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Capital

Interditado, 'pior ferro-velho da cidade' se mantém informalmente na rua

Adriano Fernandes | 22/11/2016 14:37
Calçada ainda é tomada pela sucata, que também toma conta de todo o terreno. (Foto: Marina  Pacheco)
Calçada ainda é tomada pela sucata, que também toma conta de todo o terreno. (Foto: Marina Pacheco)

O visual continua o mesmo pelo "ferro-velho do Zé" na Rua Jatobá, no bairro Guanandi, um dos mais polêmicos e problemáticos de Campo Grande quando se refere aos cuidados no combate ao Aedes aegypti, mosquito transmissor de dengue, zika e chikungunya. Em março deste ano, o dono chegou a ser preso e o espaço interditado, após ser classificado como "o pior da cidade" em termos de focos do inseto.

Ignorando a interdição, por lá, o comerciante José Ferreira da Silva, de 67 anos, ainda vive às custas das peças dos carros que desmancha do lado de fora do amontoado de entulhos, que é onde também mora em um barraco de madeira.

Depois de ter ficado preso por quatro dias em decorrência da operação de março, que envolveu Vigilância Sanitária Municipal, Polícia Civil, Agetran (Agência Municipal de Transporte e Trânsito), Conselho Tutelar e até o Exército, Silva comenta que voltou para o local. Mas, desde então, garante que não vende mais as peças que estão empilhadas em seu terreno - a atividade está restrita ao acumulado na frente do imóvel.

“Depois daquela situação, minha vida praticamente acabou. O ferro-velho está interditado pela Vigilância Sanitária e não posso vender mais nada lá de dentro. Desses carros que estaciono aqui do lado de fora, por exemplo, eu posso tirar e vender alguma coisas porque a rua é pública, mas do lado de dentro não, porque não tenho autorização. A não ser que eu construa uma estrutura, crie um CNPJ, mas não tenho condições para isso. Ficou decidido que aqui nesse local o máximo que eu poderia fazer era entrar, já que eu moro ali no meio”, conta.

Na época, a principal denúncia que motivou a operação foi que os 280 pneus armazenados no local serivam de focos para a proliferação do Aedes aegypti. José nega a informação.

“(Os pneus) estavam todos tampados, inclusive dentro de um container e eles ainda levaram dizendo que era um possível foco. Eu tive um prejuízo de 280 pneus da minha mercadoria”, explica.

Silva diz que mora na Rua Jatobá desde a década de 70. Há 18 anos trabalhava com ferro-velho. Ele conta que não pretende mudar de ofício, mas quer mudar de endereço.

As sucatas dos veículos recolhidos pelo senhor José são mantidos na rua. (Foto: Marina Pacheco)
As sucatas dos veículos recolhidos pelo senhor José são mantidos na rua. (Foto: Marina Pacheco)

“Esses carros estavam em um terreno que eu alugava e precisou ser desocupado. Então tenho que arrumar outro lugar, sair daqui, até que também saia um resultado do processo”, comenta. O processo a que Silva se refere tem ele como acusado de poluição ambiental, movido desde que a vigilância interditou o endereço.

“Procurei um defensor público para me instruir no processo de abertura de firma, mas até mesmo para questionar essa ação que eles estão movendo contra mim, porque me colocaram numa posição injusta. Partiu de uma denúncia de que aqui era um foco de dengue, mas aqui eu não mantinha focos do mosquito. O fato é que quem trabalha com ferro-velho sempre vai ter a imagem denegrida”, se queixa.

Entre vizinhos, as queixas não são muitas quanto ao comerciantes que, em outros tempos, era indesejado no bairro. 

“Ele não incomoda a não ser por deixar esses carros à margem da rua, impedindo quem queira estacionar. Nem barulho faz aí. Ele é uma pessoa bem humilde”, comenta dona de casa Brandina Ferreira da Sila, de 84 anos.

A também dona de casa Alice da Silva, de 67 anos, é outra que evita se queixar do vizinho. Mas, não nega que o acúmulo de ferros ainda representa isco de saúde pública pelo bairro.

Exército participou da operação de retirada dos pneus do local. (Foto: Arquivo/ Natalia Yahn)
Exército participou da operação de retirada dos pneus do local. (Foto: Arquivo/ Natalia Yahn)

“Tem dias que até rato dá para ver subindo aqui pela rua, barata, outro insetos e esse acúmulo de ferros logicamente pode agravar essa situação. É um incomodo que é nítido, mas não tenho muito a me queixar dele”, conclui.

A reportagem não obteve um retorno da CCEV (Coordenadoria de Controle de Endemias Vetoriais) – setor ligado a Sesau (Secretaria Municipal de Saúde) a respeito do processo de interdição do local.

Interdição – O ferro-velho da Rua Jatobá foi interditado na manhã do dia 2 de março deste ano, mesmo dia em que o proprietário do local foi preso em flagrante por crime de poluição ambiental, furto de energia e de água.

Mas desde o ano de 2010 o senhor José era notificado por irregularidades no funcionamento do ferro velho. Naquele ano a Prefeitura já havia notificado e interditado o ferro-velho, mas os serviços continuavam sendo realizados sem licença ambiental e alvará.

Em 2012, por exemplo, ele já acumulava mais de R$ 10 mil em multas, além de diversas queixas entre moradores que culpavam o local como um dos principais pontos de focos de dengue no Guanandi. O bairro, por sinal é um dos que mais tem ferros velhos em Campo Grande.

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