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Capital

Em abrigo, meninos que sonham em ser "gente de bem"

Elverson Cardozo | 02/09/2012 08:27
Adolescente de 15 anos está há mais de 6 meses no abrigo. (Fotos: Rodrigo Pazinato)
Adolescente de 15 anos está há mais de 6 meses no abrigo. (Fotos: Rodrigo Pazinato)

“Espero ser um grande homem e que meu nome esteja na sociedade como um cara do bem”. A resposta que impressionou o repórter veio de uma pergunta simples: O que você espera do futuro?

O garoto de olhos claros e boa conversa tem apenas 15 anos, muitos sonhos e uma história de vida difícil de acreditar. Foi apresentando às drogas pelos próprios pais, quando ainda era criança.

Aos 10 anos, uma discussão em casa resultou em uma sequencia de agressões que o deixou sem andar por quase 6 meses.

No corpo, cicatrizes das cirurgias para implantação de platinas nas duas pernas. Na memória, as tristes recordações do passado.

“Não tive infância. Cedo eu já tive que trabalhar. Um dia meus pais saíram de casa e me deixaram com um traficante. Ele apontou uma arma na minha cabeça e falou: você vende droga ou eu te mato. É por isso que sou muito criança até hoje”, revelou, em tom baixo, sem fixar o olhar.

A declaração é apenas parte do relato deste adolescente que conheceu, cedo de mais, o pior lado da vida. À reportagem ele conta que foi criado com liberdade, por um pai traficante e uma mãe usuária de drogas, que ele não vê há pelo menos 5 anos. "Vi meu pai esses dias na televisão. Foi preso porque tentou roubar uma casa", relatou.

Hoje, longe de tudo isso, o adolescente que ainda se diz criança e revelou brincar com carrinhos e bonecos, fala sobre o futuro e manda um recado àqueles que pensam em desviar do caminho: “O mundo das drogas não vale a pena. Você ganha morte, cadeia e estraga um monte de vida. Se compensasse eu estaria lá”.

Abrigo foi fundado no ano passado.
Abrigo foi fundado no ano passado.

Seu grande sonho? Se tornar juiz da vara da infância e juventude. Não é por acaso.

Abrigo - O personagem que abriu esta reportagem é um dos meninos acolhidos pelo Abrigo Oseas (Organização Social Evangélica de Apoio a Sociedade), instalado no bairro Coronel Antonino, em Campo Grande.

A organização foi fundada em maio de 2011 pela Igreja Presbiteriana do Brasil em Campo Grande. Os primeiros atendimentos começaram em junho do ano passado. Até agora, mais de 70 jovens já passaram pelo abrigo.

O espaço é vinculado à SAS (Secretaria de Assistência Social) e funciona 24 horas por dia.

Coordenador do abrigo, Ricardo Rosa, de 38 anos, explica que a entidade é uma casa de passagem que abriga apenas meninos, com idade que varia de 12 a 18 anos incompletos e que estejam em situação de vulnerabilidade social.

Eles chegam ao local pelos Conselhos Tutelares espalhados pela cidade e após decisões judiciais expedidas pela vara da infância e justiça. A casa tem capacidade para atender 16 jovens. Na teoria, eles deveriam permanecer apenas 72 horas no local, mas a demanda é maior do que se imagina.

Quando um jovem consegue deixar o mundo das drogas a única sensação é de gratificação, comenta o coordenador do abrigo, Ricardo Rosa.
Quando um jovem consegue deixar o mundo das drogas a única sensação é de gratificação, comenta o coordenador do abrigo, Ricardo Rosa.

Quando chega ao abrigo, o adolescente é assistido por uma equipe composta por educadores, assistentes sociais e psicólogos. Eles trabalham para que esse jovem seja reinserido na família e na sociedade.

“A maioria dos casos, quase 100%, tem envolvimento com o uso de substâncias psicoativas”, afirmou o coordenador, ao destacar que são comuns recaídas. “A gente tem que trabalhar com base na esperança, mas sem criar expectativas”, resumiu.

Para a assistente social Vilma Siqueira Sandim, de 39 anos, que atende no abrigo, o mais difícil é conseguir convencer os rapazes a buscar uma nova vida. “Na concepção deles, maconha é um cigarro normal”, exemplificou.

A casa, segundo o coordenador, necessita de doações. Interessados em ajudar podem ligar para o telefone (67) 3042-5884. O Abrigo Oseas fica na rua Caxias do Sul, 522.

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