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Capital

Decisão que suspende vacina contra leishmaniose é contraditória

Ricardo Campos Jr. | 14/12/2014 09:16
Com proibição da Leishmune, Leishtec é a única opção para imunizar animais contra leishmaniose (Foto: Alcides Neto)
Com proibição da Leishmune, Leishtec é a única opção para imunizar animais contra leishmaniose (Foto: Alcides Neto)

Decisão do Mapa (Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento) em suspender a indústria de produtos veterinários Zoetis Saúde Animal de fabricar e vender o Leishmune, medicamento usado na prevenção contra leishmaniose, gera contradição entre profissionais e clientes. Isso porque a norma técnica salienta que a substância não atende aos padrões exigidos, mas permite aos veterinários, caso a tenha em estoque, comercializá-la aos clientes.

De acordo com a veterinária Flora Scardini, o tratamento envolve uma fase inicial de três doses seguidas, com 21 dias de intervalo entre elas. Após, o dono leva o animal de estimação somente uma vez por ano à clínica para o reforço.

A questão é: como não há mais como os profissionais comprarem a Leishmune, quem a utiliza para proteger o animal deverá recomeçar o processo do zero com a Leishtec, única opção restante, cerca de R$ 30 mais cara. Dessa forma, no estabelecimento de Flora, clientes novos já estão sendo tratados com essa vacina.

Enquanto isso, as cinco doses restantes estão sendo guardadas para clientes antigos, que procuram o local para o reforço anual. Nesses casos, eles estão sendo avisados que após 365 dias terão que gastar novamente com exames (obrigatórios antes da aplicação), além de comprar três frascos da substância em menos de dois mesesm para o início do tratamento.

“Nós estamos explicando para os clientes entenderem. É uma coisa muito técnica. Tem gente que acha ruim por conta do valor, fica fora do orçamento, não estava esperando. A norma pegou todo mundo de surpresa”, diz Flora.

Cliente da clínica, a fonoaudióloga Nayane Vasquez, 28 anos, está usando a Leishmune há trÊs anos e já garantiu a última dose para a cadela de estimação que deverá ser aplicada em janeiro. Ela vai se preparar para recomeçar o tratamento em 2016. "Eu sou leiga nesse assunto, não sei porque isso [suspensão] aconteceu. Em todos esses anos que eu usei, será que a vacina foi benéfica para o meu animal", questiona.

"Eu ainda tive essa oportunidade de me programar, mas penso nas outras pessoas que não tiveram como fazer isso e têm que começar tudo de novo", diz Nayane.

Motivos – Ricardo Pamplona, fiscal agropecuário do Mapa vinculado ao DFIP (Departamento de Fiscalização e Inspeção de Insumos Agropecuários), explicou ao Campo Grande News que as duas empresas fabricantes das únicas vacinas contra leishmaniose disponíveis no país tiveram que fazer uma série de estudos para comprovar a eficácia das substâncias.

No caso da Zoetis, os resultados não atenderam aos padrões exigidos. Nesse caso, o Ministério não tem o poder de vetar o uso das substâncias que já haviam sido vendidas antes da publicação da norma técnica. Conforme o órgão, técnicos foram encaminhados até a sede da empresa e apreenderam o estoque. A partir dali ela também ficou impossibilitada de produzir novos lotes.

Quem já havia comprado e mantinha doses estocadas pode usar. O presidente do Conselho Regional de Medicina Veterinária de Mato Grosso do Sul, João Vieira de Almeida Neto, disse acreditar que os profissionais irão seguir a recomendação, mas disse esperar que as pesquisas avancem no sentido de produzir uma imunização capaz de prevenir com eficácia a transmissão do protozoário que causa a leishmaniose e seja acessível, de modo que possam ser feitas campanhas que atinjam o maior número possível de animais.

Nayane e a cadela Zatanna. Protocolo de imunização deverá recomeçar em 2016. (Foto: Nayane Vasquez/arquivo pessoal)
Nayane e a cadela Zatanna. Protocolo de imunização deverá recomeçar em 2016. (Foto: Nayane Vasquez/arquivo pessoal)
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