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Capital

Dengue tipo 4 preocupa e enquanto ação é intensificada, população está relapsa

Paula Maciulevicius | 03/10/2011 17:01

Número de casos deve aumentar com a chegada da estação mais chuvosa. Com tanto descuido, população parece estar pronta para receber a dengue

Serralheria como criadouro do mosquito transmissor da dengue. (Foto: João Garrigó)
Serralheria como criadouro do mosquito transmissor da dengue. (Foto: João Garrigó)
População está deixando tudo pronto para a proliferação do mosquito. (Foto: João Garrigó)
População está deixando tudo pronto para a proliferação do mosquito. (Foto: João Garrigó)

Está tudo pronto para a dengue. Tanto as ações de combate desenvolvidas pela coordenadoria de Controle de Vetores do CCZ (Centro de Controle de Zoonoses), quanto o descuido da população.

O baixo índice de casos da doença, que chegam a 4,6 mil notificações até setembro ainda é pequeno comparado com os 41,4 mil casos que fecharam o ano passado, mas os números tem tudo para subir, com a chegada da estação chuvosa, que põe fim à estiagem dos últimos meses.

A preocupação não fica só na questão meteorológica, as condições climáticas ajudam, mas o fato do tipo 4 da doença estar se aproximando, deixa as autoridades de saúde em alerta.

“Já tivemos epidemias de soro tipo 1, 2 e 3. Para esses a população já criou uma certa imunidade, mas o soro tipo 4 ninguém nunca teve, estamos todos suscetíveis”, afirma o coordenador de Controle de Vetores do CCZ, Alcides Ferreira.

O tipo 4 da dengue ainda não foi notificado no Estado, o local mais próximo já com caso registrado é em São Paulo e Minas Gerais.

Para o coordenador, de um modo geral a falta de chuva deixa os índices muito baixos, mas a primavera e a chegada do verão tende a aumentar.

“A população precisa se precaver agora porque tem risco de aumentar os números”, completa.

A ação de combate à doença já está sendo intensificada. As visitas aos domicílios tem se estendido a orientar a população de que o período de chuvas está chegando e que a época requer cuidados ainda maiores.

Segundo Alcides Ferreira, as equipes já estão dando ênfase maior aos pontos estratégicos, como borracharias, cemitérios e oficinas de ferro-velho. E no próximo dia 18 já haverá reunião do comitê de mobilização entre organizações governamentais e não governamentais para disseminação das metas educacionais no combate à dengue.

Em casa, o vizinho indesejável passa o muro e atinge a família de Keli. (Foto: João Garrigó)
Em casa, o vizinho indesejável passa o muro e atinge a família de Keli. (Foto: João Garrigó)

Em uma andada pela cidade, o Campo Grande News pode perceber terrenos baldios ou até mesmo comércios, que colaboram para o ambiente perfeito da proliferação do mosquito Aedes Aegypti. Com recipientes a céu aberto, que acumulam água, parece que está tudo pronto apenas esperando a chuva chegar.

Notificações - A estação que recém chegou tem a característica de frequentes chuvas, e elevação na média de precipitações. No mês de setembro deste ano foram 110 casos notificados, contra os 491 do ano anterior. A preocupação pode ser acompanhada pelos números seguintes, só no ano passado, os meses que correspondem as estações primavera e verão foram responsáveis por 31 mil casos da doença.

A dona de casa Keli Garcia Simões, de 26 anos, é vizinha de uma serralheria, na Vila Nasser, em Campo Grande. Nos limites do próprio quintal ela tem domínio, mas passou do portão para fora, vira refém da falta de cuidado dos demais moradores.

Mesmo com areia, moradora precisa se “livrar” da água acumulada em vaso de planta. (Foto: João Garrigó)
Mesmo com areia, moradora precisa se “livrar” da água acumulada em vaso de planta. (Foto: João Garrigó)

“Como que vai ficar tranquilo com isso aí? Todo mundo já falou para tirar, mas a preocupação é ali”, conta.

Em casa ela cuida para não deixar água acumulada e nos vazinhos a água divide espaço com a areia. A filha de apenas 8 anos responde o que aprende em sala de aula. “Não pode deixar lixo no chão, nem saco aberto, tem que deixar tudo tampadinho”, ensina Michele Simões Vieira.

Descuido - No terreno, vizinho indesejável de Keli, a serralheria se ocupa de forma desorganizada, com portões, janelas, restos de geladeiras, armários, máquinas, fogões e galões. E é aí que mora o perigo.

Em um dos galões, a água acumulada chega a ter uma coloração diferente, que indica que está há muito tempo por ali.

O funcionário da serralheria afirma que o local é limpo constantemente, e que logo depois de chover, todas as peças são colocadas de cabeça para baixo, para escorrer a água. Porém o que o Campo Grande News constatou foi bem diferente.

E a questão não fica apenas na Vila Nasser, no outro lado da cidade, um dos bairros que mais sofre pelos altos índices de infestação, Jardim Tarumã, já tem moradores conscientes que a dengue vem por aí.

Na casa da comerciante Hosana Melo, de 35 anos, cuidado é o que não falta. O terreno desocupado ao lado da residência é limpo constantemente, graças ao empenho dos moradores em puxar a orelha do dono.

“Ele vem sempre limpar, mas não adianta tanto porque as pessoas ainda vem jogar lixo”, fala.

Jennifer viu a doença acabar em tragédia na família com a morte do irmão. (Foto: João Garrigó)
Jennifer viu a doença acabar em tragédia na família com a morte do irmão. (Foto: João Garrigó)

Questionada se a dengue preocupa, ela responde de cara “preocupada claro não é? Teve um caso de um rapaz que morreu de dengue ano passado, tinha só 17 anos”, lembra.

A morte do jovem por conta da dengue hemorrágica trouxe ao bairro o ensinamento pela dor, de que a falta de cuidados pode matar.

“Dá medo e a gente cuida muito, Aqui no vazinho tem areia, porque diz que tem que colocar para não juntar água, e mesmo assim junta, olha só”, diz ao jogar a água acumulada.

Tragédia - Mais à frente o Campo Grande News foi até a casa de Jhonathan Fialho da Silva, morto em dezembro do ano passado, aos 17 anos, depois de ter dengue hemorrágica. A irmã, Jennifer Lourenço da Silva, relembra a história de perder o irmão para a dengue.

“Ele ficou indo três vezes ao posto, falaram que era gripe e medicaram errado, ele continuou vomitando até que passou cinco dias internado e só vomitava sangue”, resume.

O irmão faleceu cerca de uma semana depois que os sintomas começaram. “Ah, preocupa todo mundo agora, tem um cuidado maior dos vizinhos, apesar da Saúde ter vindo aqui e falado que não foi por aqui que ele pegou”, narra.

“Tem que começar a cuidar do quintal desde já, uma pessoa daqui não só pegou e curou, pegou e morreu, o cuidado precisa ser redobrado”, reforça.

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