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Capital

Expulsos de favela, moradores pagam própria mudança para “brejo”

Natalia Yahn | 08/03/2016 12:20
Jenifer Benites de Souza, que tem dois filhos e, junto com o marido, tenta reerguer o barraco no terreno do bairro Vespasiano Martins. (Foto: Marcos Ermínio)
Jenifer Benites de Souza, que tem dois filhos e, junto com o marido, tenta reerguer o barraco no terreno do bairro Vespasiano Martins. (Foto: Marcos Ermínio)

As famílias que são removidas da favela Cidade de Deus para o terreno no bairro Vespasiano Martins, em Campo Grande, pagaram do próprio bolso pelos caminhões que fizeram a mudança. Moradores afirmam que foram expulsos da favela na segunda-feira (7) e, após serem notificados pela Prefeitura para deixarem os barracos, esperaram aproximadamente 10 horas pelo transporte.

Já na nova áreas, famílias que passaram a noite ao relento relatam o drama de deixarem suas casas e começar tudo do zero. “Eu pensei que sairia da favela para minha casa própria. E não foi o que aconteceu. Só transferiram a favela de lugar. Praticamente expulsaram a gente, não tinha opção, nem escolha. E agora colocaram a gente no brejo”, disse Jenifer Benites de Souza, 20 anos.

Nesta terça-feira (8), no Dia Interacional da Mulher, a dona de casa trabalhava na reconstrução do barraco, que foi o lar dela, do marido e dois filhos – de 2 e 1 ano – na favela por dois anos. E agora a principal preocupação é reerguer o barraco e rezar para que o tempo instável não atrapalhe. “A vizinha disse que quando chove este terreno aqui enche de água”.

Para mudar ela precisou pagar R$ 100 para transportar móveis e também todos os materiais necessários para reconstruir o barraco – madeira, telhas e outros itens – e ainda esperou aproximadamente 10 horas para poder deixar a favela. “Umas 4 horas da tarde a gente resolveu pagar o frete e trazer as coisas para a área que mandaram. Nosso barraco estava desmontando, a gente no relento e começou a chover”, disse.

O servente de pedreiro Willian de Oliveira, 30 anos, que ajuda na construção do barraco disse estar preocupado por conta da possibilidade de alagamento do local. “Uma vizinha disse que este terreno aqui fica cheio de água quando chove. Tomaram que não chova agora enquanto a gente monta”.

Para colocar as estacas que vão sustentar o barraco foi preciso cavar o terreno, e em todos os buracos feitos jorrou água. “Colocamos várias estacadas e todas as vezes que cavamos subiu água”, afirmou Oliveira.

A pastora Rosana da Silva, 38 anos, também foi expulsa da favela e precisou pagar R$ 140 para fazer a mudança ontem. Ela e os filhos de 17 e 11 anos dormiram no terreno do bairro Vespasiano Martins, destinado as famílias removidas da Cidade de Deus.

“Foram duas viagens para fazer a mudança, mas acredito que Deus vai ajudar. É só Ele por nós mesmo. Minha casa na Cidade de Deus demorei três meses para levantar, aqui vai ser em um dia. Eu e meus filhos ficamos aqui a noite toda, nem lona tinha. Fui dormir 4h30 e acordei 5h40 para continuar montando o barraco”, afirmou.

 Érica Sales Gregório, quer uma casa, assim como os demais moradores da Cidade de Deus. (Foto: Marcos Ermínio)
Érica Sales Gregório, quer uma casa, assim como os demais moradores da Cidade de Deus. (Foto: Marcos Ermínio)

Cidade de Deus - Enquanto os moradores que já tinham deixado a favela, tentavam reconstruir um lugar para morar, outros continuam a ser retirados da Cidade de Deus nesta terça-feira (8). Parte das famílias, inclusive, resistem a deixar a área.

Maisa Marcondes, 24 anos, vivia na favela com o marido e quatro filhos – de 5, 3 e 2 anos, e um bebê de 8 meses – há 2 anos. O sonho da família era conseguir uma casa, mas até agora só receberam mesmo o 'kit barraco' – com lona, um saco de pregos e cordões.

“Vamos ter que levar tudo, telhas, madeira. Porque o que estão dando é muito pouco para reerguer o barraco. Mas estou preocupada mesmo por causa da escola e da creche. Na Cidade de Deus a gente tem, mas lá (Vespasiano Martins) não vai ter”, disse.

Outra preocupação dos moradores é em relação ao atendimento médico. “Quando preciso ir no posto de saúde do Parque do Sol preciso levar o comprovante de residência da minha mãe, que mora nas casinhas do Pedro Teruel. Porque senão se recusam a atender a gente, pois não temos endereço fixo reconhecido”, afirmou Jenifer.

Para outra moradora da Cidade de Deus, que ajudava a escrever uma placa de protesto com a frase “Quero casa e não barraco”, Érica Sales Gregório, 21 anos, a falta de assistência de saúde é o principal problema dos moradores da favela. “Já recusaram atender meu filho de 4 meses no posto do Parque do Sol. Se a gente precisa de médico tem que ir lá na UPA (Unidade de Pronto Atendimento) do Universitário. E falaram no posto que é ordem do prefeito para não atender os favelados”, afirmou.

A Prefeitura foi procurada pela reportagem para explicar as denúncias dos moradores que tiveram que pagar pelo transporte para a área no Vespasiano Martins e também sobre a recusa em atender os moradores da favela na UBSF (Unidade Básica de Saúde da Família) Parque do Sol, que fica próximo a Cidade de Deus. Mas até o fechamento deste texto não foi dada resposta.

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