uma força vinda do conforto de ter cumprido o dever.

“Estou em paz porque eu eduquei o meu filho e tenho consciência de que eu cumpri meu papel de mãe”. No velório de Ike Cézar Gonçalves, familiares e amigos estavam em paz.

Apesar da tristeza de enterrar um trabalhador e pai de família morto por um policial militar enquanto tentava separar uma briga, a lição que ele parece ter deixado era o que tranquilizou a todos.

O sentimento de quem acompanha vários velórios não era de conformismo e sim de paz. Amigos e colegas de trabalho relataram que Ike sempre foi uma pessoa muito respeitada pelos amigos.

“O carinho desses amigos e de pessoas que até nem me conheciam, foi o que me deu um conforto”, dizia Jaci que sabe que o pior ainda vai vir, a saudade e a falta que o filho vai fazer não só a ela, como toda família.

A forma violenta como Ike morreu comoveu todos. Hoje, nos planos da família estava a comemoração do aniversário. A festa de 30 anos seria uma surpresa, já programada. A violência da madrugada deste domingo mudou os planos de uma maneira que ninguém imaginaria.

“Jamais esperava que ele fosse morrer dessa forma. A gente trabalha muito e tem direito a se divertir, mas neste caso ele não teve”, comentou o amigo Valdene Oliveira, 40 anos.

Amigo da vítima, Valdene Oliveira, 40 anos, viu sonhos do colega desfeitos pela violência. (Foto: Minamar Júnior)
Amigo da vítima, Valdene Oliveira, 40 anos, viu sonhos do colega desfeitos pela violência. (Foto: Minamar Júnior)

Valdene trabalha na mesma área, de enfermagem e juntos os dois foram colegas no hospital Miguel Couto. “Ele era uma pessoa extraordinária, sempre alegre e disposto a trabalhar. Ele valorizava muito a família dele e estava crescendo no hospital e construindo o negócio dele. Isso tudo foi desfeito numa noite”, desabafou Valdene.

Assim com o Valdene, uma interrogação cercava todos ali: que justiça viria para o caso? “Qual é a justiça que vai ser feita? Não é porque é um policial que tem que ficar impune. A atitude do PM seria incorreta até diante de um bandido mesmo”, questionava.

O sepultamento de Ike está previsto para 15h30, no cemitério Nacional Park, nas Moreninhas. O rapaz foi morto por um tiro disparado pelo policial militar Bonifácio dos Santos Junior, de 36 anos, lotado na Cigcoe, enquanto tentava separar uma briga. Segundo testemunhas, Ike disse a ele em meio a uma sequência de disparos “Para de brigar, vamos embora, a festa já acabou. Vamos cada um para o seu canto” e o PM respondeu “Você está me desafiando?” e atirou.

Depois do tiro que atingiu a testa de Ike, o PM fugiu com um amigo, Osni Ribeiro de Lima, de 36 anos. Os dois permanecem presos. Osni na Depac (Delegacia de Pronto Atendimento Comunitário) do bairro Piratininga e Bonifácio no Presídio Militar Estadual.

Nos siga no Google Notícias