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Capital

Com recuperação lenta, queimaduras deixam marca no corpo e na vida

Paula Vitorino | 21/03/2012 15:27
Pai mudou a rotina para cuidar do filho de 6 anos internado com 38% do corpo queimado com querosene. (Foto: Paula Vitorino)
Pai mudou a rotina para cuidar do filho de 6 anos internado com 38% do corpo queimado com querosene. (Foto: Paula Vitorino)

“A queimadura deixa marcas físicas, mas principalmente psicológicas, além dos prejuízos sociais para toda a família”. A avaliação é de quem trabalha há 18 anos no tratamento de pacientes com queimaduras, a chefe de enfermagem da ala dos queimados da Santa Casa, Maria Aparecida do Amaral.

Por ser um tratamento demorado, os pacientes com queimaduras chegam a ficar seis meses internados na ala, dependendo da gravidade, e necessitam de cuidados especiais.

A cirurgiã plástica Renata Ferro resume os acidentes com queimaduras dizendo que “é algo fácil de estragar, mas difícil de arrumar”. Os ferimentos geralmente são provocados por incidentes, marcados pela característica do “um segundo de bobeira”.

Além da parte física, a atenção aos pacientes da ala tem que ser voltada para o psicológico, já que as seqüelas na maioria das vezes deixam marcas para sempre no corpo e podem modificar toda a vida social da vítima.

“É uma recuperação lenta, os pacientes ficam longe do estudo, do trabalho e dependendo da sequela eles nunca mais vão voltar a exercer as mesmas funções. Mesmo com os remédios, às vezes a parte emocional sofre”, explica a cirurgiã plástica da ala, Renata Ferro.

Por conta do apoio necessário, a enfermeira Aparecida lembra que os prejuízos acabam atingindo também familiares e amigos, principalmente no caso de pacientes que são crianças.

“Os pais tem que largar a casa, muitas vezes têm outros filhos, para se dedicar aos cuidados ao paciente”, diz.

Os pais do pequeno Luan Rodrigues da Silva, de 6 anos, precisaram deixar a casa em Ponta Porã e mudar as pressas para Campo Grande, onde o filho está internado com 38% do corpo queimado desde o dia 22 de fevereiro.

Há quase um mês fora de casa e sem previsão de alta, os outros filhos, de 9 e 4 anos, estão sob os cuidados da avó. O pai, Valdiney Franco da Silva, de 29 anos, conta que por sorte – se é que assim pode ser chamado – o acidente aconteceu no primeiro dia de suas férias e, por isso, pôde ficar fora do trabalho até agora.

“Mas minhas férias já acabaram, tinha pego só 20 dias, e consegui mais alguns com atestado de acompanhante. Depois disso vou ter que voltar, aí só minha esposa fica”, diz o operador de máquinas. A mãe trabalha como manicure.

O garoto precisa de cuidados especiais e devido ao estado grave fica em sala isolada de vidro. Com todo o corpo enfaixado acima da cintura, só o centro do rostinho fica de fora.

Luan teve queimaduras por todo o corpo após pegar fogo em incidente com querosene. Ele e os irmãos estavam na casa do tio-avô quando durante a madrugada resolveram brincar com querosene. Um pouco do produto pegou em Luan e quando as crianças acenderam um fósforo as chamas tomaram conta do menino.

“Meu tio e meu primo acordaram com os gritos e encontraram ele pegando fogo. Quando cheguei no hospital e vi ele não acreditei no que tinha acontecido”, frisa.

O pai conta que as feridas, principalmente no rosto, assustam no primeiro olhar, mas que apesar da recuperação lenta é possível ver a cada dia as melhoras.

“O rosto dele ficou enorme por causa das queimaduras, totalmente diferente de como é. Mas aos poucos conseguimos ver as melhoras”, diz.

Com o olhar atento, Luan conta que sente saudades dos amigos de Ponta Porã, enquanto não desgruda a atenção da televisão, um dos poucos passatempos no hospital.

O pai explica que o menino só pode tomar banho a cada dois dias e que no começo chorava e reclamava muito de ficar no hospital, além das dores.

“No começo ele queria muito ir embora, é difícil, né, mas agora ele compreende mais que precisa se recuperar e que o tratamento é lento”, diz.

Tratamento - Com capacidade para 16 leitos e quase sempre lotada, a ala dos queimados reúne pacientes com quadros clínicos e tratamentos diferentes. Mas em comum, o primeiro olhar aos pacientes choca pela característica dos ferimentos, que desfiguram a parte onde atingem.

Em casos de 3º grau e alguns do 2º grau, a queimadura “mata” a pele, que precisa ser removida para depois receber processo cirúrgico de enxerto, onde a pele de outro local é retirada para preencher a parte queimada.

A médica Renata explica que o tratamento depende do tempo para esperar a cicatrização e de processos de cirurgia plástica para tentar ao máximo manter as características naturais dos pacientes.

Durante a recuperação, as queimaduras também recebem pomada e são enfaixadas para ajudar na fixação. Por conta disso, a ala dos queimados é toda refrigerada.

As queimaduras são classificadas em três graus. A médica esclarece que no caso do 1º grau, causado geralmente pelo sol ou água quente, a pele fica vermelha e se recupera naturalmente, sem necessidade de internação.

Já no 2º grau, as lesões podem ser superficiais ou profundas, e neste caso precisam de internação devido o risco de infecção e às vezes é necessário processo de enxerto.

As mais graves são as de 3º grau, onde a pele morre e necessariamente precisa ser trocada. Nesses casos o processo é mais demorado, no mínimo 3 meses, e as cicatrizes são inevitáveis.

Segundo a cirurgião plástica, queimaduras elétricas e provocadas por combustíveis são as mais graves. Ela também esclarece que a vítima pode sofrer queimaduras apenas internas no caso de inalar fumaça ou sofrer acidente com eletricidade.

Já os casos mais frequentes são de queimaduras por explosão no processo de fazer bife na chapa.

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