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Capital

Insegurança assombra pequenos comércios de Campo Grande

Paulo Fernandes e Viviane Oliveira | 09/07/2011 14:00
Tristeza sem fim: um ano depois, Lucília Maria da Cruz ainda chora a morte do marido (Foto: João Garrigó)
Tristeza sem fim: um ano depois, Lucília Maria da Cruz ainda chora a morte do marido (Foto: João Garrigó)

“Quando eu começo a pensar no que aconteceu, eu choro, mas eu não posso me entregar. Eu tenho que ter força para trabalhar”. A frase é de Lucília Maria da Cruz, de 54 anos, que perdeu o marido, Valdemir João da Cruz, de 59 anos, em um assalto há mais de um ano, na avenida das Bandeiras, Vila Nhá Nhá, em Campo Grande.

A tragédia que nunca saiu da cabeça de Lucília e dos filhos não é um caso isolado. Na última terça-feira, o gerente do Mercado Souza, Carlos Expedito Ferreira Boccia, de 41 anos, morreu em um assalto, no estabelecimento que fica no bairro Taveirópolis.

“Quando fiquei sabendo desse assalto, fiquei muito mal e triste”, conta Lucília. “Achei certa a reação do policial, mas infelizmente um inocente morreu. Agora não pode achar certo não reagir, porque se não os bandidos vão tomar conta dos comércios”.

Nos dois casos, os mercados já haviam sido assaltados muitas vezes. Carlos Expedito foi morto no 9º assalto ao mercado no bairro Taveirópolis e Valdemir no 10º roubo ao estabelecimento da Vila Nhá Nhá.

Lucila manteve o mercado funcionando. “Desde o dia que o enterrei, eu trabalho dia e noite. Hoje, eu fecho o comércio às 19h, trabalho o tempo todo com medo e só continuo por Deus e porque eu preciso”, disse.

Nem mesmo a tragédia interrompeu os assaltos ao mercado. Dez meses depois, o mercado foi roubado novamente. Os ladrões levaram conhaque, cigarro e duas peças inteiras de carne.

Mesmo após os roubos, Lucília não contratou segurança por falta de dinheiro e porque não acredita que isso soluciona o problema, já que o profissional pode ser rendido pelo assaltante. “Vai que esse pai de família morre aqui no estabelecimento?”.

O mercado existe há 22 anos. Há 15, Lucília tem notado um aumento na onda de assaltos.

O assalto que tirou a vida de Valdemar aconteceu pouco antes das 20h. Encapuzados, os criminosos chegaram numa moto e renderam um açougueiro, que estava na porta.

Mercado na Vila Nhá Nhá ainda tem marca de tiro de um dos 10 assaltos (Foto: João Garrigó)
Mercado na Vila Nhá Nhá ainda tem marca de tiro de um dos 10 assaltos (Foto: João Garrigó)

Acuado, o açougueiro indicou que o dinheiro estaria com a Lucília. Prontamente ela foi para o caixa pegar.

Foi quando Valdemir saiu do banheiro, viu que estava acontecendo o assalto e resolveu reagir. Mas ele só viu um dos assaltantes.

O dono do mercado agarrou o pescoço do assaltante e levou-o para fora. “Ele nunca tinha reagido a um assalto antes”, conta a esposa.

Ao ver a reação, o outro assaltante também saiu do mercado e deu três tiros na direção dele. Dois disparos acertaram Valdemir no tórax, pouco acima da cintura.

Lucília, então, quebrou um banquinho de madeira na cabeça de um dos assaltantes.

Um dos filhos do casal colocou Valdemir no carro e levou para o hospital. O pai de família não resistiu e morreu à meia-noite, com hemorragia interna.

Até hoje, ninguém foi preso pelo crime. “Sempre que vem algum policial, eles dizem que ainda estão investigando”, conta a esposa.

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