ACOMPANHE-NOS     Campo Grande News no Facebook Campo Grande News no Twitter Campo Grande News no Instagram
ABRIL, QUINTA  25    CAMPO GRANDE 22º

Capital

Deficientes enfrentam dificuldade para conseguir passe-livre no transporte

Paula Vitorino | 13/07/2012 08:34

Jovem com 15% da audição teve o pedido negado e rapaz com 2% de visão foi considerado com a visão normal

Elis briga para renovar passe de deficiente antes da volta as aulas.
Elis briga para renovar passe de deficiente antes da volta as aulas.

Deficientes que precisam do passe-livre em Campo Grande estão reclamando: a avaliação médica não respeita o atestado técnico, e por isso quem solicita enfrenta dificuldade até conseguir.

Os dados do mês passado confirmam que realmente não é fácil. Em junho, segundo a Assetur, foram 252 pessoas deficientes em busca de isenção e 117 pedidos foram negados, ou seja: 46%.

Os usuários de ônibus que já utilizam o benefício do passe-livre são 15 mil, enquanto que o número de idosos isentos é de 30 mil e de estudantes 50 mil.

Entre os que tentam o passe-livre, reclamações são comuns. “A avaliação não é clínica, é na base do ‘olhometro’”, diz o pai Elias Ferreira, de 45 anos, sobre a dificuldade em “provar” que a filha é deficiente auditiva para conseguir e fazer valer o direito.

A jovem de 18 anos, Elis Maria de Souza Nogueira, de 18 anos, teve o atestado de surdez, expedido pela Funcraf (Fundação para o Estudo e tratamento das Deformidades Crânio – Faciais), rejeitado pela avaliação médica da Assetur (Associação das Empresas de Transporte Coletivo Urbano de Campo Grande) ao ir pedir a renovação do beneficio, no dia 3 deste mês.

Em junho, segundo a Assetur, foram 252 pessoas deficientes em busca de isenção e 117 pedidos foram negados. Os usuários de ônibus que já utilizam o benefício são 15 mil, enquanto que o número de idosos isentos é de 30 mil e de estudantes 50 mil.

Há 2 anos em Campo Grande, a estudante conseguiu o cartão por um ano, mas está peregrinando para conseguir garantir o direito.

“Eu tentei explicar o quanto ouvia sem o aparelho, mas o médico nem quis ouvir e me mandou embora. Falou pra entrar com recurso”, conta a estudante de enfermagem.

Ela também afirma que o médico não quis entregar uma justificativa do motivo de não aceitar o laudo. O pai procurou o médico dias depois para esclarecer a solução, mas também não teve resposta.

Elis tem apenas 2% do ouvido esquerdo e 13% do direito. Com o auxilio do aparelho auditivo, ela consegue ouvir apenas do direito e com o trabalho de fonoaudiólogo desenvolveu a fala.

Ela acredita que a avaliação do médico foi baseada no “olhometro” e por ver a estudante ouvindo e falando, aparentemente normalmente com o auxilio do aparelho auditivo, definiu que ela não é deficiente.

“Então quer dizer que se a pessoa usa prótese na perna ou usa cadeira de rodas e por isso consegue se locomover não é mais deficiente?”, questiona o pai.

Eles também questionam que a jovem sempre teve o benefício em Dourados, onde morava, e possui a carteira para viagens gratuitas intermunicipais.

“Ele é importante principalmente para eu ir estudar e conseguir fazer minhas tarefas do dia a dia”, diz a jovem.

João teve dificuldade para provar que filho só enxergava 2%. (Fotos: Simão Nogueira)
João teve dificuldade para provar que filho só enxergava 2%. (Fotos: Simão Nogueira)

Cego? - O constrangimento para o autônomo João Marcos Tavares, de 44 anos, foi para provar que o filho é cego. Ele também sofre de deficiência visual.

Há 2 anos, ele procurou a Assetur para fazer o cartão do filho, que possui apenas 2% de visão, mas a avaliação médica considerou que o garoto enxergava, sim.

Segundo o pai, a avaliação foi feita depois do médico ver o jovem, de 19 anos, andando sem bengala e óculos escuros. “O médico quis fazer um teste e depois que meu filho sentou pediu se ele queria um gibi e instintivamente ele esticou a mão em direção a voz do médico”, conta.

Depois de recorrer, ele finalmente conseguiu o beneficio para o filho, mas agora luta para conseguir novamente o direito. Sem identificar a diferença, o filho pegou o cartão do pai e usou para ir à escola, mas foi flagrado no ônibus e os dois perderam o benefício.

“Os cartões tinham a mesma capinha, ele não tinha como saber que eram diferentes. Mas a rota que ele fez era a da escola, ele não pegou para ir festar”, diz.

João está montando um ofício com a justificativa da troca e espera ter novamente o cartão para poder garantir o direito de ir e vir com mais facilidade.

Procedimento - O diretor-presidente da Assetur, João Rezende Filho, estava em reunião e a reportagem não conseguiu contato, mas a assessoria da Associação informou que o órgão não interfere na avaliação médica.

Segundo a assessoria, a decisão é médica, “uma questão técnica”, e por isso não compete a Assetur interferir no procedimento utilizado pelos profissionais.

A associação ainda informou que para os casos em que o usuário discordar da avaliação existe a Junta Recursal. A orientação é para os usuários entrarem com o recurso, que pode ser feito diretamente na Assetur, logo após a negativa médica.

No entanto, a assessoria não soube informar qual o prazo para resposta da Junta.

Nos siga no Google Notícias