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Capital

De resto de cerveja à geladeira, Aedes procria em locais improváveis

Flávia Lima | 21/01/2016 14:52
Bianca Figueiredo mostra recipiente com água acumulada atrás da geladeira. (Foto:Fernando Antunes)
Bianca Figueiredo mostra recipiente com água acumulada atrás da geladeira. (Foto:Fernando Antunes)

Que as latas vazias de bebidas podem ser um ambiente propício para a formação de criadouros do Aedes aegypti todo mundo sabe. Mas, o que causou surpresa em uma dona de casa do Bairro Paulo Coelho Machado, em Campo Grande, foi descobrir larvas do mosquito em uma latinha com restos de cerveja consumida por seu marido. O exemplo serve de alerta: o inseto que transmite a dengue, chikungunya, zika e febre amarela pode se reproduzir onde você menos imagina.

"Nunca imaginei que acharia um foco no resto de bebida alcoólica", conta Bianca Silva Figueiredo. Ela diz que o fato ocorreu há alguns dias quando realizava a limpeza de sua cozinha. "Meu marido tinha tomado cerveja no dia anterior e, ao invés de jogar a lata no lixo, guardou embaixo da pia", lembra.

A descoberta de focos do mosquito em lugares inusitados tem surpreendido também os agentes de saúde que fezem visitas domiciliares. Segundo eles, as pessoas se atentam apenas aos objetos que são alvo das campanhas, como latas, garrafas e pneus, e se esquecem de observar os recipientes "alternativos", que em época de epidemia, também se transformam em potenciais criadouros.

Nesta lista de locais improváveis, a agente de saúde Chrystilaine Castro aponta os reservatórios de água, localizados na parte traseira das geladeiras e dos umidificadores de ar, porta escova de dentes, bacias com água, utilizadas para umidificar o ar em alguns cômodos e até latas com resíduos de tintas.

"Parece que o mosquito está se adaptando a novos lugares. Outro dia encontrei um foco enorme dentro de uma lata que tinha uma camada grossa de óleo, mal dava para ver a água", afirma.

Ainda na casa de Bianca, onde o Campo Grande News esteve na manhã desta quinta-feira (21), a dona de casa ressaltou que após a surpresa em encontrar o foco no resíduo de cerveja, procurou ficar mais atenta aos objetos que mantém dentro de casa.

Ela diz que conhece os riscos do reservatório dos refrigeradores, que podem acumular água, mas ressaltou que como realiza o descongelamento semanal, o local está sempre seco. Porém todo o cuidado não livrou a dona de casa de outra surpresa.

No momento em que retirou o recipiente para comprovar sua tese, foi surpreendida pela água que já se acumulava no reservatório. "Nunca imaginei que em menos de uma semana pudesse juntar água ali. Agora vou olhar todo dia", garante.

Já no quintal, uma churrasqueira, usada com pouca frequência pela família, também acabou despertando a atenção de Bianca. Mesmo a peça contendo uma abertura traseira, ela conta com um orifício na parte superior que facilita a entrada da água da chuva, que pode acumular no fundo do objeto.

"Limpo aqui todos os dias e depois do que vi na geladeira, vou ficar mais atenta a essa churrasqueira também", destaca. Ela concorda que a maioria da pessoas se preocupa com os utensílios mais divulgados pela mídia, por isso sua preocupação sempre foi manter o lixo e os recipientes plásticos bem acondicionados e protegidos da chuva, tanto que em seu quintal não há qualquer tipo de material espalhado.

Até o pneu utilizado como brinquedo pelo filho é guardado de forma que não receba água da chuva.

Bons exemplos - Também morador no bairro, o pedreiro Jonas Vieira Garça conta fiscaliza seu quintal todos os dias e que nunca encontrou focos. Até o muro, onde há várias aberturas que podem facilitar o acúmulo de água, não escapa de sua inspeção. "Só encontrei sujeira aqui quando mudei, mas limpamos tudo e agora fica tudo guardado embaixo da cobertura da varanda", conta.

Outro exemplo de cuidado é o do comerciante Antônio Tenório. Morador há dez anos na Rua Pinus, ele mantém um pequeno comércio na frente de casa e garante que não acumula nenhum tipo de material como forma de prevenção.

Como o serviço de coleta acontece apenas três vezes por semana no bairro, ele diz que costuma pagar para um carroceiro recolher a caixas, galhos de árvores e lixo que acumula em seu estabelecimento. Dentro do mercadinho o cuidado é o mesmo.

Antes de acondicionar os vasilhames nos engradados, ele lava as garrafas e seca para garantir que nenhum resíduo de água fique nos vidros. Nos fundos de casa, onde há uma plantação de abóbora, ele cuida para que os recipientes fiquem protegidos da chuva.

A preocupação é tanta que até os utensílios utilizados em plantas e para alimentar os pássaros, são furados, propiciando o escoamento da água.

"Temos que fazer a nossa parte. Do mesmo jeito que não quero ficar doente, também não quero que os vizinhos fiquem, afirma.

No quintal de Bianaca, restos de material de construção e lixo ficam fechados em sacos. (Foto:Fernando Antunes)
No quintal de Bianaca, restos de material de construção e lixo ficam fechados em sacos. (Foto:Fernando Antunes)
Na casa do comerciante Antônio, vasos com plantas são perfurados para vazar a água. (Foto:Fernando Antunes)
Na casa do comerciante Antônio, vasos com plantas são perfurados para vazar a água. (Foto:Fernando Antunes)

Atenção redobrada - Para a agente Chrystilaine, os locais improváveis também precisam ter a mesma atenção da população.

Ela recorda que, além das latas de óleo e tinta em que já encontrou focos, tem sido comum as equipes contatarem criadouros em ralos e banheiros desativados, principalmente os localizados fora da residência.

Restos de obras e materiais de construção não utilizados, também vem se tornando alvo de uma inspeção minuciosa dos agentes de saúde.

"Vasos sanitários jogados nos quintais tem sido um grande problema e sempre encontramos vários cheios de larvas", diz.

Já no interior das casas, os recipientes menores são os que mais chamam a atenção. Chrystilaine conta que já encontrou focos até em uma bacia com água, colocada sob uma cama para umidificar o ambiente. "Mesmo depois de semanas, o recipiente ainda estava cheio", diz.

Como a maioria das pessoas acredita que o mosquito se prolifera apenas em água limpa, a agente diz que fica difícil conscientizar sobre as outras situações encontradas. Em uma das casas ela encontrou foco no porta escova de dentes, que estava sujo. "As pessoas acham que ali é um lugar de difícil acesso ou que a sujeira vai impedir o depósito dos ovos. Mas durante uma epidemia, todos os cantos devem ser observados", conclui.

O comerciante Antônio Tenório mostra as garrafas de bebidas que ficam longe da água da chuva. (Foto:Fernando Antunes)
O comerciante Antônio Tenório mostra as garrafas de bebidas que ficam longe da água da chuva. (Foto:Fernando Antunes)
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