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Capital

Cemitério tem mordomia para visitantes e funcionário que morou com os mortos

Liana Feitosa e Elverson Cardozo | 02/11/2014 12:14
Cemitério é conhecido por parecer jardim. (Foto: Elverson Cardozo)
Cemitério é conhecido por parecer jardim. (Foto: Elverson Cardozo)

Para auxiliar visitantes durante o Dia de Finados, cemitérios da Capital oferecem serviços diferenciados como veículo para transporte entre jazigos, como é o caso do Parque das Primaveras, auxílio que acaba muito utilizado por idosos e pessoas com dificuldade de locomoção.

Apesar de não estar lotado, o fluxo é constante e intenso, mas marcado por visitas rápidas. Mais parecido com um grande jardim, o Parque das Primaveras não possui construções sobre os túmulos, mas se assemelha a um grande campo verde com muitas flores e árvores.

Um dos responsáveis pela manutenção do local é Augustinho Gomes, 54 anos, funcionário do setor de serviços gerais do cemitério. Hoje, chegou no local às 7h e só irá embora por volta das 18h.

Assim como ele, a equipe de funcionários se oferece para ajudar os vistantes na localização de jazigos, quesito que conhece bem, já que trabalha no local há sete anos e até morou nos fundos do cemitério. "Nunca imaginei que trabalharia em um cemitério, mas não sinto medo. Aqui eles [os mortos] são todos amigos da gente, tem que ter medo é dos vivos", afirma.

Emoção - Há cerca de um ano um sobrinho de Gomes foi vítima de acidente de carro aos 17 anos. O familiar foi enterrado no local e Gomes sempre vai ao túmulo do jovem, como foi hoje, e diz que está acostumado à rotina de lidar, de perto, com a morte.

Mesmo assim, conta que sente a dor das famílias e sabe como é perder um ente querido, já que não tem mais a companhia de seus pais, também falecidos. Por mais que se sinta emocionado, procura não demonstrar o sentimento quando está no exercício da função.

Casal visita local regularmente e faz orações em jazigo. (Foto: Elverson Cardozo)
Casal visita local regularmente e faz orações em jazigo. (Foto: Elverson Cardozo)

"A gente vê as pessoas chorando e fica com sentimento, mas não dá pra chorar, só se emocionar", conta.
Quando a equipe do Campo Grande News chegou no Parque das Primaveras, era possível ver de longe a dona de casa Francisca Barreiro Pinheiro, 60 anos, e Lourival Neves Pinheiro, 72, aposentado, ajoelhados diante de um jazigo, orando.

Levando flores e velas, o casal já passou por muitas perdas na vida. Além de uma sobrinha, no local está sepultado o filho do casal, morto aos 22 anos vítima de um aneurisma cerebral. Além dele, uma amiga da família, a mãe e uma irmã de dona Francisca também estão enterradas ali.

Para eles, a data é uma oportunidade para reflexão. "O dia de hoje proporciona reflexão porque é um momento de dor muito grande e de saudade", compartilha Francisca. O casal costuma visitar o local todos os dias de finados, mas também em datas como aniversário, Dia dos Pais e Dia das Mães. "É dor, saudade, é lembrança, né?", diz Lourival. Para eles, o que alivia um pouco a dor no coração é a esperança de encontrar os familiares após a morte.

Mas o público no local é diverso. Diferente desse casal, não é a fé que motiva o microempresário Antônio Rangel a ir ao cemitério. "Venho pra visitar, tenho a tradição de vir, só isso mesmo", conta diante do túmulo do irmão, que faleceu em setembro de 2013 em um acidente.

Já Andreia Costa da Silva Ost, de 46 anos, tesoureira de uma conferência vinculada à Sociedade de São Vicente de Paulo, a data é uma oportunidade para reunir doações em auxílio a instituições filantrópicas. Segundo ela, o asilo São João Bosco, a creche Santa Fé, o lar São Francisco de Assis e famílias carentes são assistidas pela sociedade.

Para conseguir doações, uma equipe chegou às 6h no Parque das Primaveras e, de duas em duas horas, será feita troca de voluntários para que as arrecadações sigam até as 18h. De acordo com Andreia, a sociedade tem quase 200 anos de existência e o trabalho no Dia de Finados é realizado há quase 40 anos.

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