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Capital

"Gritei e ele não respondeu", conta o 1º taxista a chegar onde colega foi morto

Paula Maciulevicius | 13/07/2012 11:29

“Gritei Manoel, Manoel, Manoel e ele não respondeu. Foi quando o policial chegou e falou ele já está morto”. O desabafo é do também taxista Kelson Silva Rosa, 33 anos. Ele é um dos quatro colegas que saíram em busca dos assaltantes que mataram Manoel Kusman Bondarenco, na madrugada desta sexta-feira, junto com a Polícia Militar. Kelson foi o primeiro a chegar no lugar.

No chamado para a última corrida de Manoel, Kelson era o terceiro da fila. A chamada veio pela central. “Eu vi ele saindo e falei brincando vai dormir, vai dormir”, relembra.

Quando Kelson retornou de uma corrida, recebeu a chamada da central de Manoel perguntando se havia algum carro sumido e se ali tinha algum motorista chamado Manoel. O rapaz respondeu que sim e em seguida foi informado de que o colega havia sido assaltado em Sidrolândia.

“Quando eu liguei no celular dele, estava desligado. Aí voltei no carro para falar com a central e a Polícia Militar chegou lá com o cara para caçar o outro. Éramos 30, fomos só em quatro”, conta.

A Polícia Militar foi até o ponto onde Manoel saiu. No terminal rodoviário, já com Adailton da Mata Souza, conhecido como “Pequeno”, preso. Ele era quem estava dirigindo o táxi após o crime.

Kelson foi quem mesmo, com a angústia de não saber se o colega estava vivo, localizou o segundo envolvido, Evandro Silva dos Santos, conhecido como “Zoinho”.

O motorista saiu de táxi pela avenida Guaicurus em direção ao bairro Cohab, quando encontrou e abordou um mototaxista que ia buscar um passageiro ali próximo. “Eu falei vamos lá ver. Quando achamos ele, eu pedi os documentos deles e perguntei onde ele morava. Ele disse que era perto do Pires no Colibri, aí bateu com a indicação do outro, que disse que também morava lá”, diz.

Em seguida, eles questionaram sobre o local de onde o rapaz fez a ligação, conferiram que batia com o número de um orelhão próximo de um motel, ali na região.

“Enquanto isso ele dizia tem que pegar esses caras que matam taxista e no final era ele o cara”, conta.

Kelson e o mototaxista ficaram com Evandro até a Polícia Militar chegar e de lá seguiram para onde o crime aconteceu e o corpo de Manoel estava.

“Fui o primeiro a chegar lá. É uma estrada de chão, dá pra entender que ele andou um pouco e caiu, estava encolhido no chão, com bastante sangue”, descreve a cena.

No ponto onde Manoel trabalhava, quatro taxistas saíram junto da PM para localizar assaltantes. (Foto: Rodrigo Pazinato)
No ponto onde Manoel trabalhava, quatro taxistas saíram junto da PM para localizar assaltantes. (Foto: Rodrigo Pazinato)

Hoje enquanto conversava com o Campo Grande News, Kelson estava abalado. Triste de perder um colega por tão pouco. “Ele apertou por socorro, acionou a central, mas só deu tempo de reportar onde ele estava e em seguida o sinal sumiu. Os caras já sabiam que ele tinha dinheiro. Na central eles pediram troco para R$ 100. Então eles sabiam que no bolso ele ia ter pelo menos R$ 100”.

Após a onda de assaltos a taxistas do ano passado, Kelson diz que a segurança continua rium. “Agora voltou de novo. Perdi um amigo, mas podia ser eu. Só a rádio é diferente, mas a minha área e a dele é a mesma”.

“Não imaginava que ele estava rindo e 2h depois acho ele morto”, finaliza.

Ponto de táxi - Entre os colegas do ponto onde Manoel trabalhava o clima era de pouca conversa. Quem compartilhou do último turno do taxista já não estava mais ali, quem chegou para trabalhar sabia da notícia e com dor no coração seguia adiante para trabalhar.

Segundo relatos dos colegas de ponto, Manoel trabalhava há cerca de um ano e meio no ponto e de uns tempos para cá estava sozinho no carro, não dividia com outro taxista.

“É sobre a morte do meu amigo?” em seguida a taxista mulher de 51 anos caiu no choro. Não quis se identificar por medo de se expor e se tornar uma nova vítima. “Eu estava abastecendo o carro quando me falaram e eu disse é brincadeira, não pode ser”, conta.

Taxista há 8 anos ela fala que há pouca, muito pouca segurança. “Não tem segurança nenhuma, que segurança nós temos? Se tivesse ele não estaria morto. Medo a gente tem a todo momento, a gente fica se sentindo um trapo, uma pessoa que não tem significado de nada”, desabafa.

Ela conta com propriedade de quem roda a cidade inteira e traz à tona o que já foi discussão no ano passado. “Tinha que fazer ronda, tem região que tem que ficar direto, principalmente de noite, de madrugada. Tinha que perguntar para a gente se está tudo bem, para onde o passageiro está indo”.

O colega Aparecido Ferreira, 53 anos, compartilha de outra opinião, puxando para o lado de quem sofre, além de assaltos, a pressão das centrais e dos donos de pontos.

“Sofre pressão muito grande, eles querem dinheiro e a gente acaba fazendo corrida de alto risco para apresentar quilometragem. Dá medo, mas se for pensar no medo, tem que desistir da profissão”.

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