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Capital

Depois de churrasqueiras destruídas em presídio, carne é assada na rua

Paula Vitorino | 22/07/2011 12:05
"Churrasqueiro" mostra linguiça no espeto. (Foto: João Garrigó)
"Churrasqueiro" mostra linguiça no espeto. (Foto: João Garrigó)

Mesmo após a destruição de churrasqueiras dentro do Presídio Militar Estadual, exigência do MPE (Ministério Público Estadual) contra regalias aos militares presos na unidade, o churrasco continua fazendo parte do cardápio do estabelecimento penal.

Na manhã de hoje, por volta das 8h, a carne já era assada em uma churrasqueira improvisada no terreno em frente ao Presídio, onde fica um alojamento e campo de futebol.

Dentro de isopores, a carne era levada pelos próprios militares até o interior do Presídio Militar. O movimento de espetos, sem carne, entrando e saindo do local também podia ser visto a todo o momento.

O churrasco de sexta-feira é feito às claras e a churrasqueira ao ar livre ainda é responsável por espalhar o cheiro de carne assada e fumaça por toda a vizinhança. Ao lado, fica o Presídio de Segurança Máxima e o Instituto Penal.

A reportagem do Campo Grande News constatou que o serviço de churrasqueiro é feito por militares fardados, mas também por homens à paisana, que se identificaram como PMs. Além da carne, ao menos dois espetos de linguiça fizeram parte do cardápio desta manhã.

Questionados sobre o churrasco, as versões apresentadas pelos responsáveis à reportagem foram diversas. Uma das histórias contadas é de que jogo amistoso entre os batalhões da PM, nesta manhã, teria sido o motivo da confraternização com carne.

O jogo não aconteceu, segundo os PMs, devido ao mau tempo, com neblina e vento frio na região. Mas “como a carne já estava comprada, mantivemos o churrasco e agora vamos comer”, disseram PMs que estavam ao redor da churrasqueira.

No entanto, a versão do futebol era desconhecida por muitos que faziam a guarda do Presídio Militar e também que participavam da confraternização. Outros ainda disseram que o costume de variar o cardápio é normal, acontecendo uma vez por mês.

Todos afirmaram que a carne era exclusivamente para o almoço dos funcionários do Presídio Militar e, por isso, seria cortada, colocada no isopor e levada para o refeitório do estabelecimento. E garantiram que os 26 militares presos na unidade não seriam servidos.

O motivo de fazer o churrasco na parte externa também tinha resposta comum: as instalações do Presídio não têm uma churrasqueira ou espaço apropriado.

Terreno em frente ao Presídio onde é feito o churrasco. Ao lado direito, aparece a churrasqueira e os "churrasqueiros". Ao lado esquerdo, o muro de tijolo aparente e o portão azul da faixada do Presídio.
Terreno em frente ao Presídio onde é feito o churrasco. Ao lado direito, aparece a churrasqueira e os "churrasqueiros". Ao lado esquerdo, o muro de tijolo aparente e o portão azul da faixada do Presídio.

Churrasco - A versão oficial para o churrasco, repassada pelo responsável pelo Presídio, Coronel Osolon Rodrigues, é a do amistoso de futebol cancelado. Segundo ele, o churrasco não é uma prática comum no local e, hoje, aconteceu excepcionalmente.

“Íamos receber o outro batalhão para o amistoso, mas devido ao tempo não tem condições de jogar futebol, mas o churrasco foi mantido”, diz.

No entanto, questionado sobre a quantidade de carne, o coronel disse que o churrasco não seria servido para todos os funcionários, mas somente para os de alto escalão. Isso devido ao horário de almoço dos funcionários ser diferente para cada “grupo”.

O dinheiro para a compra de carne e linguiça, segundo Osolon, saiu do bolso do próprio comandante do Presídio, coronel Francisco de Assis Ovelar.

No Presídio, 11 militares cumprem pena em regime fechado e outros 15 em regime semiaberto ou aberto. Osolon não soube informar quantos funcionários estavam de plantão na escala desta sexta-feira.

Já o Comando da PM garante que o churrasco foi uma iniciativa da Companhia de Guarda e Escolta.

Uma das quatro churrasqueiras destruídas em abril, após vistoria e inquérito do MPE.
Uma das quatro churrasqueiras destruídas em abril, após vistoria e inquérito do MPE.

Sem churrasqueiras - Apesar da afirmativa do Osolon, dizendo que churrascos não são frequentes no local, as denúncias sobre regalias no Presídio são antigas.

Em inspeção no local em abril, o promotor Fernando Jorge Manvailer Esgaib chegou a comparar o presídio a uma colônia de férias. “Da forma como está, os presos ali estão em uma colônia de férias”, afirmou.

Na mesma época, após exigência do MPE, quatro churrasqueiras que ficavam na parte interna do Presídio foram demolidas.

As vistorias ainda revelaram o acesso livre de detentos à parte externa do Presídio e “puxadinhos” com banheiro privativo, entre outras regalias.

Na semana passada, o MPE voltou ao Presídio para averiguar as instalações e, segundo a assessoria da Promotoria de Justiça, nenhuma irregularidade foi constatada.

O promotor Fernando Esgaib está de férias e a reportagem não conseguiu contato. No entanto, a assessoria informou que a denúncia de churrascos ao livre, com a carne sendo levada para dentro do presídio, é nova e que será anexada ao inquérito.

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