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Capital

Falta quase tudo nas Upas, de soro a aparelho para exames

Lidiane Kober | 29/10/2013 18:55
Revoltados com a falta de remédios, pais da pequena Aline entendem que o "povo só é lembrado na época da eleição" (Fotos: Cleber Gellio)
Revoltados com a falta de remédios, pais da pequena Aline entendem que o "povo só é lembrado na época da eleição" (Fotos: Cleber Gellio)

Prioridade na campanha eleitoral do prefeito Alcides Bernal (PP), a saúde, segundo médicos e usuários, piorou em Campo Grande e a população agoniza com a falta de material de trabalho, de remédios e de aparelhos básicos nas três Upas (Unidades Básicas de Saúde) e nos seis Centros Regionais de Saúde. O caso parou nas mãos do MPE (Ministério Público Estadual), após o Sindicato dos Médicos fiscalizar e confirmar a ausência de condições para efetuar atendimento de qualidade à população.

Após várias denúncias, o sindicato foi à Upa do Bairro Coronel Antonino dia 20 de setembro. No local, a entidade constatou a falta até de papel para imprimir receitas e fichas de exames. Para piorar a situação, os equipamentos de urgência e emergência estão “quebrados” e colocam em risco a vida dos usuários. Passados 25 dias, o sindicato protocolou, dia 15 de outubro, denúncia no MPE.

“Como os hospitais estão superlotados, muitos pacientes permanecem até 12 horas nas Upas a espera de um leito. Por isso, é extremamente necessário equipamentos para acompanhar as condições da pessoa”, frisou a diretora administrativa do sindicato, Luzia Santana. Apesar da importância, na unidade do Coronel Antonino o monitor de cardiograma e o eletrocardiograma estavam quebrados.

De acordo com uma funcionária da Upa, que pediu sigilo do nome por medo de represália, o aparelho de ultrassom “ficou quebrado por dois meses”. “Na semana passada, após a prefeitura saber de fiscalização do Ministério da Saúde, mandaram um equipamento de outra unidade para cá”, relatou.

Nesta terça-feira (29), ainda conforme a funcionária, a Upa está sem tubos para coleta de sangue, hipoclorito, medicamento necessário para fazer nebulização, e sem lençóis para as camas.

Admis Júnior precisou se deslocar a outro posto porque o aparelho de raio-X do Guanandi está quebrado
Admis Júnior precisou se deslocar a outro posto porque o aparelho de raio-X do Guanandi está quebrado

No Centro Regional de Saúde do Guanandi, o aparelho de raio-X não funciona há meses. O coletor de lixo Admis Júnior Mattos Benfica, 27 anos, precisou contar com a boa vontade dos patrões para conseguir, hoje, carona para realizar o exame na Upa do Bairro Coronel Antonino.

Ontem (28) à noite, durante o trabalho, ele sofreu um acidente e colegas o levaram à Upa do Coronel Antonino. Lá, ele chegou às 21h e foi atendido às 2h45. “Me deram uma injeção para dor e me mandaram embora. De manhã, acordei com o joelho inchado e vim correndo para o posto do Guanandi”, relatou.

No local, o médico o mandou de volta ao atendimento de origem para realizar o exame de raio-X. “Depois, vou precisar voltar aqui para ele analisar o exame, ainda bem que o pessoal da minha empresa está dando assistência, caso contrário, não teria como andar de ônibus com a perna machucada”, comentou.

Revolta - Da Upa da Vila Almeida, os pais da pequena Aline, de um ano e três meses, Adão Colman Ramos, 33 anos, e Lindinalva Ferreira da Silva, 22 anos, saíram desolados, após não encontrarem remédios básicos para a filha tratar pneumonia. Antes, eles ainda enfrentaram o desafio de encontrar um médico pediatra.

“Ligamos para os postos do Aero Rancho, Universitário, Cophavilla e Guanandi e todos estavam sem médicos. Precisamos sair de moto, com a criança no colo, do Aero Rancho até a Vila Almeida para achar um pediatra”, comentou Adão, que deixou o emprego de açougueiro para socorrer a filha.

Na Upa, o casal chegou às 11h e só saiu às 16h e de mãos vazias. “A farmácia do posto não tinha soro nasal e nem os antibióticos amoxilina e cefalexina”, contou a mãe da pequena Aline. “É revoltante”, completou. “Só lembram da gente na hora da eleição”, emendou o pai, fazendo menção ao políticos.

Reinaldo foi duas vezes ao posto do Guanandi e saiu sem remédio para combater labirintite
Reinaldo foi duas vezes ao posto do Guanandi e saiu sem remédio para combater labirintite

Ele ainda relatou que, na semana passada, sua mãe, Ramona Colman, 54 anos, precisou pagar para não interromper o uso de medicamentos controlados. “Todo o mês, ela pega a receita no posto e ganha o remédio, mas, como não tinha papel de receita, indicaram o medicamento em uma folha sulfite e a farmácia se recusou a fornecer o remédio por não conter os dados necessários”, contou.

Também na Upa da Vila Almeida, a costureira Carmem Godoy, 56 anos, saiu sem medicamentos básicos para combater dor e controlar a diabetes. Já o aposentado Reinaldo Azevedo, 72 anos, ficou sem remédio para amenizar labirintite. “É a segunda vez que venho no posto do Guanandi e não tem o medicamento”, afirmou.

Perseguição – Por denunciar o caos nos postos, o médico Renato Figueiredo chegou a ser afastado do cargo. A prefeitura, por sua vez, alegou mal atendimento, mas colegas de trabalho negam a negligência e destacam a atuação exemplar do profissional. Por sete anos, ele atuou nas Upas do Coronel Antonino e da Vila Almeida.

“Uma vez e outra, faltavam medicamentos, mas, nos últimos 10 meses, a situação piorou demais”, desabafou. Segundo ele, tem dias que faltam até 30 produtos, entre medicamentos e material de trabalho, sem contar os equipamentos estragados. “A gente se sente amarrado, sem ter como ajudar as pessoas”, lamentou.

Sem condições de trabalho, ele ligava para o secretário municipal de Saúde, Ivandro Fonseca, cobrando vagas nos hospitais para não deixar o paciente morrer. “No início, ele me atendia, depois, já não atendia mais, mas prefiro denunciar, porque não aguento ver gente morrer sem poder fazer nada”, frisou.

Dr. Renato foi afastando das Upas após denunciar caos na saúde
Dr. Renato foi afastando das Upas após denunciar caos na saúde
Segundo a diretora do Sindicato dos Médicos, profissionais estão sofrendo retaliações por denunciar falta de remédios
Segundo a diretora do Sindicato dos Médicos, profissionais estão sofrendo retaliações por denunciar falta de remédios
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