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Capital

Com 70% de recusa de famílias, Santa Casa quer ampliar número de doadores

Flávia Lima | 12/09/2015 09:46
Fachada do hospital terá iluminação especial durante o mês de setembro para lembrar campanha. (Foto:Divulgação)
Fachada do hospital terá iluminação especial durante o mês de setembro para lembrar campanha. (Foto:Divulgação)
Ana Paula Neves defende a discussão do tema desde o ingresso das crianças na escola. (Foto:Divulgação)
Ana Paula Neves defende a discussão do tema desde o ingresso das crianças na escola. (Foto:Divulgação)

Maior hospital de Mato Grosso do Sul, a Santa Casa da Capital busca reverter o quadro de doadores de órgãos e diminuir o índice de recusa de doações, que varia entre 60% a 70%, entre as famílias consultadas, segundo a coordenadora da Comissão Intra-hospitalar de Doação de Órgãos e Tecidos para Transplante, Ana Paula Neves.

Para atingir esse objetivo, o hospital aderiu, pela primeira vez, ao "Setembro Verde", movimento que está mobilizando hospitais, entidades e profissionais do setor da saúde em todo o país. A campanha, que teve início há cerca de quatro anos após iniciativa de entidades do estado de São Paulo, acabou sendo abraçada pelos demais estados.

No entanto, mesmo antes do "Setembro Verde", a Santa Casa de Campo Grande já desenvolve, há sete anos, campanhas referentes a doação de órgãos por entender a importância da conscientização dos familiares. A sétima edição da campanha, inclusive, está sendo lançada esta semana e terá, além de um ciclo de palestras e debates, uma pedalada, no próximo dia 20, que tem como foco a mobilização da sociedade em torno do tema.

Além das atividades educativas, o hospital, assim como outras unidades hospitalares do país, vai manter na fachada uma iluminação especial, alusiva a cor da campanha nacional. Segundo a Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos, que encabeça a realização do "Setembro Verde", a cor escolhida representa a esperança de uma nova vida que pode renascer a partir de uma doação.

De acordo com Ana Paula Neves, este ano foi realizado apenas um transplante no hospital, que é credenciado pelo Ministério da Saúde para realizar transplante apenas de rim. Porém, a unidade pode realizar a captação dos demais órgãos como fígado e coração, além de tecidos, como as córneas.

No caso das córneas, os transplantes são realizados pelo hospital São Julião. Quanto aos demais órgãos, com exceção dos rins, os pacientes que serão beneficiados são encaminhados para realizar o transplante em outras unidades hospitalares do país.

O único transplante feito no hospital este ano ano aconteceu em julho, a partir de um doador vivo, no caso, uma mulher de 41 anos que doou um rim para o seu marido, que sofria de insuficiência renal crônica há 11 anos e era submetido à diálise, processo artificial que substitui as funções dos rins.

O transplante aconteceu quatro meses após a retomada do serviço pelo hospital, que durante um ano passou por uma reestruturação de vários setores para continuar realizando os transplantes. No entanto, durante esse período as captações permaneceram e os pacientes eram encaminhados para outros estados.

Ana Paula Neves ressalta que houve mês que o hospital registrou 15 mortes encefálicas, mas apenas duas famílias concordaram em efetuar a doação dos órgãos. "Nós entendemos que o momento de luto é muito delicado e os órgãos precisam ser retirados ainda com o coração batendo e isso deixa os familiares chocados, de certa forma. Na verdade muita gente não sabe que o fato de o coração continuar batendo não significa nada se a morte encefálica já foi constatada", explica.

A desinformação do público se reflete em números. De janeiro até agosto, apenas 15 rins e quatro fígados foram captados, além de 85 córneas. A necessidade de ampliar as doações é urgente porque nem sempre o órgão captado é compatível com os pacientes que estão na lista de espera do hospital, que hoje tem cerca de 500 pessoas.

Foi o que aconteceu em agosto. Duas famílias concordaram em doar os rins dos pacientes que tiveram morte encefálica, porém os órgãos não foram compatíveis com ninguém da lista e acabaram sendo encaminhados para outros estados.

Tabu - Para a coordenadora da Comissão Intra-hospitalar de Doação de Órgãos da Santa Casa, o tema ainda é tabu entre as famílias e deveria ser melhor debatido, inclusive constando na grade curricular dos cursos superiores da área de Medicina e saúde. Ela revela que na Espanha, as crianças recebem orientações sobre doação de órgãos desde pequenas, o que faz com que não ocorram perdas de órgãos em casos de morte encefálica.

No Brasil, ela diz que as centrais de transplante e doação observam um volume expressivo de doação quando há campanhas frequentes na mídia, em novelas de TV ou quando ocorre algum caso de comoção nacional como, por exemplo, quando algum artista morre e a família anuncia a doação. "A maior parte das famílias recusam por falta de informação ou porque nunca conversaram com o familiar a respeito. Na dúvida, elas preferem rejeitar", diz Ana Paula.

Ela explica que a lei que obrigava o doador a discriminar sua intenção na CNH ou no RG não existe há 14 anos. Agora, vale a palavra de familiares até o segundo grau de parentesco. "A informação no documento pessoal causou um certo preconceito. Teve gente achando que seria morta só para ter os órgãos roubados. A educação é o único meio para derrubar esses tabus", afirma.

Agenda- A 7ª Campanha de Doação de Órgãos e tecidos vai oferecer a população em geral, um ciclo de palestras sobre morte encefálica e transplante renal. A ação acontecerá na Santa Casa.

Já no dia 20 acontece a "Pedalada pela vida", a partir das 7 horas, com concentração em frente ao Paço Municipal e chegada na Santa Casa.

Além de uma série de atividades especiais, como aula de alongamento, distribuição de kits de participação e de camisetas da campanha, no final do evento haverá um bate-papo sobre doação de órgãos e apresentação musical com a dupla Gilson e Junior.

As inscrições poderão ser feitas pelo telefone 3322-4278 ou whatsapp 8469-1900. Os participantes deverão levar sua própria bicicleta.

Além disso, os funcionários do hospital estão distribuindo entre os colaboradores, fitinhas verdes para lembrar a campanha durante todo o mês de setembro.

Funcionários da Santa Casa distribuem fitinhas verdes para lembrar sobre a importância da doação  de órgãos. (Foto:Divulgação)
Funcionários da Santa Casa distribuem fitinhas verdes para lembrar sobre a importância da doação de órgãos. (Foto:Divulgação)
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