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Capital

Com repasse aquém do acordado, Hospital de Câncer enfrenta dívidas

Ricardo Campos Jr. e Flávia Lima | 01/06/2015 12:20
Hospital diz que aguenta um mês sem incremento no repasse (Foto: Marcos Ermínio)
Hospital diz que aguenta um mês sem incremento no repasse (Foto: Marcos Ermínio)

O Hospital de Câncer Alfredo Abrão soma R$ 800 mil em dívidas com fornecedores em razão de pagamentos atrasados desde fevereiro, quando a prefeitura se comprometeu a aumentar em R$ 200 mil o repasse dos R$ 214 mil feitos todos os meses para a unidade, mas até agora não tem feito o adicional.

Carlos Alberto Coimbra, diretor da instituição, diz que com isso, o município está devendo R$ 600 mil à unidade.

Segundo ele, o superintendente da Sesau (Secretaria Municipal de Saúde), Virgílio Gonçalves, prometeu depositar R$ 200 mil nesta segunda (1º) para amenizar a situação, fazer um cronograma para quitar o débito restante e passar a fazer o pagamento dos R$ 414 mensais a partir de julho.

Coimbra afirma que a entidade consegue segurar as pontas por um mês. Se o município não fizer o incremento, alguns serviços poderão ser restringidos. O diretor não quis adiantar qual setor seria afetado primeiro porque acredita no compromisso assumido pela prefeitura.

“Entendemos que o município passa por dificuldades financeiras, mas precisamos que esse repasse seja regularizado para não afetar o atendimento”, pontua.

Como as pendências do Hospital de Câncer afetam o pagamento para as prestadoras de serviços, os funcionários da unidade não tiveram os salários ou benefícios prejudicados pelos problemas financeiros.

Dinheiro arrecadado com doações mensais, que somam R$ 200 mil, ações sociais, como o leilão realizado no mês passado e emendas parlamentares no valor de R$ 305 mil, de autoria de cinco deputados estaduais, apresentadas este ano, estão sendo guardado para a conclusão do novo prédio da entidade. Outra emenda, de autoria do senador Ruben Figueiró, aprovada ano passado no valor de R$ 1,5 milhão, também deve ser liberada em breve para complementar a compra de equipamentos para o novo prédio.

Uma doação no valor de R$ 1,5 milhão, feita em 2014 por um ganhador da Mega Sena, da Capital, ajudou na instalação do sistema de ar condicionado dos dois andares (sub-solo e térreo), cuja obra deverá ser entregue no final de setembro. Desse valor, a direção do hospital ainda conta com R$ 1,1 mil que estão reservados para a ampliação dos serviços.

Os trabalhos na obra serão retomados na próxima semana, já que o hospital ainda fará uma tomada de preços para escolher a empresa que irá concluir os dois andares. O governador Reinaldo Azambuja (PSDB) prometeu aumentar o repasse mensal do hospital, que hoje é de R$ 100 mil para R$ 300 mil quando os dois andares estiverem prontos.

Ao todo, a direção do Hospital do Câncer espera reunir pelo menos R$ 4 milhões que devem ser investidos na finalização do novo prédio.

O Campo Grande News tentou entrar em contato com o superintende da Saúde, Virgílio Gonçalves, para confirmar o depósito previsto para hoje de R$ 200 mil, mas ele não atendeu as ligações. 

Reerguendo - Envolvimento da antiga diretoria da unidade em esquema de fraudes e desvio de dinheiro do SUS (Sistema único de Saúde), revelado pela Operação Sangue Frio em março de 2013, fez com que o número de doadores e atendimentos caísse.

A ação da polícia revelou prejuízo de pelo menos R$ 11 milhões aos cofres de hospitais públicos da Capital, entre eles o Hospital Universitário (HU) e o Hospital do Câncer José Abrão. Ambos tiveram suas diretorias substituídas e ao todo, 20 pessoas foram indiciadas e quatro inquéritos policiais abertos. Os crimes ainda estão sendo apurados.

A Operação Sangue Frio apurou que recursos repassados pelo SUS eram utilizados indevidamente pela antiga direção do Hospital do Câncer, que hoje responde por crimes de peculato, estelionato e corrupção.

Foi em meio a esse turbilhão de denúncias que o Hospital do Câncer, uma das unidades de saúde do Estado mais procuradas por pacientes do Estado, trocou sua administração e começou a lutar para se reerguer e recuperar o status de referência no tratamento da doença.

Para dar início ao processo de recuperação do hospital, Carlos Coimbra adotou uma política de transparência, onde a população tem acesso às despesas e receita do hospital. Os dados podem ser verificados no site da instituição. No primeiro ano da nova administração também foi criada uma comissão de acompanhamento da aplicação de recursos financeiros provenientes do Sistema Único de Saúde (SUS), implantação do Serviço de Ouvidoria Hospitalar, além de criação da Comissão de Gestão de Recursos Materiais e de Medicamentos, que trabalha para evitar o desperdício de materiais e produtos e utilizá-los em quantidades adequadas.

Mas a principal medida no sentido de prestar contas foi a adoção do sistema de pregão eletrônico, onde o hospital pode realizar comprar com fornecedores do país todo e não apenas através de contratos exclusivos, como era feito na gestão passada. “Havia muitos contratos escusos, com valores superfaturados. Eliminamos tudo isso”, ressalta o diretor.

Com essas medidas, logo nos primeiros meses de gestão, Coimbra liquidou uma dívida de R$ 1,5 milhão, sendo R$ 1 milhão com fornecedores e R$ 538 mil só com medicamentos comprados pela gestão anterior. Os resultados positivos começaram a surgir já em 2013. Após três meses com a nova direção, foi possível economizar R$ 460 mil com a compra de medicamentos e material hospitalar através do pregão eletrônico, o que representou diferença de 44% em relação a administração passada.

As doações são parte fundamental na saúde financeira do hospital, por isso a diretoria promoveu mudanças no serviço de telemarketing, responsável pela captação desses recursos. Na antiga gestão havia 60 funcionários que arrecadavam R$ 200 mil por mês, porém metade desse valor era para pagar o salário da diretoria, segundo depoimento de Coimbra à CPI do Câncer, instalada na época pela Assembleia Legislativa.

Com a dívida sob controle, está sendo possível manter o novo cronograma de entrega das obras de ampliação do hospital, que chegaram a ficar paralisadas por seis meses em 2011 devido a divergências entre o antigo administrador e o pecuarista Antônio Morais dos Santos, que desistiu, na época, de doar R$ 23 milhões.

Com a demanda de exames crescendo, o hospital recebeu, em 2014, através de doação da Central de Execução de Penas Alternativas , recursos de R$ 170 mil para aquisição de um digitalizador de imagens e uma impressora de filmes de raios x, que, incorporados ao mamógrafo, permitiram ao hospital ter seu próprio serviço de mamografia, reduzindo os custos de terceirização. Com isso, foram processados, de dezembro de 2014 a fevereiro deste ano, 1.006 exames de mamografia e 710 radiografias.

 

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