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Capital

Execuções na rua trazem para a Capital crime tido como de fronteira

Marta Ferreira, Aline dos Santos e Nadyenka Castro | 24/02/2012 15:18
O promotor Douglas dos Santos: sociedade precisa de resposta concreta sobre crimes de pistolagem. (Foto: Marlon Ganassin)
O promotor Douglas dos Santos: sociedade precisa de resposta concreta sobre crimes de pistolagem. (Foto: Marlon Ganassin)

Em outubro de 2010, um vereador de Alcinópolis foi executado em Campo Grande e os autores presos em plena avenida Afonso Pena. Um ano e quatro meses depois, na tarde desta quinta-feira, um assassinato com as mesmas características se repete, dessa vez em frente a uma escola, em região nobre da cidade, no Jardim dos Estados.

Para quem vive a rotina dos tribunais e dos julgamentos de assassinos, os dois fatos trazem à tona uma constatação: os crimes de pistolagem, realidade antes remetida à fronteira, estão cada vez mais comuns na Capital de Mato Grosso do Sul.

A análise foi feita nesta manhã pelo promotor criminal Douglas Oldegardo dos Santos e pelo criminalista Ricardo Trad, durante o julgamento de Valdemir Vansan e Irineu Maciel, acusados de envolvimento na morte do vereador Carlos Antônio da Costa Carneiro.

Ao comentar a execução ontem de Andrey Galileu Cunha, de 31 anos, e a tentativa de homicídio contra Pedro Lauro Gonçalves, ambos já processados por envolvimento na máfia da jogatina, o promotor relembrou um outro caso rumoroso em Campo Grande, a execução do delegado Robson Maia, na avenida Bandeirantes, em 1996.

De lá para cá, esse tipo de situação tem ocorrido em espaços de tempo cada vez menor, como nas mortes do jornalista Edgar Lopes de Faria, o Escaramuça, em 1997, ou ainda, na década de 2000, a morte do advogado Willian Maksoud, executado em 2006.

Doença da terra - “Não acontece apenas no interior do País”, pontua o promotor. Ele defende que “o crime de pistolagem precisa de uma resposta à sociedade”.

O promotor ainda lembrou que a Justiça precisa ser eficaz. “Pessoas de bem, se acontece alguma coisa, elas não podem bater, matar, elas têm que procurar a Polícia, em primeiro lugar. É por isso que nesses casos a Justiça tem que ser mais eficiente”, defendeu.

Para Ricardo Trad, criminalista dos mais experientes, o crime de ontem tem toda a característica de pistolagem. “Foi um ato mediante tocaia, pago e queima de arquivo. Pasmem, foi em frente a um colégio onde inúmeras criancinhas transitavam. Vejam a coragem desses assassinos de aluguel”, reforçou.

Trad lembrou, ainda, que esse tipo de assassinato tem três “personagens”: um executor, um intermediário e um mandante. Ele citou que os pistoleiros de hoje são a evolução dos jagunços, com a diferença de que trocaram os cavalos pelas motocicletas, para ter rota de fuga mais fácil e mais rápida.

A morte vem de moto – Na fronteira com o Paraguai, a morte também vem de motocicleta. A cena é clássica: uma dupla, com identidade oculta por capacetes, vem de moto, o carona efetua poucos e precisos disparos e foge a toda em direção ao país vizinho.

Assim foi a execução do jornalista Paulo Rocaro, baleado quando passava de carro na avenida Brasil, em Ponta Porã. O atentado foi no último dia 12. Ele morreu na madrugada do dia seguinte.

Na fronteira, o diferencial é a arma. O revólver calibre 38 é substituído pela pistola 9 milímetros e seus projéteis com alto poder de perfuração. A pistola é de uso restrito das Forças Armadas, mas pode ser comprada no mercado paralelo, por valores entre R$ 2 mil e R$ 2.500.

Há 12 anos trabalhando na região de fronteira, o delegado Clemir Vieira Júnior relata que a escolha da arma determina o tipo de veículo. A pistola é predileta dos assassinos que usam motos. “Se sair com um fuzil na mão, chama muita atenção”. Portanto, a segunda opção exige que o assassino esteja em um carro. De acordo com o delegado, vem aumentando os crimes com fuzis, também negociados no mercado paralelo.

Mas, para ele, a situação já foi bem pior na fronteira. “Na nossa região, os crimes de pistolagem vem diminuindo, já foi maior. Não é algo que se vê todos os dias”, pondera. Segundo o delegado, titular da 1ª Delegacia de Ponta Porã, 80% dos crimes de homicídios são esclarecidos na cidade.

Na semana passada, em Coronel Sapucaia, foi preso Jacinto Ramon Cristaldo Ramirez, apontado como pistoleiro do traficante paraguaio Felipe Baron Escurra, conhecido como “Barão da Maconha”. Ao saber da prisão, a reportagem buscou mais informações com as autoridades judiciárias de Ponta Porã, onde foi expedido mandado de prisão. Mas as resposta veio franca: “Mas qual pistoleiro? Aqui tem uns 500”.

Policiais e peritos retiram corpo de homem executado em rua de bairro nobre de Campo Grande.
Policiais e peritos retiram corpo de homem executado em rua de bairro nobre de Campo Grande.
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