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Capital

Cruel, mas que parece normal, Nando tem perfil de serial killer, diz psiquiatra

Guido Palomba fala sobre características de assassinos em série e analisa criminoso de MS

Anahi Zurutuza | 02/12/2016 06:21
Luiz Alves Martins Filho em 2013, quando deu entrevista ao Campo Grande News (Foto: Marcos Ermínio/Arquivo)
Luiz Alves Martins Filho em 2013, quando deu entrevista ao Campo Grande News (Foto: Marcos Ermínio/Arquivo)
Psiquiatra Guido Palomba, durante entrevista à TV Globo (Foto: Reprodução)
Psiquiatra Guido Palomba, durante entrevista à TV Globo (Foto: Reprodução)

De louco todo mundo tem um pouco. O ditado se encaixa perfeitamente para um serial killer, como possivelmente, do ponto de vista psiquiátrico, seja o caso de Luiz Alves Martins Filho, o dono do “cemitério particular” que confessou ter matado 13 pessoas.

Segundo o psiquiatra forense, Guido Palomba, “Nando”, 49 anos, tem várias características de um assassino em série, uma delas é justamente por parecer ter apenas um pouco de loucura.

Eles não são pessoas que apresentam comportamentos muito estranhos, que têm alucinações ou delírios, convivem bem em sociedade, apesar da frieza com que matam pelos mais variados motivos. Os assassinos em série vivem entre a normalidade e a anormalidade.

Apesar de não ter se aprofundado na análise sobre Nando e os crimes cometidos por ele em Campo Grande, o psiquiatra afirma que há evidências que ele realmente seja um serial killer. “O conceito é mais amplo do que aquele que aparece nas mídias, nos livros e nas telas de cinema. Não existe um padrão único de comportamento, indivíduo ou de transtorno mental que diga que aquele é ou não um assassino em série. Mas, neste caso, é possível sim que estejamos diante de um serial killer”.

Fato é que um assassino que se encaixa neste perfil sempre encontra uma justificativa para matar. “Tem os que matam num rompante, que com uma metralhadora entram em um cinema e atiram em várias pessoas. Até neste caso é possível considerar o criminoso um serial killer. Há os que só matam homossexuais, ou mulheres louras ou morenas. Há também os ‘justiceiros’ [como ‘Nando’ se considerava, segundo a Polícia Civil]”, exemplifica Palomba.

O psiquiatra destaca que uma característica comum é a ausência total de valores éticos e morais. “Não existe justificativa para matar, isso por si só já é a loucura, a extrema carência de valores éticos e morais. Ele mata por matar, não em outras circunstâncias”.

Vítimas de Nando (Fotos: Polícia Civil/Divulgação)
Vítimas de Nando (Fotos: Polícia Civil/Divulgação)
Polícia Civil precisou de ajuda de retroescavadeira para encontrar restos mortais (Foto: Guilherme Henri/Arquivo)
Polícia Civil precisou de ajuda de retroescavadeira para encontrar restos mortais (Foto: Guilherme Henri/Arquivo)
Ossada humana de uma das vítimas foi encontrada no dia 17, durante escavações, no Jardim Veraneio (Foto: Polícia Civil/Divulgação)
Ossada humana de uma das vítimas foi encontrada no dia 17, durante escavações, no Jardim Veraneio (Foto: Polícia Civil/Divulgação)

Perfil – Nando nasceu em Três Lagoas –a 338 km de Campo Grande– e tem histórico doentio. O dono do “cemitério particular” no Jardim Veraneio –leste da Capital–, “justiceiro” do Danúbio Azul –bairro da mesma região– já foi preso por estuprar um adolescente de 13 anos e detido por tráfico de drogas, ameaça, lesão corporal e corrupção de menores.

Luiz Alves Martins Filho também já foi diagnosticado com problemas mentais.

Até onde a polícia sabe, Nando está envolvido na morte de 13 pessoas. Os crimes aconteceram entre 2012, quando ele fugiu do Centro Penal Agroindustrial da Gameleira –onde cumpria pena no regime semiaberto–, e este ano.

Características relacionadas aos crimes levam a crer que o assassino confesso é um serial killer, embora as vítimas não tenham sido escolhidas por padrão de idade, gênero, o que é marcante dentre os criminosos deste tipo.

Nando matou todas as pessoas por estrangulamento porque “não gosta de ver sangue” e estabelecer um padrão para matar é um indício de que ele tem o transtorno de personalidade.

Ele também visitava os locais onde enterrava as pessoas que assassinava. Segundo a delegada Aline Sinott, da Deaij (Delegacia de Atendimento à Infância e a Juventude), ele cuidada das covas “como troféus”.

Nando matava quem colocava a “segurança do bairro” onde ele vivia em risco, embora vivesse do comércio de drogas e da exploração sexual de dependentes químicos. “Em um depoimento, que durou cinco horas, Nando disse que todos os que foram mortos praticavam crimes no bairro, como por exemplo, pequenos furtos. Alguns até eram avisados para que deixassem de praticar os crimes, mas não conseguiam, pois furtavam para sustentar seu vício em drogas”, explicou a delegada em entrevista coletiva no dia 25.

Ainda segundo a delegada, Nando “gostava de matar”. “Ele não recebia nada pra matar, não ganhava por isso, matava por gosto e depois voltava às covas para contemplar o que tinha feito”.

O psiquiatra forense, que já atuou em casos de repercussão nacional, deixa claro: “serial killers são aqueles que apresentam o mesmo comportamento antes, durante e depois de cometer o crime”. Eles sabem que o que fazem é errado, ilegal, cruel e imoral, mas não sentem remorso.

Nando contava com o apoio de mais quatro “colegas” para cometer os homicídios. Ele ingressou no “grupo de extermínio” cujo objetivo era “matar vagabundo” e acabou se tornando líder no esquema.

Buscas – Sete ossadas foram localizadas no Jardim Veraneio. A polícia ainda busca os restos mortais de Flavio Soares Correia, Jhennifer Lima da Silva, Eduardo Dias Lima, Jhennifer Luana Lopes e Daniel Gomes de Souza.

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